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Humor, crítica, crônica, comédia e sátira sobre o Rio de Janeiro, o Brasil e o Mundo |  Defendendo o humor inteligente do Capitalismo e do Aquecimento Global, antes que se torne brinde de pasta de dentes

segunda-feira, 24 de setembro de 2007



Uni-duni-tê

Coisa boa de se tornar um ser imerso na Internet é rir de tudo que se diz absoluto, correto. Você vê a tal campanha do Estadaço. A World Weird Web brasileira tem 15 milhões de ruivos de aparelhos contando mentiras pra pegar mulher gostosa. Já os jornais de "respeito" do país têm seus 15 editores-chefes, totalmente éticos, livres de comprometimento com picuinhas político-sócio-econômico-pessoais.

Quando eles publicam que os bancos financiaram a campanha do presidente eleito e esquecem de mencionar que os mesmos bancos também financiaram a campanha do segundo colocado, eles simplesmente estão otimizando o espaço jornalístico. Tal omissão não tem nenhum viés de associar lucros recordes dos bancos com a atual gestão do país.

Quando eles publicam que não se pode confiar em qualquer coisa que você lê, eles não estão dizendo que você também não pode confiar só no que alguém escreve. No fundo, você pode mentir omitindo a verdade ou contando apenas uma parte dela. Esse é o perigo de usar apenas uma fonte para se manter informado.

Pense bem, em que é melhor confiar: (a) num infinito de pequenas vozes semicaóticas e independentes ou (b) num seleto grupo de mega-corporações de mídia voltadas ao lucro e a sustentação de seus donos, acionistas e empresas afiliadas?

Acho que você já entendeu que a resposta não é imediata.

Vivo num embate com colegas sobre o poder de processos & métodos e o poder do talento. O que eu nunca entendi foi como a discussão ao longo da história colocou cada coisa em lados opostos da mesa: processos vs. pessoas.

O que é mais importante num carro? O volante, o acelerador ou o freio? Se você escolher um dos três, nem me ofereça carona!


PS: O Mamendex de hoje foi assim, pá e bola, rapidinho. Estamos testando um novo formato mais post, fast, mix, fashion, prime, ...

Gostou? Não gostou? Tanto faz? Comente, ligue, mande um e-mail, poste um vídeo-resposta, comunique-se!



Cutucada rapidinha

Apesar do esforço da Veja, não é que mais uma crise econômica mundial passou pelo Brasil que nem marola?

segunda-feira, 17 de setembro de 2007



Vergonha Nacional: Vamos dançar, Quadrilha!

O Brasil encena sua expressão de indignação enquanto descarrega toda sua frustração fazendo comentários bem batidos. "isso é uma vergonha (em maiúsculas, seguida de 231 exclamações, o que me recuso a escrever)". Ou "tudo isso é culpa do PT e do Lula (idem)". Se bem que nesse caso, nem dá pra discordar.

A absolvição de Renan foi muito articulada (eu não disse "muito bem", disse "muito") pelo governo, especialmente o Merdadante, que joga no ventilador o último resquício de chance de ser eleito presidente, governador ou mesmo síndico do prédio. Muitos estranharam que ele, depois de tanta luta para convencer os colegas a absolver o Canalheiros, afirme ter votado em branco (o que, diga-se de passagem, é racismo).

Ora, quê há de se estranhar nisso? Quem nunca colocou pilha fraca pra cima dos outros e depois se escondeu pra ver a mercadante que dava?

Surpresa também 40 senadores "confessarem" que votaram pela cassação, enquanto apenas 35 votos foram realmente computados. Devem se confessar na mesma igreja que o Renan agradece as graças recebidas. Ou será que foi algum problema com a urna eletrônica? Bug no sistema de contagem de votos? Ná, de que importa? Ninguém ficou chateado. Nem ninguém questionou se a votação secreta ainda faz algum sentido.

Mas porque afinal a O.P. (opinião pública) resolveu pegar no pé do Renan? Só porque, digamos, a Souza Cruz sustenta uma das suas famílias bastardas não quer dizer que você não possa por exemplo, votar a favor de uma lei que proíba o fumo. Tampouco quer dizer que você não possa ir à missa aos Domingos e ser um bom Católico.

Ora, Renan é gente como a gente. É mais um relator-de-conselho-de-ética-dos-outros-mas-que-segue-a-sua-própria-ética-duvidosa, como todo o brasileiro faz. Reclama da vergonha do imposto e sonega, reclama da vergonha da violência e consome drogas, reclama da vergonha do caos urbano e avança sinal, suja as ruas, estaciona em qualquer lugar.

Falando em imposto, além do pé do Renan, a OP resolveu pegar no pé da CPMF. Qualquer trabalhador paga por mês mais IPI e ICMS do que paga de CPMF por ano. Se bebe e fuma, pior ainda! É só pegar sua conta de luz, gás, telefone, verificar a carga tributária das suas compras no supermercado, nas suas bebidas e cigarros, e você vai ficar surpreso. Sem falar em IR de 27,5% !

Mas a CPMF é o imposto que mais incomoda, justamente por seus maiores benefícios: é transparente, direta, você sabe quando, quanto e porque está pagando. E o pior: afeta a todos sem exceção, o pobre e o rico. Querem acabar com o imposto mais moderno, ao invés de acabarem com os mais caducos, caros, burocratas, injustos.

Por que afinal a campanha contra CPMF é tão bem veiculada em jornais e revistas, com direito até a horário no Fantáartico? Com o absurdo da taxa adicional de IR (que também qualquer dia vira "provisória", já que é "adicional" há milênios) ninguém se preocupa em acabar, já que é patrioticamente sonegado pela elite do país.

Mas esqueça os problemas e vamos falar de coisas boas: qual será nossa cara de surpresa quando Cacciola chegar ao Brasil já de habeas-corpus na mão? (Como assim, só porque fugiu da última vez não pode sair em liberdade provisória novamente?)




PS: O quê? Você é contra impostos? Manda e-mail pro Garotinho, ele é contra os juros... Quem sabe vocês não criam uma comunidade no Orkut.






Mais Opinião Pública

Qual será nossa próxima grande Vergonha Nacional:

( ) Uma colisão entre o Trem Bala Rio-SP com um avião da Webjet
( ) Tapetão com direito a CPI no Campeonato Brasileiro e Clube dos 13
( ) Uma CPI sobre as últimas CPIs
( ) Cacciola senador e líder do conselho de ética
( ) Rubinho dando passagem ao campeão da temporada de F1

Tá, essa última é pegadinha...

quinta-feira, 6 de setembro de 2007



King Kong na terra dos Simpsons

Dizem que quem não conhece o passado está condenado a cometer os mesmos erros repetidas vezes.

Mais estranho é que, mesmo conhecendo bem o passado, existe gente com essa tendência masoquista de errar tudo de novo e outra vez. Eu mesmo, de tempos em tempos, cismo que posso fazer determinadas coisas que só me causam estresse e dor de cabeça, não necessariamente nessa ordem.

E quem foge de cometer os mesmos erros, acaba por conhecer erros novos. O que, convenhamos, é o que faz a vida valer a pena.

Todo mundo deve ter visto pelo menos uma das versões do filme King Kong (este, ou este, ou este). De como ele é retirado de sua vida de rei na sua pequena e remota ilha para ser atirado aos lobos e tubarões da grande e movimentada Nova Iorque.

O que poucos sabem é que, na verdade, King Kong não foi capturado, por assim dizer. Conste para o bem da verdade que o gorilão-rei foi convencido a tentar carreira na Broadway, graças à lábia do capitão do navio e a sua ambição de ver o mundo e influenciar toda uma geração. O resto da história é uma catástrofe, seguida de uma tragédia.

Após o hype e seus 15 minutos de fama, o macacão logo caiu no esquecimento - em parte graças à estréia de O Fantasma da Ópera. Num turbilhão de depressão, drogas e alcoolismo, Kong seqüestra sua ex-mulher enquanto é perseguido por metade da NYPD.

Todos choram ao ver o simpático gorila de 10 metros de altura ser alvejado pelos modernos aviões da US Air Force, mas a parte mais triste pra mim ocorre pouco antes: o início da subida ao Empire States. Esse é o momento decisivo. Enquanto estava nas ruas, Kong podia ser imobilizado, acertado com tranqüilizantes, sei lá. Mas após o 15º andar, não tem mais volta. Ele sabe que vai morrer.

Muitos se perguntam se ele fez isso para ver um último pôr do sol. Por que ele não decidiu simplesmente fazer as malas e voltar pra seu pequeno reino distante, fazer o milésimo gol e encerrar a carreira num time de várzea qualquer?

O fato é que Kong sabia que estava condenado a cometer os mesmos erros. E a morte não é opcional.

Lembrei do Big Ape em Big Apple porque lembrei de mim numa terra distante, perdido numa noite fria.

Era o primeiro dia de neve do inverno, acompanhado da minha primeira noite de neve na vida. Estava ansioso pra voltar ao apartamento - seria a segunda vez que cumpriria tal trajeto - mas a cidade era bem sinalizada, então não tinha erro.

Saí do estacionamento, peguei a esquerda e segui até a rua principal. No sinal, entrei à direita. "Beleza, é só esperar passar a 18 mile e manter a esquerda, contornar na primeira que aparecer".

Quando finalmente avistei uma placa, eu congelei. Coberta de neve, o nome da rua era impossível de enxergar. Todas as placas de trânsito estavam assim, digamos, em branco.

Lutei muito até me considerar perdido. No primeiro posto de gasolina que avistei, parei e corri ao telefone.

Ah, meu primeiro contato com uma noite a -11° C...

Fui procurar o telefone do Paul para pedir ajuda. Mas era difícil tirar o papel do bolso com as luvas cobrindo os dedos e tremendo como uma máquina de lavar velha. Como as luvas de longe não eram apropriadas praquele frio, resolvi arrancá-las.

Pronto, telefone na mão, seguiu-se a tarefa de discar os números. Lambia os dedos entre uma tecla e outra. Errei só duas vezes até finalmente acertar toda a sequência.

Pontas dos dedos doloridas, é hora de colocar as moedas. "Minha nossa, se uma cair no chão coberto de neve eu não acho mais e não consigo ligar pra ninguém". Pensei pela segunda vez que talvez fosse morrer ali... Ensaiei uma posição mais digna para ser encontrado.

A última moeda encaixa perfeitamente, o telefone chama, ele atende. "Paul, sou eu. Acho que tô perdido". Um instante doloroso de silêncio, ele responde: "Humm, já tô em casa, do outro lado da cidade... Faz o seguinte, tenta se informar por aí, se você continuar perdido me liga de novo".

Pra quê mencionar que minhas moedas tinham acabado, ou que minhas unhas estavam roxas, ou que minha cabeça já doía (novidade...) de frio?

Entrei na lojinha do posto. Até já tinha esquecido como era bom se sentir aquecido... O rapaz (com cara de paquistanês), com a ajuda de uma menina (com cara de americana) começa a me explicar. Dada minha expressão (com cara de "entendi xongas"), começam a desenhar um mapinha, perguntam se eu era mexicano - "Não, brasileiro" - me entregam o papel e desejam boa sorte. "Qualquer problema, volta aqui". Eu não sabia nem se conseguiria voltar.

A noite cinza e branca avançava enquanto eu entrava no carro.

Eu ainda não sabia, mas a bonita ruela, típica dos subúrbios americanos, com suas caixas de correio e enfeites de Natal, iria aparecer logo em seguida e me guiar para o apartamento.

Pensando bem, alguns erros a gente se arrepende é de não poder cometer mais vezes.