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Humor, crítica, crônica, comédia e sátira sobre o Rio de Janeiro, o Brasil e o Mundo |  Defendendo o humor inteligente do Capitalismo e do Aquecimento Global, antes que se torne brinde de pasta de dentes

terça-feira, 3 de outubro de 2006



Retrospectiva 2006

Confirmando o pioneirismo desta coluna, e aproveitando que é pouco provável que um novo número seja publicado até o fim do ano, estamos publicando hoje o especial Retrospectiva 2006.
Dois mil e seis. Ano de Aquário. Ano do Cachorro. Ano Internacional da Desertificação. Como ficará conhecido esse ano no rol da História dos Anos da Humanidade? Quem se destacou, quem desapareceu? Quem ganhou, quem perdeu? Enfim, chega de lenga-lenga e vamos para os fatos:

Janeiro - A NASA lança uma sonda a Plutão, planeta que mais tarde seria alvo dos paparazzi de plutão. Digo, plantão. Erro Morales, digo Erva Morales, assume o governo boliviano. O Rio de Janeiro fica debaixo de um dos maiores temporais que se tem registro. Aliás, também não há registros desse, foram todos levados pela enxurrada. No Oriente-Médio, Olmert é novo primeiro-ministro de Israel, após derrame de Sharon. Vários muçulmanos protestam.

Fevereiro - Stones no Brasil. Quer dizer, no Rio. Milhões de pessoas na praia assistem ao show pelos telões instalados para a galera não-vip-vip-vip. No Oriente-Médio, vários muçulmanos protestam. U2 no Brasil. Quer dizer, em São Paulo. Milhões de pessoas na fila tentam comprar os poucos ingressos disponibilizados aos não-vip-vip-vip. Nadam, nadam e morrem na praia.
A Apple vende a bilionésima música pelo iTunes. No Oriente-Médio, vários protestam.

Março - Slobodan Milosevic morre misteriosamente de ataque cardíaco em sua cela, possívelmente devido ao enorme esforço de amarrar suas mãos nas costas. O ETA anuncia o fim da luta armada e o início da luta política, deixando a população espanhola ainda mais aterrorisada. A Rádio Cidade do Rio acaba e no seu lugar entra mais um produto medíocre campeão de reclamações da francesa Telemer. Após anos de dedicação e esforço, o Brasil finalmente vai pro espaço! O acontecimento, inocente à primeira vista, vai acarretar sérias transformações no sistema solar... No Oriente-Médio, vários protestam.

Abril - O presidente do Irã confirma ter um punhado de Urânio enriquecido em suas mãos e bolsos. A Itália se livra de Berlusconi. Antonio Garotinho começa greve de fome, que não iria durar muito... No Oriente-Médio, vários protestam.

Maio - Em pleno dia mundial do trabalho, o presidente boliviano Erva Morales se dá ao trabalho de nacionalizar o gás boliviano e tomar as instalações petro-gasíferas do país. O Brasil protesta, a Argentina comemora e aproveita a situação pra zoar da cara do Brasil. Mais tarde no ano, o presidente boliviano iria entregar parte das reservas evo-moralenses à estatal hugo-chaviana. Nas paradas, Marcollah e o Primeiro Comando agitam São Paulo. Na guerra entre gangues, trocentos mortos na gangue do PCC, outrocentos na gangue da PM, e muitocentos na gangue do PF - Povo Fudido. No Oriente-Médio, vários protestam.

Junho - A Copa do Mundo da Alemanha começa e tudo o mais pára. Comerciais de material esportivo tomam o noticiário. O time da casa supera as expectativas e chega a final, perdendo porém para o futebol tosco-italiano. Brasil e Argentina dão finalmente as mãos e saem como o mico da copa. O Escândalo do Meião, como ficou conhecida a falha do sistema defensivo brasileiro, custou o emprego do técnico Parrêra e as medalhas dos figurões da seleção verde-amarelona. Zidane é o nome da Copa e se aposenta sem o título mas como o resposável pelo melhor lance da competição: a linda cabeçada no cabeça-de-bagre italiano Matarazzo. Em Brasília, um dia de fúria: um grupo do MSLT (Movimento do Software Livre na Terra) invade a Câmara e faz o que todo brasileiro quer fazer há muito tempo! (Ah, uma dessas por ano... e quem sabe os políticos não entram nos eixos?) No Oriente-Médio, vários protestam.

Julho - Adolescentes morrem em acidente de carro e o presidente do Detran cria a lei que proíbe a capotagem de carros. Começam as eleições no México, que não iriam terminar tão cedo... Dunga e os Seis Anões assumem a seleção Canastrinha. Em Cuba, Fidel entra de licença médica. Israel invade o Líbano após ser atingida por mísseis lançados pelo grupo terrorista e banda de axé-music Rezbolla. Vários muçulmanos protestam.

Agosto - Mais uma nova denúncia de mais um novo escândalo surge novamente outra vez, envolvendo governo, oposição, deputados, senadores, assessores, gabinetes, candidatos, direita, esquerda, centro, centro-esquerda e zaga-central. Eu não entendi bem os detalhes, mas no ano que vem ninguém vai lembrar mesmo... Plutão é rebaixado a planeta-anão. Anões e astrólogos protestam.

Setembro - O Papa Benedito XVI lê, durante um discurso, texto medieval atribuído a Bizantino, que diz que "os seguidores de Maomé são intolerantes e violentos". Em resposta, vários muçulmanos vão às ruas, protestar, queimar bandeiras e assassinar freiras somali de 65 anos. A Al-Qaeda diz que o mundo cristão irá tombar e que a jihad vai continuar até que todos sejam mortos ou convertidos ao islã, e exigem que o Papa "cruzado adorador da cruz" peça desculpas. O Papa pede desculpas. Os muçulmanos então, protestam, queimam bandeiras e exigem mais desculpas. Um mini-golpe-relâmpago ocorre na Tailândia e o reflexo atinge as bolsas ao redor do mundo. O vôo Gol 1907 cai nas proximidades da base militar da Serra do Cachimbo após colidir em pleno ar com jato Legacy americano, que aterrissa quase intacto. O FBI designa Fox Mulder para o caso.

Outubro - As eleições correm como sempre, alguns presidentes de seção são presos por atraso ou embriaguez como sempre, reportagens sobre a entrega de urnas eletrônicas para as comunidades ribeirinhas do Amazonas vão ao ar como sempre e a apuração ocorre em novo recorde, como sempre. Políticos corruptos de sempre são eleitos. Como sempre. Geraldo Chuchú desiste da candidatura, anuncia greve de fome e aceita apoio de Antonio Garotinho. Alguns muçulmanos protestam contra a publicação da retrospectiva 2006 em pleno Outubro.

Novembro - Como a retrospectiva já foi ao ar, a partir daqui é tudo previsão desta coluna. O povo interrompe o churrasco e volta às urnas para decidir quem afinal vai comandar as falcatruas nos próximos 4 anos, renováveis por mais 4. No Oriente-Médio, vários protestam.

Dezembro - O Natal bate recorde de vendas, bem como o número de cheques sem fundos. A economia parece que vai reaquecer agora que o presidente foi escolhido. A previsão do crescimento do PIB para 2007 é de 3,1415%. Matemáticos apresentam a equação do fenômeno: πB, que aliás, tende a zero. No Oriente-Médio, vários protestam.

O que esperar de 2007:
- Mais atentados no Iraque,
- Mais atentados no Afeganistão,
- Mais terremotos na Oceania,
- Mais um presidente sem maioria no Congresso,
- Mais denúncias e escândalos no Brasil,
- Mais uma gravidez de Britney Spears,
- Algumas colunas novas no Mamendex...
- E no Oriente-Médio, mais protestos.


Queremos aproveitar o momento para sermos os primeiros a desejar a todos:

Um feliz Natal e próspero 2007 !

sexta-feira, 8 de setembro de 2006



Ligaram o foda-se

Nas últimas semanas recebi milhares de e-mails, ligações e até -- acreditem -- cartas, daquelas enviadas via Correios. Muitos queriam saber por onde andava, o que estava acontecendo. Mas a maioria só queria mesmo dinheiro emprestado, ou me emprestar dinheiro a juros módicos!

Respondendo a dúvida do primeiro grupo, tive que me ausentar em prol de um projeto muito importante, que exigiu toda minha dedicação e talento. Infelizmente à conclusão dos fatos, saio sem glórias, com a viola no saco, a experiência adquirida, as histórias pra contar, e uma pequena fortuna em material de escritório roubado.

Fui encarregado este ano da defesa do (ex-)planeta Plutão. Fui líder de uma equipe que reunia várias pessoas e muitos advogados. Fizemos um bom trabalho, contamos boas piadas, criamos um excelente material; porém, venceu o lado mais forte, que contava com a mídia -- que há muito queria alguma novidade na seção de Astronomia e Astrologia (sim, são uma editoria só) -- e o poder econômico -- que leva assim os processos de downsizing e reengenharia, tão fora de moda no noso século, para novas fronteiras, onde o homem jamais esteve.

Embora estivesse confiante na vitória, não posso dizer que foi uma perda total. A companheira de Plutão, Caronte, foi reconhecida como legítima e agora tem direito ao plano de saúde. Meu cliente já foi sondado para ter sua história narrada em vários filmes e livros, participar de vários programas de auditório e dar palestras a empresários milionários.

Só que a falta de visão de quem sobe os degraus da escada gerencial do mundo corporativo é tão inexorável quanto a gravitação universal. Às vezes eu imagino que uma nebulosa vai se tornando mais densa no trajeto à gerência. Assim, após a representação deste grande caso, fui transferido para o setor de contabilidade de caixa 2 para candidatos a deputado federal, conhecido como a carne de pescoço das atuariais.

Assim, estou num imenso dilema ético, face a um abismo profissional: comunico à alta gerência da corporação a minha discordância quanto a alocação, enquanto procuro por novas encheções-de-saco e problemas (quer dizer, novas oportunidades e desafios); ou, se procuro por novas encheções-de-saco e problemas enquanto comunico à alta gerência da corporação a minha discordância quanto a alocação.

Jerry (como foi batizado o rato aqui do escritório) tem me aconselhado muito. Ele acredita que a ética profissional não é uma coisa universal. Um dos autores do clássico Quem Mexeu no Meu Queijo, ele afirma que cada civilização tem suas próprias crenças e axiomas, geralmente derrubados pela geração seguinte. Por exemplo, um escravo da construção das pirâmides acharia engraçado se alguém insinuasse que um dia seria obrigatório por lei, pausa para almoço, banheiro, água e café no ambiente de trabalho. Da mesma forma que eu acharia engraçado se o técnico virasse para o ponta-esquerda instantes antes do apito inicial e dissesse que, após profunda meditação tântrica, acha melhor ele jogar no gol.

Indignações à parte, Jerry insiste que, num processo relacional como o emprego, face aos limites da dialética entre o trabalho e a gerência (isto é, entre o esforço e o esporro), vale a regra de ouro: os incomodados que se mudem.

Era o empurrão que eu precisava.

Fiquei sabendo de uma vaga e enviei meu currículo para o grande amigo Caixa D'Ágüa, conhecido como "Caxágua". Grande homem, grande brasileiro. Me faltam adjetivos. Ele veio a falecer no dia seguinte, pouco antes de anunciarem a contratação do Dunga, que já botou 4 dos 6 anões pra dentro (no mau sentido), quebrando outra regra de ouro: funcionário indica 1, gerente indica 2 e diretor indica 3 no máximo.

Confesso que a notícia me deixou muito triste (a do Dunga, não a do Caxágua). Estava animado com a possibilidade de ser mais um técnico de seleção brasileira que não sabe nada de futebol.

Foi então que surgiu, no meio da minha pilha de correspondência não lida (leitores, um dia eu ponho em dia!) uma carta em japonês com a firma de uma empresa muito conhecida. Não precisei de tradução para reconhecer o gordo cheque e a passagem de ida e volta para Tóquio, anexados à carta. Mas também não é essa a oportunidade que eu procuro... Mil perdões, meu amigo Kutaragi, mas porta-voz do projeto Playstation 3, a essas alturas?!?! Meu japonês não dá pro gasto. Mas até o PS4 eu chego lá!

Outras possibilidades apareceram, seja por carta, e-mail ou nos Classificados. Mas todas caíam num outro problema clássico: eu teria muito a contribuir. Não se enganem, leitores, nunca aceitem um desafio ao qual você tem muito a agregar. Lembre do caso daquele funcionário que foi demitido logo após a contratação na fábrica de automóveis que inventou o limpador de pára-brisas, por insistir que estes deveriam ser posicionados do lado de fora. Terceira regra de ouro do dia: em terra de cego, quem tem um olho tá errado (ou vale metade, como interpreta minha ex-tia).

O desespero bateu. Confesso que já vejo os balanços desbalanceados e as duplicatas duplicadas se acumulando na minha mesa, aguardando o carimbo, a rubrica, a xerox autenticada das 5 vias... Não, não vou desistir!

O importante é que conseguí priorizar minhas pendências e abastecer meus 4 leitores com notícias do front. Rumo agora para os Estados Unidos, negociar a creche da filha de Tom Cruise e Katie Holmes. O lance inicial é US$10 mil...


Até a coluna que vem, com a Retrospectiva 2006!



Eleições 2006 - participe... mas não seja cúmplice!

Face a vários e-mails que circulam, vale esclarecer que de acordo com o presidente do Tribunal Superior Eleitoral (TSE), Marco Aurélio Mello, não existe (infelizmente) qualquer possibilidade de uma eleição ser anulada pelo número excessivo de votos brancos ou nulos que, para fins eleitorais, são iguais e medidos apenas para estatística. Assim, uma eleição só seria anulada se todos os votos fossem brancos ou nulos (ou seja, se nem os próprios candidados votassem neles mesmos). Não vou colocar o link aqui, mas existe um bom site no Terra a respeito deste assunto.

Contribuindo ainda mais para a grade festa da Democracia brasileira, está disponível abaixo um simulador de urna eletrônica, para que você não tenha dúvidas na cabine e possa ir mais cedo à praia:

Para Deputado Federal voto para:

9901 - Um estuprador trabalhista
9902 - Um estuprador democrata-cristão
9903 - Um estuprador social-democrata
9904 - Um estuprador ecologista
Branco-Todos os anteriores

Digite o número do seu candidato e puxe a cordinha para enviar seu voto!

sexta-feira, 12 de maio de 2006



Haja paciência!

Chego em casa, pego a correspondência e puxo assunto com o porteiro:

- E aí, Zé, terminaram de demolir o prédio?
- Como assim?
- Acordei hoje 8 e meia e o prédio parecia estar sendo demolido comigo dentro. Corri logo pro corredor.
- É, tá em obra a coluna 1, no sexto e no quinto.
- É, mais uma. Essas obras não acabam nunca?
- Ah, tá acabando já...

Pego o elevador, que esqueceu e pulou o meu andar, indo até o décimo-sétimo. Desço traqüilamente, sem revolta. O papel de parede dos corredores está todo arrancado e rabiscado pelas crianças do prédio. O pessoal do andar desistiu de reclamar ou pagar pela manutenção (que o condomínio não se responsabiliza).

Prendo a respiração. A inhaca no corredor está demais. Meu vizinho cria 4 cachorros: um labrador, um pastor alemão, um poodle e um morto, que fede 24 horas por dia, 7 dias por semana. Quando aquela porta abre é um Deus nos acuda. Não tem Bom-Ar ou desinfetante que dê jeito naquele corredor. Tô pra deixar umas máscaras de emergência penduradas. Ainda bem que não é vizinho de porta, ou janela, a outra vizinha reclama de carrapato na varanda dela, que nem cachorro tem...

Com uma pausa rápida pra respirar ar puro de dentro da Lixeira, entro em casa e bebo água, enquanto leio a correspondência. "De acordo com Assembléia e em virtude da alta conta da Cedae e da impossibilidade de acordo judicial para cobrança de atrasos de unidade, o condomíno está sendo reajustado para 400 reais".

Puta que pariu! O amigo leitor me desculpe. Mas PUTA QUE O PARIU! [Aliás, por que alguma pessoas tem a mania de falar "PUTA" alto e "que pariu" baixo? O palavrão é "puta", "que pariu" (versão curta) ou "que-o-pariu" (versão detalhada) não constituem palavrão em nenhum caso]

Voltando ao assunto, puta que o pariu! Vejo a prestação de contas do condomínio, pelo menos 3 unidades estão pagando multa (de 10 reais!) por atraso, pelo menos 5 unidades simplesmente não estão pagando multa nem atraso, e ainda há uma unidade isenta de condomínio (sabe lá Roberto Jefferson por quê).

Outro trecho me chama a atenção: "Abril/2006 - Obras em andamento: 11". Cacete! 11 obras em andamento num mesmo prédio! Haja vazamento, haja conserto e haja conta de água. Quanto mais consertam vazamento, mais a conta de água aumenta. O presidente da Cedae deve morar no meu prédio. 11 obras e um segredo.

Toca o interfone:
- É o Zé, é pra avisar que vai cortar a água dos dois banheiros em 10 minutos.
- Ué, mas por quanto tempo?
- Ih, até amanhã. De repente o fim de semana todo. Tá com um vazamento feio no 1o. andar...
- Mas são 18:30! Vou ficar sem banheiro até amanhã??
- Ah, se correr dá tempo ainda...

Abro a janela pra respirar um pouco. O cachorro chato da vizinha está latindo pra chuva. Ou pros carros, vai saber. O lance é latir o tempo todo. Uma vez eu cronometrei: foram 40 minutos de latido ininterruptos. Seria um recorde? Anotação mental: pesquisar sobre os cachorros mais chatos do mundo.

Um som de bateria entra junto do latido: crassh!, tum-tum!, crasssh!! Acho que vem daquela casa estranha da rua da frente, acho que tem um curso de música lá. Mas peraí!! Tô ouvindo som de bateria da rua de trás também! Era o que faltava, tem uma banda nova no bairro, ensaiando na rua que dá nos fundos do prédio. Quase não dá pra ouvir nada, exceto a bateria, que por sinal é bem limitada. O prato de 19" não deve ser novo, o cara chega a dar uma pausa antes de arrebentar a baqueta nele. É só o que se ouve da banda: crasssh!

O som das crianças no play não incomodaria tanto, se não fosse pela música que eles têm que ouvir nas alturas. Geralmente as mesmas cinco músicas, repetidas horas a fio. Pelo menos é desligado as 22:30, diferente de algum lugar misterioso de onde se ouve um som grave e irritante a madrugada inteira, geralmente nos fins de semana.

Acordar ao som de marteladas, dormir ao som de baterias, pagar 400 pratas por mês pra viver num prédio de caloteiros com um elevador caduco, um corredor fedorento e latidos intermináveis, e ainda por cima sem poder usar o banheiro.

E tem gente que reclama de bala perdida...


PS: Às bandas do bairro, toda a sorte do mundo! Que façam sucesso e se lancem, de preferência, em carreira internacional (bem longe de casa!).


Rio em cena

Acabou a greve de fome do Garotinho. O regime fez muito bem, pagou parte dos pecados, ficou bem melhor aparentado, mais saudável. A Rosinha é que tá desesperada agora, vai ter que perder uns 10 kg pra segurar o marido...


Projeto de Projeto de Lei

A Assembléia Legislativa vai ao programa do Faustão pra iniciar a pesquisa: Depois do vagão feminino, qual deve ser o próximo vagão especial nos trens e metrôs?

- Vagão GLS
- Vagão de quem canta, assovia ou ouve música alta
- Vagão de quem tá com mais pressa
- Vagão de quem não tomou banho
- Vagão sem bancos para idosos: afinal o que eles estão fazendo num trem na hora do rush??


Ajuda

Isso é sério. Quem trabalhar ou tiver contatos na Vivo ou Anatel por favor entrar em contato pelo email mamendes@bol.com.br. Minha esposa tem recebido contas (na faixa de 900 reais) de um celular que ela cancelou em 2001. Algum pilantra reativou a linha (no nome dela) e está fazendo ligações astronômicas... E a Vivo, que está 'investigando' há uns 4 meses ainda nem sequer bloqueou a linha !!!!

quinta-feira, 4 de maio de 2006



Hay que endurecer

Rio de Janeiro, Bar Luis, noite de quarta.

- Garçon, trás um conhaque.

Pego a caneta e o caderno e começo a fazer as anotações. Acendo o charuto, recosto na cadeira e visualizo a outra meia dúzia de clientes do bar.

Foi uma semana agitada, e eu não tive tempo de escrever. Garotinho fazendo greve de fome, a Bolívia tomando a Petrobrás, o caseiro pedindo uma aposentadoria milionária de indenização, deputados gastando Iraques de petróleo em cotas de gasolina, as obras do Pan que vão ficar prontas na semana de abertura do evento, o país adquirindo a auto-insuficiência e, finalmente, o Chico confessando que fuma e brocha.

Infelizmente todas as boas piadas já foram usadas. Só me resta lamentar os ocorridos. E talvez um plágio ou outro.

- Garçon, me vê aquela porção de milanesa e salada de batata.

Garotinho, esse grande gênio da política, religião e rádio-difusão, o grande mentor da grande Rosinha, essa futura Senadora, futuros santos-beatos já em processo de canonização. O aprendiz que roubou o apelido do mestre. Esse mesmo. Face à complexidade do mundo e a pouca fé da Humanidade, esse grande homem público, lembrando ídolos como Gandhi, resolveu de forma nobre entrar em greve de fome e doar as suas 3 refeições diárias aos famintos, enquanto não acabarem as guerras no mundo, a poluição do meio-ambiente e enquanto a TV brasileira não reprisar a série Chips.

Tão bombástico quanto o regime do Garotinho ou o cancelamento do show do Zeca na festa de comemoração da auto-suficiência em petróleo do país, foi a ocupação, uma semana depois, das instalações da Petrobrás pelas tropas de elite do presidente-índio-cocaleiro Erva Morales. Erva tomou a decisão após reunir-se com seu gabinete e tomar um cházinho para abrir as idéias. Em seguida, acionou 100 soldados (metade do contigente do país), munidos de tacapes, pedras e aquelas flautas de bambú -- armas típicas dos índios bolivianos. Cercaram as instalações brasileiras e ficaram tocando na porta até que alguém comprasse um CD -- ou cedesse o controle dos prédios.

Desde a ocupação vários especialistas surgiram explicando quando e como nosso país errou ao importar a matéria-prima do nosso vizinho gasoso. "Foi mexer com gás deu nisso". Outros afirmam que foi-se a época em que era fácil passar a perna em índio. "Não existem mais bobos no futebol, e nem no setor energético", afirma um técnico da área.

Mas os problemas não acabam por aí. O determinado Erva pretende, a médio prazo, acabar com todas as reservas de gás do país (acendendo um fósforo nas minas) e plantar coca em tudo o que sobrar. Os gasodutos seriam aproveitados e convertidos em cocadutos, distribuindo de forma rápida e barata a especiaria boliviana.

Diplomatas brasileiros trabalham num acordo que possa garantir resultados para ambos os lados. Alguns estudam a possibilidade de devolver o Acre à Bolívia, em troca das minas de gás. Outros países estão oferencedo acesso ao Pacífico, ao Atlântico e até ao Índico aos bolivianos. Movimento no Orkut exige a anexação do país vizinho, antes que a coisa piore. Pela política externa do nosso governo até agora, porém, o mais provável é exatamente o contrário...

Portanto vá caprichando no seu espanhol, compre o CD alí na São José, e acostume-se ao prazer de um bom chá direto dos Andes.

- Garçon, o café e a conta.


Polêmica

Trecho divulgado do Evangelho Segundo Judas:

"Vesti uma roupa bem quente e, debaixo do Sol escaldante, repeti tudo que ouvistes à exaustão. Espalhai-vos e gritai aos brados, em toda praça ou esquina, a assim chamada palavra do senhor. Gesticulai em excesso, enchei o saco dos transeuntes, xingai as outras religiões e mencionai o nome dos Santos e do Capeta em alto e bom som."


Cena carioca

No matagal que ocupa o espaço onde será o Velódromo do Pan, várias autoridades da Cidade, Estado, União e inclusive internacionais, acompanhadas de perto pela Imprensa, todos munidos de capacete, declararam-se satisfeitas com o andamento das obras (!).

A pergunta que não quer calar é: pra que servia o capacete? Não havia nenhuma estrutura de pé no local!

quinta-feira, 13 de abril de 2006



Você chama isso de m.?!?!

Um amigo me pára na hora do almoço e pergunta: "Você sabe o que é m.? M. é quando o sistema dá pau por causa de alguém (viado e fdp) e você (corno) é o cara que tem que descobrir e contar pro cliente que nem sequer o backup pode ser restaurado".

Após o almoço, de volta ao escritório, ainda ria da cara dele quando os auditores chegaram e fizeram um sorteio pra ver quem seria o Cristo daquela semana: eu. "Você chama isso de m.?" - gritei pro meu amigo, que se dobrava de rir com o agora pequeno problema de backup.

Todo mundo já recebeu aquele e-mail com as frases que tipicamente antecedem à m., tipo, "Isso nunca deu errado antes", "Confie em mim", "Meu marido só volta à noite", "Faz se tú é homem", ou "Vou votar nesse porque ele rouba mas faz". Mas nunca ninguém fez um estudo aprofundado.

Resolvi me aprofundar no tema. Como a definição de m. tem evoluído ao longo da história? Uma m. nos anos 70 era pior ou melhor do que uma m. do século 21? Como será a m. do futuro? Tudo isso essa quinta no M. Repórter - reprise sábado no M. News e domingo no M. Espetacular.

Primeiro vamos a um pequeno glossário para colocarmos todos na mesma página:

M. - acontecimento que afeta uma ou mais pessoas de forma negativa.
Chefe - nunca é responsável pela m., embora cause várias por dia
Viado ou fdp - cidadão causador da m.
Corno - consertador de m. ou afetado por ela.
Hiena - aquele que gosta de m. e lucra com ela. Vide consultor, auditor, advogado.
Meia-vida - o tempo que a m. leva para perder metade do seu efeito.

A primeira m. da história da humanidade foi, sem dúvida, Adão comer a maçã da árvore do pecado. Sim, Adão, porque Eva com certeza só levou a culpa por que chegou por último no Paraíso.

Mas ainda antes disso algum dinossauro fez m. e acabou com toda uma era. Talvez ele também tenha comido algo que não devia.

Ao longo dos tempos, as m. vêm ganhando maiores proporções. Você pode se perguntar o que seria maior que destruir quase toda a vida na Terra, porém se os dinossauros não podiam raciocinar, também não podiam apreciar a m. do mundo acabando ao se redor.

A m. seguinte foi o rapto de Helena de Tróia, digo, para Tróia. Essa m. não só destruiu a cidade, como foi responsável por várias m. na seqüência, como a fundação de Roma, o filme horroroso estrelado pelo traseiro de Brad Pitt.

Roma, responsável por várias m., iria inventar a burocracia e o serviço civil, iria destruir a biblioteca de Alexandria, antes de ruir pelo peso de sua corrupção e eleger o Berluscollini.
Várias m. na idade média: Cruzadas, invenção do divórcio (e por conseqüência, da ex-mulher), a Inquisição e a caça às bruxas.

Na Idade Moderna, um assassinato de um príncipe qualquer causou uma grande m., digo, guerra, que causou outra, e que não melhorou em nada a m. fria. O homem vai para o Espaço, pisa na Lua e cria assim a m. espacial. O mundo se globaliza e as m. se intensificam. O Terrorismo e o Anti-terrorismo surgem e desde então é m. atrás de m.

No Brasil, a m. evolui ao longo do tempo em ordem exponencial:

M. na década de 70 - a Ditadura e a Censura, que proibiam o uso da expressão "m."
M. na década de 80 - o Brasil perder a Copa de 82
M. na década de 90 - Collor e o confisco e da poupança; FHC e a alta dos juros
M. no ano 2000 - As contas erradas das empresas de telefonia celular; Lula e o Mensalão; Seu filho menor de idade usar seu micro para crimes digitais;

Graças ao processo privatizatório das telecomunicações, grandes empresas surgem: Telemerda, Merdofônica, Brasil Merdacom. Vários novos serviços de m. surgem no país. TV a cabo, celular, conexão banda larga e tantos outros serviços caros e que raramente funcionam. Nos bastidores, vários "funcionários" sem vínculo empregatício e recém saídos da faculdade processam as faturas e as cobranças destas empresas, de domingo a domingo, horas e horas a fio, num processo que mais faz lembrar a indústria de tear inglesa ou as usinas de carvão russas do início do século (passado).

O Marketing também evolui, de foco no produto para foco no cliente e, mais recentemente, de foco no cliente para foco na m. O Call Center evolui e você agora recebe ligações no domingo à noite oferecendo outro cartão de crédito de m.

Nos escritórios as m. estão de vento em popa. Chefes de m., funcionários de m., produtos de m., consultores de m., todos juntos oferecendo a seus clientes o supra-sumo e o estado da arte da m. Estagiário então é igual ao Edmundo: tá esperando pra fazer m! Na área de informática, m. é uma filosofia de vida, onde um software de m. vale milhões, muda uma empresa inteira, mesmo sendo uma m. e sem nunca cumprir o que promete.

Mas a vida segue, o ano de 2006 nem chegou à metade, e só nos resta torcer por m. melhores e observar de perto a programação de m. das TVs abertas. Ah, e claro, fazer nossas apostas no Romário ou no Pelé para ver quem chega primeiro ao milésimo filho ou à milésima m...


O Evangelho segundo Suzzane

Não só a mídia, a sociedade, os formadores de opinião, os profissionais liberais, os políticos e os criminosos, mas também o povo brasileiro ficou impressionado com a entrevista do Mário, advogado de Suzzane Rich, interpretada pela própria, ao Fantáástico. Apesar do choro sem lágrimas e o balbuciar repetitivo e inaudível, a patricida garantiu sua vaga na novela juvenil Malhação 2007 - que mudará seu cenário para o presídio feminino do Carandirú.

O advogado porém, ficou indignado com a falta de respeito à sua privacidade com sua cliente gostosinha. "Chora, neném, chora! Isso berra! Faz careta agora!" - Frase dita pelo advogado ao pé do ouvido de sua cliente, porém cortada da edição da entrevista. Que injustiça!

Mário teria arranjado a entrevista para mostrar o dia-a-dia de Suzzane, seus hábitos, seus livros e discos, os passarinhos que cria, e outras atividades que pratica enquanto não está fazendo sexo grupal com bandidos ou matando os pais.

A Globo disse que ao perceber a farsa não lhe restou alternativa a não ser denunciá-la. Foi uma questão de ética jornalística. Resta então saber qual é a alternativa ética para até hoje não se mostrar os bastidores da ligação entre o futebol carioca e o tráfico...

quinta-feira, 16 de março de 2006



E a gripe veio do espaço

Zomir era um funcionário exemplar do Laboratório de Pesquisa e Exploração Exterior, lotado no setor de Vida Primata e Inteligente. Chegava pontualmente na Segunda, saía pontualmente na Sétima e acessava os emails na Oitava, Sábado e até Domingo às vezes. Sua especialidade era Nano-Computação Viral, o que pagava muito bem especialmente para quem topava trabalhar em campo.

A vida de pesquisador embarcado não era das mais fáceis. Comer cereal colorido em caixinha, tomar um descafé sintético horroroso e beber água re-oxigenizada não eram exatamente refeições ideais pra alguém com tamanho apetite e apreciação culinária.

Ele tentava esquecer isso ouvindo seu iPod enquanto se concentrava no seu projeto. Era, ou melhor, seria tarde da noite se estivessem em casa, quando Thuir6 se aproximou puxando assunto.

- Estamos passando por Centauri Distante nesse momento. Espero que você não tenha comido muito no jantar... - disse, reticente.
- Por quê? A plataforma vai sacudir?
- Vento solar de Nêmesis. Na posição que estamos ele é terrível. Tempestades em toda seção esférica. O estagiário no ano passado vomitou o cubículo todo. Ninguém aguentou o cheiro e a gente teve que abrir as janelas.
- Só agradeço por não estarmos indo pro Sistema Solar, dizem que aquela porcaria do Helius causa câncer... Comentou Xiaut, que chegara momento antes.
- Ah, mas têm suas vantagens... céu azul, praia, mulheres bronzeadas...
- Você já esteve lá ?!?! - Zomir arregalou os olhos.
- Sim, pô, foi naquela auditoria do YbRT22, aqueles merdas do governo encheram nosso saco as 89 horas do dia e... - Nesse momento a plataforma começa a balançar - Ih, pronto, começou. Vou aproveitar pra deitar, não consigo falar com esse sacolejo todo. Me dá dor de ouvido.
- É, acho que vou fazer o mesmo. Até mais - despediu-se Zomir.

Mas ele não planejava dormir. Tinha muito interesse pela Via Láctea, especialmente o Sistema Solar. Durante toda a sua infância ele ouviu as histórias da guerra entre Helius e Nêmesis e cresceu ficcionado pelo assunto.

Impressionava a idéia de como a vida se persistia no Sistema Solar, mesmo com os ataques sistemáticos de Nêmesis. A grande Evasão Marciana de 1.234, as Grandes Destruições Terrenas, a Grande Mancha Vermelha de Júpiter, tudo era tão diferente do que conhecia. Lembrava das histórias do avô, que dirigia uma plataforma-tanque que, ao se chocar com um asteróide vazou 3 trilhões de litros de óleo na Terra. Por sorte a maior parte caiu no deserto, onde poucos Dinossauros se arriscavam. Ah, os Dinossauros... Tinha tanta vontade em conhecê-los. Eles eram famosos pela inteligência, por seu pacifismo e sua habilidade diplomática. Foram os Dinossauros por exemplo que negociaram a atual órbita do Haley, de forma a democratizar a distribuição de água pelos planetas do 4o. Universo.

Se ao menos houvesse alguma chance de visitar a Terra e conhecer seus ídolos... Mas como? Teria que haver uma maneira...

Adormeceu em meio a tantos pensamentos.

- Zomir, acorda! Acorda criatura! Levanta imprestável!
- Ah, o quê? Pô, Xiaut, parece até minha esposa mais nova...
- Vamos rapaz, não tá ouvindo o alarme de incêndio? Anda!

Zomir vestiu-se e seguiu Xiaut em silêncio, tenso com a situação de emergência e surpreso com a serenidade do companheiro. Xiaut, o mais velho a bordo, era Engenheiro Espaçonáutico, seu registro profissional lhe permitia contruir naves, plataformas, consertar televisão e projetar casas de até 18 andares. Dentro do projeto era responsável pela Segurança de Navegação.

Chegaram à sala de emergência e se juntaram a Thuir6. O alarme continuava.
- E pensar que eu troquei a bolsa de pesquisa em Andrômedra 9 por isso. Lá eu não fazia nada e ainda estava a menos de 10 anos-luz de casa... Choramingou Xiaut, logo após sentar-se.
- Tá querendo se aposentar já, velho? - Provocou Thuir6. Se na iniciativa privada tá puxado assim imagina só no emprego público...
- Vocês querem me explicar o que está acontecendo? - Zomir perguntou, quase que aos gritos.
- O sistema detectou um foco de incêndio e tá tentando resolver o problema. A gente tem que permanecer aqui até o sinal de que tudo está ok novamente.
- Mas onde foi esse incêndio?
- Eu sei lá, o computador que se resolva. Eu só saio daqui quando essa droga parar de apitar...

Assim que Thuir6 completou a frase o alarme foi interrompido por um anúncio do sistema:

"Mensagem 87742: sistema de propulsão precisa de reparo. Mensagem 87749: sistema de controle de incêndio precisa de reparo. Mensagem 44332: Rumo ajustado para unidade de assistência técnica S22X332B. Sistemas em modo de segurança. Todos os postos de trabalho devem ser retomados. A Kronne Engenharia agradece a preferência, tenha um bom dia".

- Cacete, agora a gente vai praquele fim de mundo! - Xiaut levou as quatro mãos à cabeça.
- Que fim de mundo? Onde fica S22X332B? - Zomir interrogava, perdido.
- Enceladus, lua de Saturno, Sistema Solar Helius - Thuir6 respondeu enquanto abria a porta da sala de emergência.
- Como é possível? Não tem uma oficina mais próxima? - Xiaut não se conformava.
- A gente acabou de passar por uma em Centauri Distante, mas eles não aceitam nosso vale-reparo nem o ticket-combustível, velho.
- Porra, ninguém é sócio do Space Club? Merda, pra quê eu fui sair de Andrômedra 9...

Zomir sentiu um frio na barriga. O destino o colocava cada vez mais próximo ao Sistema Solar Helius e os Dinossauros da Terra. Enquanto a plataforma estivesse em reparo ele poderia pegar um táxi até lá. Talvez até encontrasse alguém que tivesse conhecido seu avô.

Retornou ao seu cubículo, impaciente, e tentava retornar ao trabalho quando foi novamente interrompido:

- Zomir - gritou Thuir6 - preciso que você prepare um email pra S22X332B. Avisa a nossa situação e anexa o arquivo de log do sistema. Vou pegar um pouco do lubrificante da plataforma e você manda junto também, o Xiaut falou que a máquina tá rangendo e que o óleo deve estar baixo, a gente aproveita a parada e troca.
- Certo. É pra usar o logo da empresa? Eu vou ter que baixar de novo do site porque eu apaguei ontem por acidente...
- Porra, como você apagou um arquivo por acidente?
- É essa merda de sistema operacional! Eu tava jogando Paciência e me distraí... Fui fazer backup e ao invés de copiar eu movi o arquivo.
- Não tem como restaurar do backup então?
- Restaurar do backup?? Eu não sei fazer isso, só sei copiar para o backup...
- Tá, pode baixar então. Vou desligar o firewall, mas me avisa assim que acabar porque não quero nenhum adolescente invadindo o servidor... ainda mais nesses confins do Universo.
- Pode deixar.

Zomir via claramente agora a sua chance de conhecer os Dinossauros. Com o firewall desligado ele poderia enviar um email para a Terra também, reservando o táxi e o hotel. Como Zomir não sabia qual o protocolo era usado na Terra, ele usou um bem antigo - criou um nano-spam, um robozinho feito de hemaglutinina e neuraminidase que espalha ondas magnéticas ao redor, copiando-se ao receber uma mensagem de "ok" e se auto-destruindo ao receber uma mensagem de "páre" ou "kill".

Baixado a logo, umas fotos de mulher pelada e alguns mp13's, Zomir mandou o email para oficina e para a Terra. Chamou Thuir6 pelo rádio:

- Prontinho, pode subir o firewall.
- Beleza, fica apertando F5 aí até chegar a confirmação dos caras.

Agora era esperar pela resposta. Já podia se imaginar na Terra... Praia, lava vulcânica, broto de bambú...

Algum espaço-tempo depois, a mensagem de Zomir -- que tinha como subject "H5N1" (Hospedagem de 5 Noites para 1) -- rompe a atmosfera e chega à Terra do século XXI. Caiu no sudeste asiático, bem em cima de um grão de milho. A estrutura molecular não fornecia nenhuma resposta compreensível e o nano-spam resolveu então continuar emitindo suas mensagens. Até que, no pulmão de uma galinha, finalmente, os íons de carbono e oxigênio deram o sinal de "ok" e o email começou a se propagar.

Zomir não sabia, mas ele foi responsável por uma das pragas mais devastadoras da história da Terra, ficando atrás apenas da Gripe Espanhola - que surgiu quando um outro pesquisador desastrado recebeu um vírus através de um email que prometia fotos da Greta Garbo. Mas isso é outra história...





Fracasso dá lucro

A Oi comprou o dial da Rádio Cidade do Rio (102.9 FM) para lançar a Oi FM - uma rádio medíocre de música chata e com a programação mais irritante dos últimos tempos.
Muita gente anda se perguntando qual seria o motivo de se comprar uma rádio com um grande conjunto de ouvintes fiéis de determinado estilo (musical e de programação) e colocar no seu lugar algo completamente diferente, acabando assim com a audiência e tendo que compor uma nova. Afinal, se era pra formar uma audiência diferente, não seria o caso de comprar outra rádio de menor expressão, ou quem sabe um dial FM disponível?

A resposta é muito simples, meus caros, mas só quem fez MBA e tem alguma experiência consegue visualizar.

Foi-se o tempo em que vender um produto com uma margem razoável, agradar o consumidor e desenvolver os funcionários era a estratégia para que as empresas ganhassem dinheiro. Hoje -- aliás, já faz algum tempo -- o segredo é criar um grande 'case' de fracasso, prejuízo, escândalo, etc. e ganhar dinheiro vendendo livros e fazendo palestras sobre o assunto. Vide Enron, MCI, a bolha da Internet, o Tablet PC, etc.

É uma enorme vantagem tributária para empresas também ter um investimento que traga prejuízo. Caso contrário, que empresa iria patrocinar qualquer clube de futebol brasileiro?

Portanto, ao se deparar com uma empresa que presta um serviço horrível, que está se lixando para seus clientes e funcionários, ou que enfia goela abaixo um produto que não faz o menor sentido, prepare-se: anote numa agenda e lembre de nunca comprar qualquer livro sobre o 'case'.

quarta-feira, 8 de fevereiro de 2006



Responsum Quae Sera Tamen

(Responsabilidade ainda que tardia)

Vários muçulmanos exigem a retratação do governo dos países em que jornais publicaram charges de um homem barbudo de turbante, o qual foi imediatamente associado a Maomé -- não poderia ser o Bin Laden ou qualquer outro? Enfim, o fato é que o governo não pode/deve se desculpar pelo conteúdo editorial de um jornal. E o jornal não quer se desculpar por fazer uso da liberdade de expressão.

Imagina o governo brasileiro pedindo desculpas toda vez que a Veja publicar uma asneira?

Pois bem, o body count já está em 7 no Afeganistão. Sete muçulmanos morreram em protesto contra as charges -- a maioria deles nunca as viu, pois nem têm acesso a jornais ou televisão, ficaram sabendo pelo vizinho do cunhado da tia do Muhamed, e resolveram morrer por tão boa causa.

Uma das charges mostrava Maomé gritando lá de cima: "Chega! Chega! Acabaram-se as virgens!!". Mal sabia o autor que havia criado uma profecia auto-realizável prestes a explodir -- literalmente. Nunca um cartunista fez tanto sucesso, ao ponto de desbancar o W.C. Bush do noticiário!! O Dahmer do Malvados deve estar possesso, como ninguém pensou nisso antes? No Ziniguistão tudo seria mais fácil...

É difícil compreender pessoas diferentes. Para alguém nascido no Brasil, por exemplo, fica difícil imaginar um paraíso com 40 virgens. O paraíso de um brasileiro teria mais ou menos 3 cariocas, 2 gaúchas, 2 baianas, 1 paulista, 1 mineira e 1 sueca. Nenhuma delas virgens, ao contrário, 10 profissionais da área.

Essa falta de compreensão ajuda a incendiar a coisa. As relações comerciais entre Dinamarca e Irã foram suspensas. O único artigo dinamarquês que tem vendido bem por lá são as bandeiras (aliás, dica pra quem quer abrir um negócio próprio: vender bandeiras de países ocidentais no Oriente-médio -- a cada 3 bandeiras a caixa de fósforo é grátis!). Já ilustrava o amigo André, esse povo tem a mesma disposição para seguir protestos-e-queimações-públicas-de-bandeiras -de-países-judaico-cristãos-ocidentais que os baianos têm para trios-elétricos.

A burguesia dinamarquesa precisa rebolar agora pra conseguir um caviar ou tapete iraniano. Já estes em contrapartida precisam recorrer ao mercado negro para comprar bacalhau dinamarquês ou um livro infantil do Hans Christian Andersen.

E a retaliação não pára por aí. Um aluno turco atirou contra seu professor -- que era padre -- e garante que não foi por causa da reprovação em matemática. Vários bandidos no Egito estão assaltando turistas em nome da vingança contra os cartoons. Um cofre de banco foi arrombado e esvaziado na Jordânia em protesto.

A mais nova retaliação é o concurso de charges sobre o Holocausto que o jornal iraniano Hamshahri está promovendo. O desenhista que fizer a melhor representação gráfica deste "mito" leva pra casa uma lata de gás sarin.

O fato é que, apesar dos Talibãs, o mundo seguiu adiante. Seguiu para o caminho da liberdade de expressão e liberdade religiosa. De vez em quando um irlandês-católico atira uma pedra num irlandês-protestante, mas geralmente os dois guardam as pedras pra atirar num inglês-viado. E tá tudo bem. O problema é que nesse momento as liberdades estão em choque direto. E já dizia Sartre, a liberdade é o limite ao qual o homem está condenado. Confesso que só agora entendi.

Um jornalista está condenado a defender sua liberdade de expressão. O jornal está condenado a lutar pela liberdade de imprensa. O governo não pode dar pitaco nem sobre o jornalista nem sobre o jornal e está condenado à liberdade de ações de sua autonomia. Os muçulmanos estão condenados a lutar pela sua liberdade religiosa e pelo teor de sua religião -- que condena profundamente sátiras contra seus profetas. É o que se chama uma sinuca de bico, a liberdade das bolas vermelhas contra a liberdade das bolas azuis, e você só tem uma tacada pra dar.

Como resolver um impasse desses? Uns vão dizer que o melhor a se fazer é evitar se chegar a um impasse desses.

Não se pode esquecer a relação entre liberdade, limite e responsabilidade. Uma pessoa livre tem responsabilidade sobre seus atos. Além disso, somos responsáveis por zelar pelas nossas liberdades -- tanto as individuais quanto as coletivas. Queimar a bandeira de alguém ou zoar o profeta de outrém são exemplos de liberdade de expressão -- e de irresponsabilidade de ação.
Abusar da liberdade é agir contra ela. Lembra quando você combinava com seus pais de chegar em casa antes das 23h e quando dava 1h da manhã você entrava na ponta dos pés, de mansinho, pra não acordar ninguém? E quando era pego(a) passava um mês de castigo, sem poder sair. Tudo que você queria era ser independente pra não ter que dar satisfação a ninguém. Você cresceu e agora tem que dar satisfação pro chefe, pro gerente do banco, pro SPC, pra polícia, pra bandido, até pra pedinte no sinal.

A liberdade é uma conquista que herdamos daqueles que lutaram por ela. É muito fácil esquecer o valor daquilo pelo qual não precisamos lutar. Ivan Lessa escreveu no ano retrasado sobre a "mania americana de liberdade" -- para a qual têm duas palavras até, "freedom" e "liberty" -- e lembra que, se o preço da liberdade é a eterna vigilância, ela custa muito, muito caro. Dinheiro que, claro, sai do bolso do contribuinte. Portanto, não a arrisque a toa.


Ode a uma cidade-cadente
O Rio de Janeiro é uma cidade decadente. Não, não é obra pura e simples da política decadente. Nossos governantes refletem a qualidade da nossa política e a nossa capacidade em elegê-los. Não é por conta da nossa indústria decadente, tampouco, que é mais uma conseqüência do que uma causa. Nem seria tal causa a decadência do nosso ensino e educação, que sofre por falta de verbas. Ainda.
A noite carioca é decadente, desde os melhores botecos (sendo vendidos a paulistas) até as piores boates, restringida pela violência. Nossos parques, praças e jardins são decadentes, abandonados, vazios. A música carioca é decadente, temos que ouvir (sem reclamar!) os sotaques paulistas e mineiros nas rádios.
Nosso futebol é decadente. Mas esse assunto é melhor nem começar... Por causa deste futebol decadente o U2 não vai nem passar por aqui...
Até nossos criminosos são decadentes. Que saudade dos bons tempos, das fugas cinematográficas de helicópteros. Dos assaltos charmosos, dos roubos de taças do mundo.
O Rio é uma cidade decadente. Foi uma estrela primorosa, da bossa, do samba, do cinema, dos cassinos. Uma estrela cadente que chega à beira do horizonte, difícil até de ser enxergada. E não adianta se vestir de branco e andar no calçadão, faixa na mão, pedindo sabe-lá-o-que mais.

Adeus grandes empresas, adeus orçamento da União.
Adeus empregos, refinaria, adeus parques-de-diversão.
Adeus lazer, adeus esportes, adeus segurança.
A gente se vê em São Paulo, BH, Curitiba.
Adeus consulados, museus, adeus esperança.
Adeus qualidade de vida, passeios na Sernambetiba.
Adeus Arpoador, paineiras, Vista Chinesa.
A gente se vê em Brasília, POA, Fortaleza.

Bem vindo o Pan. Que traga esperança.

Coluna social
Hoje (dia 08.02) é meu aniversário! Mande os parabéns, que ainda é de graça.
Quem quiser e puder, chopp Rota 66 na Cobal do Humaitá. A partir das 19:30. Seguido de show da Danny Carvalho.
EDITADO em 09.02: Galera, valeu mesmo pela presença, e ainda mais pela surpresa. Danny parabéns pelo show, aturar uma mesa de bêbados e bêbadas bem do lado não deve ter sido fácil. Espero que a ressaca esteja valendo a pena pra vocês também.

sexta-feira, 13 de janeiro de 2006



Tolerância ampla, geral e irrestrita

...
- Alô.
- Alô, Valdecir se encontra?
- Quem deseja?
- É Valdecir.
- Ô, Valdecir, tudo bem? Aqui é Valdecir. Deixa eu chamar Valdecir.
- Valeu, Valdecir.
Instantes depois:
- Alô, Valdecir?
- E aí, Valdecir, quanto tempo. Tudo bem por aí?
- Tudo bem e por aí?
- Tudo bem também. Tô ligando pra perguntar sobre aquela situação no escritório, como ficou?
- Ah, eu falei com Valdecir e os outros ontem cedo e eles concordam com a gente.
- Então tá tudo encaminhado. Vamos aproveitar então pra ver o jogo?
- Claro, todo mundo adora o jogo.
- É verdade, e qual vai ser o resultado?
- Ah, com um time só jogando, uma bola pra cada jogador e a torcida toda a favor, acho que é vitória certa.
- Concordo. Eu gosto de ganhar.
- Eu também. Falar nisso, você viu aquele filme que estreou?
- Vi sim. Muito bom.
- Também achei. O final é bem interessante.
- Exatamente.
- E o carro, parou de dar problema?
- Parou sim, foi só trocar o óleo. O carro é muito bom.
- Também acho, por isso tenho um igual.
- Tá bom então Valdecir, deixa eu ir lá que vou levar as crianças no parque.
- Ah, eu também, a gente se vê lá.
...

Somos 7 bilhões de habitantes no planeta. Temos todos menos de 3 metros de altura, menos de 7 litros de sangue vermelho correndo pelo corpo. Somos todos mamíferos, racionais, homo sapiens, Humanidade. Mas não há duas pessoas idênticas nesse mundo, nem quando nascem da divisão do mesmo par de células.

E ainda assim, por algum motivo, poucos de nós sabemos aceitar e compreender as diferenças, sejam racias, religiosas, ou simplesmente diferenças de gosto e opinião. Alguns chegam ao limite de desrespeitar e até agredir pessoas diferentes.

Coloque na mesma sala um flamenguista e um tricolor, um judeu e um muçulmano, um chinês e um japonês, um empresário e um sindicalista, um dono de cachorro e um dono de gato, um policial civil e um militar, um pagodeiro e um funkeiro, um hetero e um homo, um motorista de ônibus e um motorista de van, um petista e um pessedebista, um dermatologista e um cardiologista, um cientista e um surfista, um periodontista e um ortodontista, um especialista em história medieval européia e um especialista em história da arte pré-renascentista, um inteligente e um ignorante, um advogado e outro advogado. O resultado será sempre uma discussão inflamada. Em algumas horas uma briga, talvez um tiroteio. Dois entram, um sai !

Por outro lado, coloque em uma mesma casa algumas pessoas bonitas e sem muita coisa na cabeça e você tem um reality-show de baixo custo e vasta audiência. Não é irônico? O voyeurismo da intolerância alheia é atração pública !

Talvez a tendência de famílias menores esteja contribuindo para a tolerância cada vez menor entre as pessoas. Numa família grande é quase impossível chegar a um consenso. Seus pais gostam de camarão, seu irmão odeia e você é alérgico. É aniversário da sua avó, formatura do seu primo, seu irmão caçula vai sair com a nova namorada e você está sofrendo uma crise alérgica. Seus irmãos querem um cachorro de estimação, seus pais não, e você pra variar é alérgico. Como decidir nesses casos? Maioria de votos? Cada um por sí?

Intolerância é um passo para preconceito. Ou ao contrário, preconceito é um passo pra intolerância. Não sei. Mas o que eu sei é que algumas frases são gatilhos para inflamar uma conversa. Tipo no desenho animado, quando o coiote entra num lugar escuro, acende um fósforo e percebe que está numa casinha cheia de pólvora e explosivos?

Exemplos típicos destas frases: "quem não gosta de bicho boa gente não é...", ou em resposta, "quem trata bicho igual gente trata gente igual bicho". Outras: "quem não gosta de samba boa gente não é", "mostre sua educação e mostrarei a minha", "macho que é macho não faz isso", "homem não chora", "isso é coisa de boiola", "isso é coisa de piranha", "se fuma, dá", etc. Existem umas tão pesadas (e imbecis) que eu acho melhor nem comentar... Mas você lembrou, né? Pois é, pode parecer engraçado, mas é triste. Como ser gordo. Antigamente o excesso de peso era uma coisa engraçada, simpática, mas cada dia que passa o assunto fica mais sério.

A tolerância é um exercício que como os demais tem que ser praticado diariamente, por uma hora, sob supervisão profissional. Você pode inclusive aproveitar seu tempo na ginástica pra economizar. Não julgue o rapaz de camiseta cavada fazendo pose e se olhando no espelho... Nem a loira turbinada, com personal trainer, malhando 4 horas por dia... Cada um no seu cada um, e quem quiser, no cada um dos outros.

O que é difícil mesmo é determinar o limite do que deve ser tolerado e o que precisa ser negociado. Por exemplo, existem pessoas organizadas e pessoas bagunçadas, e um tem que tolerar o outro. Mas se essas duas pessoas são casadas... como fica? Se uma pessoa é barulhenta e a outra ama o silêncio, e elas são vizinhas, como fica? Um educado e um mal-educado trabalhando juntos todo dia, como fica??

Uma teoria de uma amiga minha fala sobre uma nova Seleção Natural, onde, por exemplo, uma pessoa mal-educada, barulhenta e bagunceira acabariam casando com outra pessoa mal-educada, barulhenta e bagunceira e assim constituindo uma família mal-educada, barulhenta e bagunceira.

E pela lei de Muphy essa família acabaria morando do meu lado.

Agora que minha nova família é pequena, esse é o meu exercício de tolerância diário. Pra quem quiser ingressar nas atividades e sair do sedentarismo, é bom começar repetindo esse mantra 5 vezes seguidas, sempre que necessário:

"Senhor, dá-me paciência, que se me deres forças eu quebro um!"