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Humor, crítica, crônica, comédia e sátira sobre o Rio de Janeiro, o Brasil e o Mundo |  Defendendo o humor inteligente do Capitalismo e do Aquecimento Global, antes que se torne brinde de pasta de dentes

segunda-feira, 26 de dezembro de 2005



Mensagem de fim de ano

Você está acostumado a todo fim de ano receber uma mensagem minha de Natal e Ano-novo, sempre criativa, com o mínimo de plágio, numa linguagem formal e cativante. Desta vez, para não deixar em branco -- embora esta seja a cor do fim de ano -- resolvi utilizar deste fenômeno de audiência que é o Mamendex.

O ano de 2005 passou voando (pediu até um segundo a mais de desconto) e ainda assim já vai tarde. Espero que para alguém ele tenha valido a pena. Assim sendo, desejo que 2006 seja um ano melhor -- o que definitivamente não é pedir muito.

Peço que ele traga desafios mas, diferente de 2005, que apresente alternativas. Peço que o ano-novo traga alegrias mas que, ao contrário do ano-velho, desatreladas a sentimentos de culpa. Desejo que ele traga crescimento e sabedoria, ao invés de andar para os lados ou mesmo para trás. E já que é ano de copa, peço que traga comemorações -- mas que sejam sinceras, e não de praxe.

Finalmente, que eu possa repousar a cabeça num domingo bonito, tranqüilo, silencioso, com uma brisa leve soprando ou umas gotas finas de chuva caindo. Que eu possa olhar esse domingo e pensar que tudo que eu tenho feito é justo e tudo que eu tenho é merecido. Que eu possa curtir minha casa e minhas coisas, meus amigos e minha família, e principalmente a mim mesmo.

Desculpem uma mensagem de ano-novo tão egocêntrica mas, olhando agora, vejo que no ano que passou esquecí de mim mesmo.

Não cometam o mesmo erro.

Cresçam, aprimorem-se, cuidem-se, curtam-se, agradem-se, amem-se como ao próximo.


Feliz 2006.

quinta-feira, 8 de dezembro de 2005



O contador de ilusões

Uma coisa que eu odeio em certos filmes e séries americanas é como é fácil advinhar que o mocinho/mocinha vai conseguir aquele emprego, ou conquistar aquela mulher gostosa, descobrir a cura daquela doença, encontrar aquele tesouro, etc, como se na vida real, ao fazer tudo certo, você teria uma recompensa esperando por você.

Não precisa viver muito pra saber que não é sempre assim. Seu irmão fazia a merda e você apanhava junto. Se tentava defender seu irmão, apanha por encobrir a travessura. Se dedurasse ele, apanhava pra aprender a não ser X9. Se desconhecesse por completo o assunto apanhava pra ser mais esperto. Ou por mentir. Ou sei lá o que, sei que você apanhava e tinha a impressão de apanhar mais ainda que seu irmão.

Foi Schopenhauer ou Kant, não lembro, quem disse que a recompensa por fazer o mal era imediata, óbvia. E a recompensa por fazer o bem era misteriosa, inexplicável, consistia no bem-estar e na paz de consciência. Nada além disso. Ele dizia que a prova da existência do Bem -- e portanto, de Deus -- era que tudo no mundo apontava que ser Mal era a coisa mais vantajosa a ser feita mas ainda assim a maior parte das pessoas insistiam, sem razão concreta aparente, em praticar o Bem.

Traduzindo, a lição final é que você deve fazer o bem se você se sente bem com isso, e fazer o mal se consegue conviver com isso, e ponto final. Olha que pra um padre dizer isso é sinal de alguma coisa...

Lembrei disso ao assistir à uma entrevista do Woody Allen em que ele diz exatamente isso, e o quanto ele percorreu assuntos desta natureza usando da linguagem universal do humor em seus filmes. Pensando bem, nos filmes dele, o baixinho fracassado pode até pegar a Julia Roberts mas no final não fica com ela. Uma exceção à regra da previsibilidade que condeno (desde o primeiro parágrafo).

Outra coisa irritante são as histórias infantis de Hollywood. Se você acha difícil conversar com crianças sobre a morte, coloque um desenho americano qualquer. Todos eles têm uma morte, se não uma carnificina. A mãe do Bambi leva um tiro nos cornos. A família do Nemo é toda dizimada. O Irmão Urso? Morre. O Espanta Tubarão? Mata. O Rei Leão morre, o irmão dele também. A Era do Gelo? Porra, os dinossauros foram extintos. No O Planeta do Tesouro a Terra inteira explode. E ainda assim, o final é feliz, como pode?

Assim, à luz da metafísica e passando longe da fórmula mágica da TV e cinema, resolvi criar novas histórias clássicas para Holywood. Seguem alguns resumos, em primeira mão:


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Bambi andava tranqüilo pela floresta, brincando com as borboletas e os pássaros. De repente... BANG! Mamãe... Mamãe...

A mãe de Bambi foi alvejada por um apresentador de programa de caça do Outdoors Channel. Ele usou uma Winchester 1885 Low Wall 17HMR. Se fosse durante o programa seguinte ela provavelmente teria levado uma flechada de um Buckmaster BTR Bow.

O fato é que Bambi está órfão, assim como vários outros de sua vizinhança. Ele poderia ter desperdiçado sua juventude se voltando para às drogas ou furtos mas ao invés disso ele se manteve focado nos estudos e entrou para a associação pelo desarmamento civil de sua cidade.

Bambi hoje trabalha como operário numa fábrica de enlatados de Connecticut e tem 3 filhos. O primeiro neto deve nascer ainda esse ano.


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O Rei Mufasa e seu filho Simba, herdeiro do trono, viviam felizes na Selva (que era como eles chamavam a savana). Porém, as opressões de um regime totalitário e ditatorial eram a única razão da aparente paz -- a paz que não se quer -- que reinava naquele local, há vários ciclos da vida.

Várias espécies -- como as hienas -- lutavam por eleições diretas e tinham no irmão do Rei, Scar, um aliado. Além desses democratas, havia também outros grupos de insatisfeitos, porém menos pacíficos. Veados e gazelas, cansados de serem comidos e nunca receberem um telefonema no dia seguinte, criaram o grupo extremistas Guerreiros Ligeiros que era responsável por vários atentados na capital.

Foi quando aconteceu a tragédia. Durante um passeio com Simba, o rei Mufasa foi atropelado por um estouro de gnus. Nunca se soube verdadeiramente o que aconteceu nesse dia. Existem várias teorias. Algumas culpam os Guerreiros Ligeiros, outros imaginam uma conspiração envolvendo todo o governo. Outras dizem que J. Lee Oswald, um tigre frustrado (repita isso 3 vezes bem rápido) considerado louco por muitos, teria conseguido disparar 3 manadas de gnus, separadas pela distância de 15 milhas, num intervalo de 1.3 minutos. Essa teoria ficou conhecida como a teoria do Tigre-Bala Mágico.

Mas a história culpou Scar -- que assumiu o governo provisório -- e algumas hienas que seriam seus comparsas. E quando Simba retornou para assumir o poder, o sonho da democracia nas savanas desmoronou, junto com sua economia.


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Fullana Sillva é a personagem principal desta sitcom. Ela é bonita, inteligente, engraçada e tem um gênio danado. Ela quer trabalhar numa agência de propaganda. Um dia ela vê o anúnico de uma vaga para gerente de criação -- não pensa duas vezes e envia o currículo.

Havia várias outras pessoas, é claro, na fila pra entrevista. Beltrano, Cicrana, Fulano. Nenhuma delas tinha sobrenome, porém. Ficou fácil advinhar de quem era vaga.

Porém, nem tudo são flores. Fullana foi a pior gerente de criação que a tal empresa tinha visto. Perdeu vários clientes importantes e o rombo financeiro causado levou a agência a fechar as portas.

Beltrano realmente tinha o talento para a vaga. Nunca conseguiu ser o personagem principal de uma série, porém, e por isso nunca conseguiu trabalhar na área. Morreu de infarto, durante o trabalho, num escritório de contabilidade.

Cicrana conseguiu um emprego na agência concorrente e foi diretamente responsável pelo seu sucesso. A empresa cresceu e lucrou muito com ela a bordo. Ela nunca teve, porém, seu talento reconhecido e se aposentou como assistente de criação, com um salário bem abaixo do mercado.

Fulano tinha 4 filhos pra sustentar e estava há mais de 1 ano desempregado. Ele realmente precisava daquele emprego. Esta última rejeição foi a gota d'água. Pegou um dinheiro emprestado com o cunhado, entrou para um curso preparatório e conseguiu passar no concurso para técnico do tesouro. Se suicidou porém, com pouco mais de 5 anos no cargo.

Cicrano, que a série nem mostrou, também estava na fila. Seu currículo foi descartado porque ele tinha um processo trabalhista contra o antigo empregador -- que lhe demitiu devendo 4 meses de salário. Nunca mais conseguiu nenhum emprego. Chegou a trabalhar uns meses como camelô mas foi preso e liberado em seguida por vender mercadoria contrabandeada. Morreu de fome ou frio numa madrugada do Junho seguinte.


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Habitantes do planeta Zioxx apresentam um ultimato aos líderes da Terra: que convoquem eleições globais para-diretas*, que entreguem suas armas de destruição em massa e apresentem os culpados pelo genocídos dos Dinossauros.

Temendo o pior, todos os países do planeta resolvem atender as exigências dos alienígenas -- exceto um. Assim, Zioxx destrói a Terra. A humanidade agora se restringe a várias pequenas colônias espalhadas pelo universo.

Acontece que essas colônias começaram a causar distúrbios em várias localidades, como por exemplo pequenos furtos, invasão de terrenos privados, etc, portanto a Federação de Zioxx achou melhor realizar a ocupação militar nestas colônias, enquanto elabora uma constituição para as mesmas e organiza eleições para-diretas*.

* Zioxx é uma para-democracia e considera apropriado que todos os planetas do Universo assim sejam. Na para-democracia o governante é eleito através do voto direto da população e o voto para-direto do Deus Supremo, que é revelado através de uma junta de para-normais, estabelecida pelo próprio governo. Essa mesma voz divina influi também nas decisões governamentais.

PS: Ainda não consegui enxergar um fim para essa história. Vamos aguardar mais um ou dois anos para ver se surge uma idéia. A propósito, um ano zioxxiano leva um booom tempo pra passar...

sábado, 26 de novembro de 2005



A Teoria do Humor

Se você reparar os cursos mais procurados nos vestibulares deste ano (no caso, do ano que vem), poderá perceber uma certa tendência de maior procura aos cursos relacionados com marketing e jornalismo. É fácil deduzir que, no meio de tanto marketeiro político se dando bem, e com a Veja prestes a se sufocar com o próprio veneno, vagas nesta área existem. E mesmo que não existissem, concorrência nunca é demais.

Quem nunca sonhou em ter um filho craque de futebol? Ou top model internacional? Ou ator/atriz, cantor de pagode, apresentador de programa de auditório, ex-big brother, namorada/namorado de celebridade, pegador de atrizes globais, etc.

Imagina a procura que teria um curso de faculdade para namorada de jogador de futebol? A ementa seria mais ou menos:

Módulo básico:
- Futebol avançado I (lei do impedimento) e II (táticas e estratégias)
- Educação Física avançada I, II e III
- Química e Corte
- Finesse e etiqueta
- Relações públicas e privadas
- Educação sexual e Biologia da concepção
- Espanhol, Italiano, Francês e Inglês práticos para flerte

Tópicos especiais:
- Sexo no primeiro encontro
- Engravidando na primeira transa
- Transando no vestiário
- Casamento na Ilha de Caras

Óbvio que nem todo mundo pode viver de vento ou de fofoca. Nem do filho dos outros. Pra ganhar o pão de cada dia alguns tem que encarar muita ralação e passar muita gente pra trás... no bom sentido, claro.

Mas o fato é que em qualquer profissão a teoria, não apenas a prática, é importante. A teoria é a forma de obtermos preparação, confiança e evitar alguns erros óbvios no nosso dia a dia. Daí a importância de cursos, treinamentos, palestras, livros, fóruns e tantas outras maneiras de se obter conhecimento teórico.

E é daí também que surgem as figurinhas hilárias dos teóricos-filósofos, aqueles caras que vivem se cumprimentando às frases adjetivas, pelos corredores do escritório, rindo e divulgando pelos quatro ventos o quanto são bons, o quanto são bem preparados, o quanto são importantes, o quanto conhecem, ou seja, qualquer coisa vale pra não ter que pegar no batente e meter a mão na massa.

As frases típicas de um teórico-filósofo começam com "Estive em meio aos meus pensamentos: e se...". Pronto. Ouviu isso, sai de perto, porque o cara não vai te ajudar e ainda vai gastar seu tempo.

Aos poucos, o teórico-filósofo vai galgando camadas sociais dentro da empresa (embora não necessariamente cargos) e começa até a esquecer qual o objetivo daquilo tudo. "E se fizéssemos um seminário para divulgar os conhecimentos e obter novas propostas de..." Ô Fulano se tá maluco? Tem que entregar isso amanhã cedo!

Coitado do chefe do teórico-filósofo. O ambiente nunca é o ideal para merecer o suor dele. Além disso, vive se queixando que os outros funcionários cismam em ignorá-lo, trabalhando sem seu crivo tecno-teórico-filósofo. Logo ele que tem a solução para os problemas de digitalização dos arquivos da empresa, a técnica para dessalinizar o Mar Morto, além é claro da proposta de paz prontinha para acalmar os conflitos na Nicarágua.

Porém o mais chocante foi descobrir um teórico-filósofo do humor. É. O cara se acha o papa do humor, fã do Monty Pyton, sabe tudo do Millôr Fernandes e do Ariano Suassuna, leu tudo de Shakespeare, conhece aquele roteirista da TV Pirata. Mas nunca contou uma piada. Repassou algumas, mas beeem fraquinhas... Daquelas que circulam a cada 6 meses pela Internet. "Ih, rapá, tá chegando Abril, já já é hora de chegar aquele e-mail do roubo do fígado"; "Já tamo em Novembro, tá bom de repassar aquele do 'lembra dos anos 80?' né" (esse gerou até moda, depois de circular por 3 anos seguidos).

Esse aristocrata do humor me fez pesquisar mais sobre a Teoria da Comédia, e confesso que valeu muito a ajuda. Afinal, você já tinha parado pra pensar, por exemplo, em quando o humor foi inventado? Quem foi o primeiro primata a jogar uma casca de banana e cair na gargalhada ao ver um companheiro escorregar?

Todos os indícios apontam pra Mesopotâmia (seja isso onde for) uma ossada batizada de Homo Humoriuos que seria o primo inconveniente do Homo Sapiens. Essa ossada mostra claramente um esqueleto colocando os dedos em forma de chifre no esqueleto à sua frente. Ela se encontra hoje no Museu da Comédia Natural de Londres.

Cientistas afirmam que há vários indícios de cultos religiosos na pré-história "invertidos", em que as celebrações eram ironias contra aos deuses, tratando-os com desdém, burla e blasfêmia. O que ninguém consegue provar é quantos sacerdotes agiam por pura malícia e criavam rituais humilhantes só pra ver neguinho pagar mico (eu tenho um amigo 'pseudo-místico' que faz isso).

O fato é que, desde a pré-história, a humanidade depende cada vez mais do humor e, por isso, consegue níveis cada vez mais elevados. Muito embora a maioria das pessoas se contente em ver "pegadinhas" e babacas caindo no chão. Digo e repito: NÃO, cosquinha não é humor!

Existem vários tipos de humor, ironia (é um tipo bem básico), surpresa (ex: susto), inusitabilidade (bom para piadas de salão), ridículo (as TVs ultimamente só fazem isso), paradoxo (um tipo bem inteligente), e claro, sátira (tem grande importância social).

E existem vários técnicas para fazer humor: transferência (uma situação é normal em um ambiente, mas não em outro), silogismo (se A é engraçado pra B, e B é engraçado pra C, então A é engraçado pra C), exagero, comparação, aproximação contextual (por exemplo, os legumes de duplo sentido), metáfora (essa é fácil), aliteração (rima ou aproximação sonora).

Portanto, você, jovem, que tem o sangue da comédia em sua veia cômica, não deixe para depois: aliste-se, enfie a cara nos livros e seja mais um humorista do exército brasileiro. Afinal, o país precisa de todos os cômicos que possa formar... no bom sentido, claro!

quinta-feira, 20 de outubro de 2005



Paradoxalmente correto

A gente assiste os comerciais na TV e fica lembrando dos bons tempos da propaganda brasileira. Demitiram o cara da Bombril porque ele era muito sóbrio, tranqüilo, não tinha o menor sex-appeal, não era fashion, pop, mix, não servia pra vender produtos gold, premium, plus, só o Bombril. Aliás, hoje ningué anuncia palha de aço, hoje é Steel Straw Advanced. Tabajara. Com bebês black power. "Pegue um deles e esfregue sua panela". Esfregar o bebê???? Não, pô, o produto.

Mas essa perseguição com comerciais e programas de TV ganhou níveis de caça às bruxas, intolerantes. Se a montadora quer anunciar um carro potente e mostra alguém correndo em duas rodas pelo centro da cidade, pronto, lá estão os defensores das leis de trânsito.

É só um anúncio de cerveja mostrar dúzias de gatas de biquíni apaixonadas pelo gordinho de bigode tomando um chopp no boteco, ou jovens completamente em forma se beijarem aos montes para aproveitar o gostinho do refrigerante, que lá vem a patrulha da incoerência.

Pô, já não se pode fazer um comercial de loteria em que toda a cidade fica milionária, só porque a chance de alguém ganhar é de uma em 1 milhão?? Pra mostrar que um baton deixa a mulher mais bonita eu não posso colocar uma tribufú com uma plaquinha escrita "antes" e a Gisele Bündchen seminua tatuada "depois"???

É por essas e por outras, que a TV aberta só anuncia empréstimos pessoais a aposentados e funcionários públicos, através de atores não-aposentados e não-funcionários-públicos. "Passa confiança, já que o ator é uma pessoa que nunca fingiria ser algo que não é por dinheiro", me explica um conhecido do ramo.

Os anunciantes estão cercados. Se anunciam pra pobre, são populistas, apelativos. Se anunciam pra rico são elitistas, segregadores. Não podem mostrar um carro correndo, não podem mostrar mulher de biquiní, não podem insinuar sexo ou nudez... A patrulha das boas normas nos comerciais talvez devesse tomar uma cerveja antes de assistir TV, ou dar uma volta de carro pra desestressar.

De quê precisa um comercial para que ninguém reclame, e ainda assim ele ajude a vender seu produto? Precisa ser honesto, isso é fácil. Ajuda um pouco o bom humor. Evitar estereótipos ou então exagerá-los para que fiquem óbvios, isso também. "Nada disso. Basta o comercial ser politicamente correto", afirma um patrulhista, se revelando.

Lembra da tal cartilha do politicamente correto? Não se pode chamar obesos de baleias, garotas sexualmente desinibidas de piranhas, intelectualmente desfavorecidos de burros, nem aqueles de higiene pessoal duvidosa de porcos. Os animais é que saíram ganhando com isso (para mais piadas sobre a tal cartilha consulte episódio do Casseta & Planeta).

Alguém consegue imaginar algo mais inimaginável que o significado da expressão "politicamente correto"? "Subir pra baixo", se você pensar bem, pode fazer sentido, tudo é relativo. Mas "político" e "correto" são termos absolutos, e que não se misturam. Como água e óleo. O que pode ser ao mesmo tempo, político e correto ?

Por exemplo, delatar seus amigos pra CPI, confessando os crimes de todos e se fazendo passar por bonzinho... É uma atitude política com certeza, mas é uma atitude correta? E falar das falcatruas da sua (ex-) esposa ou do seu (ex-) marido? É político? Talvez... É correto? Quem sabe... Mas de alguma maneira, forçando a barra, é politicamente correto ???

Não de jeito nenhum. Nada é politicamente correto. Assim como nada é Flictz*. Ou melhor, a Lua é flictz. Seria a Lua politicamente correta? Lá de cima... Na calada da noite... Entre as nuvens, branca, pálida... Ou na beirinha do horizonte, grande e amarelada... Mexendo com as marés, causando calores nas donzelas, assanhamento nos rapazes, revelando lobisomens. É só ela aparecer e começam as libertinagens. Se ela se esconder, e a noite ficar ainda mais escura então, aí é que ninguém é de ninguém...

Não, a Lua não é politicamente correta.

Se a Lua não é, o Sol que é seu oposto, seria? Grande, brilhante, e que tudo revela... Enviando energia infinita... E concorrendo com o Petróleo. Causando câncer de pele, aquecendo a Terra além da conta, derrubando aviões com suas tempestades solares, pronto para engolir todo o sistema solar...

Não, tampouco o Sol é politicamente correto.

Bom, não vai ser no céu que vamos achar algo politicamente correto. Muito menos em Brasília. Talvez no Vaticano. Não, o Papa não pode ser politicamente correto, até porque não pode ser muito político, precisa defender a doutrina de sua fé. Excluímos também, portanto, padres, bispos, pastores, rabinos, coroinhas e qualquer outra pessoa ligada à qualquer religião.

O politicamente correto não tem religião. Nem time, ou partido. Nem cor ou raça. Nem sexo, quer algo mais politicamente incorreto do que simplesmente tocar no assunto sexo? Sexo cada um tem o seu, vamos procurar em outro lugar.

Na natureza. O leão é politicamente correto? Comendo zebras e leoas, várias por dia... Dormindo a maior parte do tempo. Não, sem chance. Nenhum carnívoro, nem herbívoro; afinal, as plantas também têm direito à vida.

Peraí... Seria politicamente correto afirmar que algo não é politicamente correto? Estaria eu sendo politicamente incorreto durante todo o texto até agora? Estaria este escritor blogueiro no auge do distúrbio de seus sistemas vestibulares? Tô doido?

A busca pelo politicamente correto poderia se transformar, muito bem, numa nova área da filosofia. O politicamente correto não pertence à estética, nem à lógica, nem à metafísica, talvez uma mistura da ética com a política. Talvez seja uma espécie de Santo Graal moderno, que dará poderes plenos de negociação e marketing a quem encontrá-lo. Isso pode ser bem útil, num mundo em que até parabenizar um casal pelo herdeiro que chega é, ético-politicamente falando, parabenizar alguém por ter feito sexo sem proteção 9 meses atrás...

Ao chegar ao pé deste texto, reflito se a quantidade exagerada de perguntas e a completa ausência de um "ponto" ou conclusões não o tornam vazio e inútil, tal qual a busca em questão. Mas lembro, satisfazendo-me, frase minha própria, e a cito, reconfortado: afinal, nenhum livro deveria ter mais respostas que perguntas... .

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* Ler Ziraldo; não só Flictz, mas todos dele!!


Segura Fenômeno!

Essa me contaram, pode ser verdade ou não. Mas reza a lenda que seguiam num vôo comercial qualquer vindo de Belém, Ronaldo, Ronaldinho Gaúcho, Cafú, Roberto Carlos e outros titulares poupados contra o Chile. Os outros passageiros do vôo custaram a acreditar na cena, tão improvável, e simplesmente olhavam, pasmos. Até que uma senhora se aproxima do Fenômeno:

- Desculpa, você é aquele jogador de futebol, não é? O Ronaldo?
- Sô, sim senhora.
- Você podia me dar um autógrafo?
- Claro.

E o careca assina o papelzinho e devolve à fã, que de forma simpática, aponta pro sonolento Roberto Carlos e pergunta baixinho:

- Aquele alí também é jogador, não é?

No que Ronaldo, de bate-pronto:

- É sim senhora. É o Dunga.
- Ah, bem que eu estava reconhecendo...

segunda-feira, 17 de outubro de 2005



Vote, talvez

Edição Especial: Plebiscito do Desarmamento

Atenção: está é uma matéria comprada que não necessariamente está alinhada com a nossa opinião editorial. Os únicos responsáveis por ela são os patrocinadores, cujas identidades serão mantidas em sigilo por puro clichê mercadológico.

Não aguento mais receber spam sobre como eu devo votar NÃO. Assim, em MAIÚSCULAS. Como seu eu fosse SURDO. Ou BURRO.

"Vote NÃO pela sua segurança". "Vote NÃO e ninguém se machuca". "Vote NÃO e os bandidos vão cagar de medo".

Eu fico imaginando que a situação corrente é o não, certo? Hoje em dia qualquer advogado, juiz, despachante ou funcionário público tem uma arma, certo? Basta entender da burocracia da Colônia de Santa Cruz das Províncias do Sul. Qualquer coronel, sinhozinho, bemfeitor, bandeirante, qualquer um destes tem uma arma. Sólida, rígida, limpa, cromada, brilhante, fálica, cheia de balas, pronta para cumprir seu dever, seja de expulsar os que ofendam à propriedade a família a honra, seja pra expulsar comunistas comedores de criancinhas. Se a situação está assim como está, não foi por falta de armas...

Citam que Hitler desarmou a população "antes de exterminá-la". Que eu me lembre bem (sim, eu nasci há 10 mil anos atrás), Hitler tentou um golpe de estado, fracassou, e então conseguiu ser eleito. Daí ele aproveitou toda a frustração alemã, de ainda pagar pelos danos causados na 1a. Guerra para encontrar um culpado: os estrangeiros (ele mesmo era austríaco!), em especial os judeus, que "sugavam a riqueza do povo", tão sofrido. E então, enquanto ele unia todos os arianos da europa, canalizou todo o ódio retido e o usou para cadastrar, confiscar, separar, escravizar e então, finalmente, exterminar o povo semita. Portanto, relaxe, o presidente ainda vai criar guetos, campos de trabalho e só então vai exterminar o SEU PRÓPRIO povo, desarmado. Pra quê eu não sei, mas se você não votar NÃO ele vai, claro que vai, é lógico que vai.

Afirmam que ter arma em casa é seguro, basta não deixar à vista ou engatilhada. Que os filhos nunca sabem onde o pai guarda a arma. Dizem também que suas filhas de 17 anos são virgens... E que seus filhos não usam drogas. Não, com toda certeza eles nunca, num acesso de abstinência de heroína, pegariam a arma dos pais pra fazer besteira.

Falam como se estar armados evitasse assaltos, na rua ou em casa. Quantos policiais morrem em assalto, por causa dessa simples regra: se você está armado tem que sacar; se você sacar, tem que atirar; se você atirar, tem que matar. O que era um assalto, vira uma tragédia. E você, está preparado pra matar ou morrer pelo seu celular? O bandido está.

Alertam que sabendo que ninguém tem armas os bandidos vão fazer a festa... E o que eles estão fazendo agora? A cidade do Rio é mais violenta que a Bagdá de hoje, a Bogotá de ontem e a Chicago dos anos 30. Juntas. Alguém precisa alertar urgente ao bandidos, então, de que hoje existe gente armada !

Dizem também que é preciso ter arma para estar seguro. Eu nunca tive arma, conheço poucas pessoas que têm, mas ninguém nunca sentiu tanta falta delas pra ficar seguro, até tocarem no assunto. Mas aí chega-se ao cúmulo desta campanha do des-desarmamento: "Você não precisa estar armado, basta que ALGUÉM esteja". Ótimo, vou andar pelas ruas muito mais seguro sabendo que algumas pessoas estão armadas. Vou relaxar na praia. Vou descer do carro pra discutir o prejuízo muito mais tranquilo. Vou jogar uma partida aguerrida de futebol com toda a serenidade. Vou pular o muro e dar uns pegas na filha do vizinho em paz. Vou saber que meu irmão mais novo está num show no Olimpo ou na Apoteose e vou dormir sereno. Vou ao Maracanã tirar sarro do time perdedor, crente no espírito esportivo do adversário.


Por outro lado...

Do alto do meu prédio com portaria 24 h, portão eletrônico, rua patrulhada pela PM, câmeras de segurança, vizinhos por perto, não me sinto bem pensando em quem tem uma pequena propriedade no interior do Mato Grosso, do Amapá, do sertão (ser tão longe). Principalmente quando penso que uma facção criminosa menor, frustrada, expulsa do Comando Vermelho, pode resolver se alojar no interior brasileiro, pra ter uma vida mais tranqüila, longe do corre-corre das capitais.

Não me sinto bem quando penso que na cidadezinha de Conceiçãozinha Caiu do Leste, o prefeito e o delegado são amigos de infância, e donos das maiores propriedades do local. Ai de quem passar no caminho deles.

Não consigo deixar de pensar no exemplo da comunidade carioca (não vou citá-la) que consegue manter o tráfico longe, às custas de muito esforço e coragem. Sem o comércio de armas talvez ela seria mais uma comunidade escravizada pelo poder dos traficantes.

Também não consigo acreditar que as dezenas de fuzis americanos, russos, israelenses, austríacos, os lança-foguetes, as bazucas, etc. que estão nas mãos de nossos traficantes sejam fabricadas no Brasil. Porque se forem, nós poderíamos estar ganhando um bom dinheiro vendendo equipamento pro exército americano.

Não gosto, tampouco, da idéia de fechar toda a atividade relacionada a armas do país (fábricas, lojas, clubes, etc); emprego é emprego, e o povo precisa de cada um deles...


Portanto...

Vou manter minha política e votar em quem sempre voto. Nunca falhou e nunca me arrependi. Tenho certeza que, quando mais pessoas votarem como eu, nossa situação vai melhorar.

Só não posso dizer em quem pois não quero fazer apologia ao voto nulo...



Moral da história:

1) Não me mande e-mails sobre como eu devo votar. Já não me basta o tempo na TV.
2) Não me mande e-mails ameaçadores, eu não sou burro
3) Não me mande e-mails com maiúsculas, eu não sou cego nem surdo
4) Não finja saber do que você não sabe, deixe essa parte comigo....
5) Quer ser um super-herói e salvar sua família? Mantenha os jovens longe das drogas e perto do estudo e das camisinhas.

quinta-feira, 6 de outubro de 2005



A nova guerra dos sexos

Chato de ir ao médico é esperar mais de 1 hora por uma consulta de no máximo 20 minutos. Vai entender. Eles marcam a consulta de 15 em 15 minutos. Às vezes de 10 em 10. Como se nunca fossem ao banheiro ao longo do dia. E como nunca atendem nesse tempo, quem marca pro fim do dia sofre com atrasos enormes.

Mas o pior da espera é assistir a novela das 6. Antes era Kubalançando. O que era aquele cara-sem-camisa interpretando 4 papéis? Agora é Alma Gêma. O que é o sotaque do Edu Moscovita e daquela índia italiana?

Molhação ainda dá pra aturar. São duas dúzias de adolescentes começando sua carreira artística, e trocando beijos de língua 3 vezes por quadro. Os diálogos se resumem basicamente a planos satânicos para retirar a azeitona de todas as empadas da cantina, ou para explicar porque novamente a cantora vai ter que faltar 2 meses de aula, em turnê com o namorado.

Chega a beirar o saudável. Exceto é claro, se o expectador é um adolescente gordinho, ou sem namorada. Aí é um problema que sobra pro psicólogo.

Falta ainda uns casais homossexuais, desses de televisão que são perfeitos: não brigam, não traem, não se desentendem, tudo é felicidade exceto a caretice de quem os cerca.

Isso não falta à novela das 8 (aquela que começa às 9h): tem tudo. Homem, menino, mulher, católico, espírita, americano, brasileiro, mexicano, paraguaio, político, policial, bandido, tarado, clepto, papa-anjo, homossexual, bi, tri, boi, vaca, piranha, jacaré, cobra, salsa, pagode, sertanejo, samba, tem até fantasma. Só falta ET. Os ufólogos estão possessos !!!

Assistir televisão sempre me faz sentir careta. Eu acho a homossexualidade normal, não tenho nenhum preconceito sobre o que dois adultos saudáveis fazem entre 4 paredes. Só que isso já virou ser careta.

A guerra dos sexos deste século deixa qualquer um louco. São os gays contra os bis, as drags contra os trans, os heteros contra os homos, os carecas contra os pittys, os mix contra os fashion, os metro contra os retro... não há local seguro contra os atos terroristas das inúmeras sub-facções armadas.

Como os outros homens, nunca tive problemas, por exemplo, em minha mulher ter amigos gays - isso nunca foi ameaça. Até chegar o século XXI:

Festa da empresa. Todo mundo muito jovem, moderno. Uma das gatas do escritório tá lá, solta na pista, se acabando de dançar. E os guerreiros mirando o alvo, trocando planos e definindo quem poderia atacar e quando.

Quando novamente se olha pra pista, a menina tá lá se acabando, mas dessa vez se esfregando com um viadinho do marketing. "Ah, é só dança, gente, o cara é boiola". Duas músicas depois os dois estão rolando na parede, aos beijos de língua e mãos nas bundas...

- Ué, mas Cycranno (chique ele) não é viado?

- É, ué. E daí, viado não pode pegar mulher?

As mulheres também não podem mais estar seguras, existem exemplos assustadores:

A mulher namora com o cara, sarado, bonito, barba sempre impecável, gentil, compreensivo, inteligente, amante das artes, carinhoso. Sabe tudo de vinho, cozinha, faz as unhas. Sabe dançar muito bem. Aliás, freqüenta festas rave. "Meu namorado é metrosexual" - diz ela.

Alguns dias depois sua amiga resolve fazer uma festa louca numa boate gay. "Não tem homem puxando seu cabelo, todo mundo é muito divertido, é uma maravilha, vamos lá". Então tá. Advinha quem estava lá, na meio da pista, sem camisa? "Menina, metrosexual demais seu namorado...".

Será que eu devia ser moderno? Eu sentia que podia estar perdendo o bonde da modernidade... Talvez eu devesse tentar. Pra ser moderno hoje em dia, no mínimo, no mínimo, você tem que praticar uma troca de casais, um swing, de quando em vez. Mas lembre-se que isso tem conseqüências...

Fulano costumava ir a casas de swing, levando sempre uma acompanhante "profissional". E uma vez lá dentro se deleitava com as acompanhantes dos outros. Fossem amigas, prostitutas, namoradas, esposas, etc, o que importava era fuder com algo que fosse de outra pessoa. Ah, sim, ele era advogado.

O fato é que aquilo ultimamente era a única coisa que o deixava excitado (ameaçar processar pessoas inocentes no trânsito e pequenos comerciantes já não gerava aquela sensação de poder), ao ponto de comparecer religiosamente toda semana.

Até a última vez... No escurinho do salão, começou uns amassos com a mulher que estava de costas. O encaixe era perfeito, o corpo era maravilhoso, quis conferir o beijo, virou lhe a cabeça e... "Fullannah???" (sim, Fullannah era muito chique). "Fulano???".

Encontrar a esposa na Só Suíngue de Jacarepaguá pode ser traumatizante para qualquer um.

Bom, então pra ser moderno eu poderia fazer sexo grupal. Mas o mais perto que cheguei de uma suruba foi um metrô lotado. Tinha um daqueles casais que não se desgrudam um segundo do meu lado, a mulher era bem bonita até, alta, cabelos escuros, e estava completamente pressionada contra mim. Eu estava um pouco tímido, não soube como agir, se abraçava ela por trás, enquanto beijava suavemente sua nuca, ou se agarrava seus cabelos e a puxava para um beijo de língua. O fato é que no instante seguinte, antes que pudesse decidir, fui jogado para a plataforma da estação Central, e não encontrava minhas chaves.

Quem não gostou dessa idéia foi a patroa. Careta. Então estava decidido: eu ia partir pra suruba solo. Peguei minha lata de Guaraná Kwat e fui pro bar mais legal da Gávea. Passou 1 hora e nenhuma mulher me agarrou. 2 horas e nada. Nem mesmo a garçonete. Pensei: tem algo errado, no comercial é imediato ! Mandei e-mail pro SAC mas nunca tive resposta.

Po, quem poderia dizer que é tão difícil ser sexualmente moderno? Com Internet por aí, orkut, os adolescentes se comendo mutuamente após as aulas (e até durante), por que eu não conseguiria? Se bem que internet é perigoso, quem não soube da história do GarotaoCarioca19 que marcou encontro no shopping com a CoroaQuente40, e terminou esbarrando com sua avó, com uma rosa entre os dentes (40 era o ano de nascimento, não a idade)...

Três ou quatro tentativas frustradas depois, desisti e resolvi pedir ajuda pra escrever a coluna. Afinal, a idéia de escrever sobre um macho do século passado querendo se tornar sexualmente moderno sem ter que encostar em outro homem se mostrou vazia.

Aparentemente, a pressão em escrever sobre esse assunto, as tensões do dia a dia, a má situação financeira e o excesso de álcool no sangue fizeram este modesto escritor ter ... Bem... Dificuldades em escrever. Porra, isso nunca me aconteceu antes...

A mesma dificuldade de chegar ao século XXI da revolução sexual. Acho que finalmente me tornei uma minoria. O bonde da era de Aquário passou, e eu fiquei.

É o dilema do homem moderno. Se engorda, é descuidado. Se chega aos 35 sem uma barriguinha de chope já recebe uns olhares de suspeita. Eu sempre disse pra minha esposa que mais vale um gordinho macho que um sarado boiola.

Por enquanto permaneço no século XX, talvez até volte ao XIX.


Diálogo Carioca:

Dois cidadãos pacatos conversam:

- Po, essa cidade tá violenta demais, soube que atropelaram meu irmão ontem? Atravessando o sinal na faixa de pedestres... Não era nem 11 da noite !

- Ué, eu soube que foi você quem atropelou ele...

- Sim, foi. É que eu não sou maluco de parar em sinal depois das 22 h.... Tá violenta demais essa cidade.

quinta-feira, 22 de setembro de 2005



Ordem, Progresso y otras cositas más

Estava assistindo o Fla x Flu na quarta, durante o show de uma amiga. É difícil se concentrar nas duas coisas ao mesmo tempo, mas quando o Pet bateu a falta e balançou a rede, o grito não foi em coro com a música. O juiz manda voltar - alívio - e então Tuta, com a mão e impedido, balança a rede novamente. Antes valesse o primeiro...

Nesse momento de tristeza, lembrei-me do discurso do Severino. Triste, forte, emocionante. Tive pena dele nesses últimos dias, e não falo brincando, é sério.

Porra, pena do Severino? É. Por que não?

Lembre que o cara foi colocado alí, presidente da câmara, numa "travessura" dos deputados, pelo desprezo do governo com relação à casa, principalmente ao tal "baixo-clero". O tal nariz empinado do Zé Dirceu, que até voltou à discussão durante a(s) CP(M)I(s).

Sim, uma travessura, daquelas que a criança faz pra chamar a atenção da mãe. Tipo colocar fogo no cabelo, ou preparar uma armadilha de urso para o irmão mais novo, ou dar descarga no remédio pra pressão da avó. Inocente assim.

Mas a gente mais cedo ou mais tarde aprende que fazer uma fogueira com meio litro de gasolina, e jogar nela um pneu velho amarrado com 5 "cabeções-de-nego" tem conseqüências... E alguém vai ter que arrumar água pra apagar o incêndio que já se alastra pela cerca de madeira do vizinho.

Foi assim com Severino. A piada passou, perdeu a graça, virou um leve constrangimento. Era necessário tirar ele dali. Não antes de humilhá-lo, como se fosse responsável pela própria eleição, seja pra deputado federal, seja pra presidente da câmara.

Sim, era necessário to Kill Severino.

Assim foi batizada a operação da polícia federal para eliminar o deputado federal pernambucano. A primeira tentativa, em conjunto com o FBI e a CIA, foi mandá-lo para Nova York em pleno 11 de Setembro. Ele passou o dia inteiro na torre do Empire States. Mas nada.

Então ofereceram ao sr. Cavalcanti e sua esposa um passeio de carro aberto pelas ruas do Brooklin, Harlem, Soho, Tribeca, com direito a um almoço em Hell's Kitchen. Severino, esperto, trocou esse circuito por um passeio de metrô na Z train Queens bound.

Incansável, a inteligência americana mandou que o levassem para Nova Orleans no dia seguinte, mas mais uma vez o cabra macho percebeu a manobra: "Se for pra ficar coberto de lama, num turbilhão de reviravoltas, e ver o teto cair à minha volta, diga ao povo que volto pra Brasília".

E assim foi.

Até que um integrante da delegação americana, o contador e advogado criminalista Terry Danislov - o mesmo que ajudou a prender Al Capone - teve uma idéia: "Dizem que no país todo mundo é corrupto, vamos prendê-lo por corrupção!". A equipe brasileira não conseguiu esconder o constrangimento: "Po, seu Danislov, não é bem assim... Primeiro que político não se prende, a gente obriga eles a renunciar. Segundo que se todo corrupto renunciar, o Brasil vai ser governado por uma junta para-militar de escoteiros-mirins..."

A começar que todo "convidado" à CPI leva sua autorização para o uso da mentira em defesa própria. "Isso é que é justiça". Até a equipe do FBI gostou. "É o direito à mentira, está na constituição", acrescenta o delegado brasileiro. "Igual aquela coisa da 1a. Emenda que vocês têm por lá". O pessoal da CIA concorda com a cabeça. "Nosso país foi fundado em princípios democráticos de Ordem, Progresso, Mentira e Delação Premiada. Sem isso, não há governabilidade. Sem governo não há poder. E sem poder o negócio fica desinteressante pra maioria...".

Só quem não gostou foi o obstinado contador americano, e já era tarde demais para tirar essa idéia da cabeça do gringo. Começou então a busca por provas de corrupção contra Severino. Documentos frios, transferências ao exterior, cartelas de bingo, qualquer coisa serverina, digo, serveria. Mas nada. Até que, finalmente, é encontrado um recibo escrito "Mensalinho" e um cheque com a assinatura:

X

"Essa era a prova que precisávamos", afirma o contador. O destino de Severino estava traçado. O último nó que faltava era cobrir os gastos da operação. Coincidentemente, a operação Navalha na Droga da Carne obteve os fundos necessários.

"Eu voltarei, o povo me absolverá!", brada, em sua renúncia. Kill Severino 2 ? Imperdível...


Falando nisso, essa coisa de marketing político tá em alta, depois do esquema revelado pelo Duda Mendonça e Valério-Duto. Os salários podem chegar a 9 mil reais, sem contar o por-fora (que pode chegar a 90 mil). E tem uns prospectos importantíssimos pra próxima eleição:

Garotinho. Sim, ele mesmo. Lí na Isto É que um renomado cientista político afirma que só trouxa não acredita na força do semi-bispo radialista. Já circula pelo meio alguns dos slogans: "Vote Garotinho e vá para o Céu", ou se a coisa esquentar, "Quem não vota em Garotinho vai pro Inferno". Depoimentos como: "Eu votei Garotinho e voltei a andar" também são válidos.

E o Lula provavelmente pode protelar contra esse governo corrupto neo-liberal e entreguista que aí está, sem mencionar que ele é o governo.

E finalmente, o Serra que, pra resolver sua total ausência de carisma e charme, pode se inscrever no BBB 5, no Fama, comer uma buchada de bode com farinha em Caruarú e, o mais importante, nascer de novo!

Quem se desesperou com isso, nada tema. Eu sempre votei nulo e as coisas nunca foram melhores. Só me pergunto: chegará o dia em que o brasileiro baterá no peito e dirá: "nunca ouve* um governo tão pouco corrupto como esse!"?? (*sim, do jeito que andam as escolas, o brasileiro mediano dirá assim, sem o "h").

Afinal, até o Flamengo acabou empatando o jogo... Quem sabe o Brasil não se livra do rebaixamento e permanece na terceirona, junto com Bahia e Vitória?


PS: Este foi o terceiro episódio da Quadrilogia da Polêmica: Política. O primeiro foi Dinheiro, o segundo Religião. Não perca quinzena que vem, Sexo ! Imperdível !


Cena carioca:

Uma campanha vem crescendo pelas ruas, em apoio à comunidade GLS. Se o motorista do carro à sua frente colocar a mão para fora e desmunhecar, buzine !

quinta-feira, 8 de setembro de 2005



Um grande pequeno golpe

Vinha conversando com um amigo do trabalho sobre o tema da coluna dessa semana. "Tem é que arrumar uma maneira de ganhar dinheiro", ele insiste nisso. Pois é, mas da conversa à ação o caminho é torto...

Comentei que havia um objetivo por trás disso aqui. Que eu queria seguidores, quase uma religião. Foi então que surgiu esse tema.

Existem algumas novas religiões nos Estados Unidos que vêm ganhando adeptos. A primeira é a teoria do Projeto Inteligente (Intelligent Design), que já está inclusive pra ser ensinada nas escolas. Reafirma o Creacionismo e diz que a ciência até hoje não conseguiu afastar a idéia de um propósito por trás de tudo que é vivo, e que, portanto, toda a Vida foi planejada por um Ser inteligente. Serve pra colocar mais lenha na fogueira em que Darwin queima por aquelas bandas de lá...

A segunda nasceu na Web, propõe um novo Creacionismo através do Monstro do Espaguete Voador (Flying Spaghetti Monster). Conta como esse simpático Ser, composto de espaguete e almôndegas, criou e mantém o mundo que conhecemos.

A minha proposta também é baseada na Internet, mas não traz respostas fáceis. Em compensação ofereceria várias vantagens. Em primeiro lugar, ao invés do dízimo, o únimo, "apenasmente" 1%. É a religião mais barata do mercado. Você ainda ganha descontos em estabelecimentos conveniados, concorre a prêmios, tudo isso enquanto acumula milhas de viagens.

A capital da nova religião mudaria todo ano, e todos os seguidores ficam obrigados a passarem por lá no mês sagrado. Viagem paga, é claro, com o cartão de afinidade da religião e pode usar as milhas acumuladas! O evento seria patrocinado por empresas de telefonia e transmitido via web.

Wikipedia é a nossa Bíblia. Você ainda pode orar pelo celular e pagar promessas por e-mails. Novenas via chat. Baixe o podcast do culto e ouça no seu iPod a caminho do trabalho.

Quer saber as empresas e produtos aprovados e reprovados da nossa seita? Acesse o website. Acompanhe as atualizações via RSS. Receba diariamente um SMS de fé e esperança.

Que tal? Mas se nenhuma delas agradar, não se importe. Nove entre dez novas religiões não sobrevivem ao primeiro ano.


Curtas cariocas

O rapaz distribuindo papelzinho ali perto da 13 de maio, estendia a mão esquerda e depois a direita:

-- Olha aí, olha aí, vamos lá. Pega dinheiro aqui, faz a festa aqui...

Anunciava na primeira mão empréstimos de uma financeira, na segunda os préstimos de um strip club. Isso é que é parceria em publicidade.

quinta-feira, 25 de agosto de 2005



Tem 1 real ?

Na terra onde quem rouba mas não mata já é considerado gente boa, é um sinal de que as coisas estão melhorando cada vez mais...

A questão agora é conter a onda do "tem 1 real".

Eu juro que no outro dia um cara melhor vestido que eu me pediu um real. Tá fogo mesmo ! "Que horas tem? Me dá um real ? ". Simples e inocente assim. "São duas e meia. Tenho não."

No metrô já tem uma fila pra quem vai comprar o bilhete e uma fila de quem vai pedir um real a quem passa.

Uma possível explicação é a perseguição ao fumo. Antigamente as pessoas pediam um cigarro. "Tem um cigarro ?". Nao podiam ver alguém fumando. Era uma coisa inocente, inofensiva. Apesar de chata. E isso ainda existe qualquer fumante vai confirmar.

Mas com essa onda de fumo ser politicamente incorreto, ao invés de cigarro, pedem um real. É politicamente mais correto. Agora que tem menos fumantes no mundo, cigarro pouca gente tem. Um real a maioria tem. Ou deveria ter.

Já é uma espécie de bico, de hora extra. No caminho de casa pro trabalho e do trabalho pra casa a pessoa aproveita pra pedir um real a quem passa. Deixou de ser vergonha. É quase uma moda. Tá complicado mesmo.

Tem gente que ao menos aparenta estar precisando... mas tem cada um também que você fica besta de ver a cara de pau. Sinceramente, quem precisa de um real ? Um real dá pra uns três pães... sem café. Mas olha o que tem de ONG por aí; tem mais ONG que gente carente o Rio. Se for no interior do estado eu entendo. Em plena Rio de Janeiro, boa coisa a pessoa não vai comprar...

E como ficam os mendigos com essa onda ? Tem mendigo que já jaz parte da cidade. Cartão postal. Tem a mulher que chora em frente ao Av. Central, tem o sujo aqui do Passeio, tem a velhinha da Lapa... Tem uma velhinha também que todo dia de manhã tá andando perto do Menezes Cortes. Ai de quem aparecer chorando e pedindo um real no ponto dela ! Se todo mundo pode agora pedir um real, de que adianta ser mendigo ? Quando passa o pessoal do Convento oferecendo ajuda, eles viram a cara. Quanto passa um pessoal da igreja que ajuda aqui também, eles nem ligam.

A prefeitura podia oferecer cadastro pra quem pede um real, igual de camelô. Uma espécie de camelódromo, um "medaumrealdromo". As ONGs vão ficar ao redor, e no centro da praça os pedintes em suas barracas, contando suas histórias. A que você gostar mais, compra ! Pode pagar até no cartão.

Aliás, tem 1 real ?

quinta-feira, 16 de junho de 2005



Vem aí...

... Mamendex ...
... A fronteira entre a realidade e a imaginação ...

... Aguarde !

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