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Humor, crítica, crônica, comédia e sátira sobre o Rio de Janeiro, o Brasil e o Mundo |  Defendendo o humor inteligente do Capitalismo e do Aquecimento Global, antes que se torne brinde de pasta de dentes

quinta-feira, 20 de outubro de 2005



Paradoxalmente correto

A gente assiste os comerciais na TV e fica lembrando dos bons tempos da propaganda brasileira. Demitiram o cara da Bombril porque ele era muito sóbrio, tranqüilo, não tinha o menor sex-appeal, não era fashion, pop, mix, não servia pra vender produtos gold, premium, plus, só o Bombril. Aliás, hoje ningué anuncia palha de aço, hoje é Steel Straw Advanced. Tabajara. Com bebês black power. "Pegue um deles e esfregue sua panela". Esfregar o bebê???? Não, pô, o produto.

Mas essa perseguição com comerciais e programas de TV ganhou níveis de caça às bruxas, intolerantes. Se a montadora quer anunciar um carro potente e mostra alguém correndo em duas rodas pelo centro da cidade, pronto, lá estão os defensores das leis de trânsito.

É só um anúncio de cerveja mostrar dúzias de gatas de biquíni apaixonadas pelo gordinho de bigode tomando um chopp no boteco, ou jovens completamente em forma se beijarem aos montes para aproveitar o gostinho do refrigerante, que lá vem a patrulha da incoerência.

Pô, já não se pode fazer um comercial de loteria em que toda a cidade fica milionária, só porque a chance de alguém ganhar é de uma em 1 milhão?? Pra mostrar que um baton deixa a mulher mais bonita eu não posso colocar uma tribufú com uma plaquinha escrita "antes" e a Gisele Bündchen seminua tatuada "depois"???

É por essas e por outras, que a TV aberta só anuncia empréstimos pessoais a aposentados e funcionários públicos, através de atores não-aposentados e não-funcionários-públicos. "Passa confiança, já que o ator é uma pessoa que nunca fingiria ser algo que não é por dinheiro", me explica um conhecido do ramo.

Os anunciantes estão cercados. Se anunciam pra pobre, são populistas, apelativos. Se anunciam pra rico são elitistas, segregadores. Não podem mostrar um carro correndo, não podem mostrar mulher de biquiní, não podem insinuar sexo ou nudez... A patrulha das boas normas nos comerciais talvez devesse tomar uma cerveja antes de assistir TV, ou dar uma volta de carro pra desestressar.

De quê precisa um comercial para que ninguém reclame, e ainda assim ele ajude a vender seu produto? Precisa ser honesto, isso é fácil. Ajuda um pouco o bom humor. Evitar estereótipos ou então exagerá-los para que fiquem óbvios, isso também. "Nada disso. Basta o comercial ser politicamente correto", afirma um patrulhista, se revelando.

Lembra da tal cartilha do politicamente correto? Não se pode chamar obesos de baleias, garotas sexualmente desinibidas de piranhas, intelectualmente desfavorecidos de burros, nem aqueles de higiene pessoal duvidosa de porcos. Os animais é que saíram ganhando com isso (para mais piadas sobre a tal cartilha consulte episódio do Casseta & Planeta).

Alguém consegue imaginar algo mais inimaginável que o significado da expressão "politicamente correto"? "Subir pra baixo", se você pensar bem, pode fazer sentido, tudo é relativo. Mas "político" e "correto" são termos absolutos, e que não se misturam. Como água e óleo. O que pode ser ao mesmo tempo, político e correto ?

Por exemplo, delatar seus amigos pra CPI, confessando os crimes de todos e se fazendo passar por bonzinho... É uma atitude política com certeza, mas é uma atitude correta? E falar das falcatruas da sua (ex-) esposa ou do seu (ex-) marido? É político? Talvez... É correto? Quem sabe... Mas de alguma maneira, forçando a barra, é politicamente correto ???

Não de jeito nenhum. Nada é politicamente correto. Assim como nada é Flictz*. Ou melhor, a Lua é flictz. Seria a Lua politicamente correta? Lá de cima... Na calada da noite... Entre as nuvens, branca, pálida... Ou na beirinha do horizonte, grande e amarelada... Mexendo com as marés, causando calores nas donzelas, assanhamento nos rapazes, revelando lobisomens. É só ela aparecer e começam as libertinagens. Se ela se esconder, e a noite ficar ainda mais escura então, aí é que ninguém é de ninguém...

Não, a Lua não é politicamente correta.

Se a Lua não é, o Sol que é seu oposto, seria? Grande, brilhante, e que tudo revela... Enviando energia infinita... E concorrendo com o Petróleo. Causando câncer de pele, aquecendo a Terra além da conta, derrubando aviões com suas tempestades solares, pronto para engolir todo o sistema solar...

Não, tampouco o Sol é politicamente correto.

Bom, não vai ser no céu que vamos achar algo politicamente correto. Muito menos em Brasília. Talvez no Vaticano. Não, o Papa não pode ser politicamente correto, até porque não pode ser muito político, precisa defender a doutrina de sua fé. Excluímos também, portanto, padres, bispos, pastores, rabinos, coroinhas e qualquer outra pessoa ligada à qualquer religião.

O politicamente correto não tem religião. Nem time, ou partido. Nem cor ou raça. Nem sexo, quer algo mais politicamente incorreto do que simplesmente tocar no assunto sexo? Sexo cada um tem o seu, vamos procurar em outro lugar.

Na natureza. O leão é politicamente correto? Comendo zebras e leoas, várias por dia... Dormindo a maior parte do tempo. Não, sem chance. Nenhum carnívoro, nem herbívoro; afinal, as plantas também têm direito à vida.

Peraí... Seria politicamente correto afirmar que algo não é politicamente correto? Estaria eu sendo politicamente incorreto durante todo o texto até agora? Estaria este escritor blogueiro no auge do distúrbio de seus sistemas vestibulares? Tô doido?

A busca pelo politicamente correto poderia se transformar, muito bem, numa nova área da filosofia. O politicamente correto não pertence à estética, nem à lógica, nem à metafísica, talvez uma mistura da ética com a política. Talvez seja uma espécie de Santo Graal moderno, que dará poderes plenos de negociação e marketing a quem encontrá-lo. Isso pode ser bem útil, num mundo em que até parabenizar um casal pelo herdeiro que chega é, ético-politicamente falando, parabenizar alguém por ter feito sexo sem proteção 9 meses atrás...

Ao chegar ao pé deste texto, reflito se a quantidade exagerada de perguntas e a completa ausência de um "ponto" ou conclusões não o tornam vazio e inútil, tal qual a busca em questão. Mas lembro, satisfazendo-me, frase minha própria, e a cito, reconfortado: afinal, nenhum livro deveria ter mais respostas que perguntas... .

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* Ler Ziraldo; não só Flictz, mas todos dele!!


Segura Fenômeno!

Essa me contaram, pode ser verdade ou não. Mas reza a lenda que seguiam num vôo comercial qualquer vindo de Belém, Ronaldo, Ronaldinho Gaúcho, Cafú, Roberto Carlos e outros titulares poupados contra o Chile. Os outros passageiros do vôo custaram a acreditar na cena, tão improvável, e simplesmente olhavam, pasmos. Até que uma senhora se aproxima do Fenômeno:

- Desculpa, você é aquele jogador de futebol, não é? O Ronaldo?
- Sô, sim senhora.
- Você podia me dar um autógrafo?
- Claro.

E o careca assina o papelzinho e devolve à fã, que de forma simpática, aponta pro sonolento Roberto Carlos e pergunta baixinho:

- Aquele alí também é jogador, não é?

No que Ronaldo, de bate-pronto:

- É sim senhora. É o Dunga.
- Ah, bem que eu estava reconhecendo...

segunda-feira, 17 de outubro de 2005



Vote, talvez

Edição Especial: Plebiscito do Desarmamento

Atenção: está é uma matéria comprada que não necessariamente está alinhada com a nossa opinião editorial. Os únicos responsáveis por ela são os patrocinadores, cujas identidades serão mantidas em sigilo por puro clichê mercadológico.

Não aguento mais receber spam sobre como eu devo votar NÃO. Assim, em MAIÚSCULAS. Como seu eu fosse SURDO. Ou BURRO.

"Vote NÃO pela sua segurança". "Vote NÃO e ninguém se machuca". "Vote NÃO e os bandidos vão cagar de medo".

Eu fico imaginando que a situação corrente é o não, certo? Hoje em dia qualquer advogado, juiz, despachante ou funcionário público tem uma arma, certo? Basta entender da burocracia da Colônia de Santa Cruz das Províncias do Sul. Qualquer coronel, sinhozinho, bemfeitor, bandeirante, qualquer um destes tem uma arma. Sólida, rígida, limpa, cromada, brilhante, fálica, cheia de balas, pronta para cumprir seu dever, seja de expulsar os que ofendam à propriedade a família a honra, seja pra expulsar comunistas comedores de criancinhas. Se a situação está assim como está, não foi por falta de armas...

Citam que Hitler desarmou a população "antes de exterminá-la". Que eu me lembre bem (sim, eu nasci há 10 mil anos atrás), Hitler tentou um golpe de estado, fracassou, e então conseguiu ser eleito. Daí ele aproveitou toda a frustração alemã, de ainda pagar pelos danos causados na 1a. Guerra para encontrar um culpado: os estrangeiros (ele mesmo era austríaco!), em especial os judeus, que "sugavam a riqueza do povo", tão sofrido. E então, enquanto ele unia todos os arianos da europa, canalizou todo o ódio retido e o usou para cadastrar, confiscar, separar, escravizar e então, finalmente, exterminar o povo semita. Portanto, relaxe, o presidente ainda vai criar guetos, campos de trabalho e só então vai exterminar o SEU PRÓPRIO povo, desarmado. Pra quê eu não sei, mas se você não votar NÃO ele vai, claro que vai, é lógico que vai.

Afirmam que ter arma em casa é seguro, basta não deixar à vista ou engatilhada. Que os filhos nunca sabem onde o pai guarda a arma. Dizem também que suas filhas de 17 anos são virgens... E que seus filhos não usam drogas. Não, com toda certeza eles nunca, num acesso de abstinência de heroína, pegariam a arma dos pais pra fazer besteira.

Falam como se estar armados evitasse assaltos, na rua ou em casa. Quantos policiais morrem em assalto, por causa dessa simples regra: se você está armado tem que sacar; se você sacar, tem que atirar; se você atirar, tem que matar. O que era um assalto, vira uma tragédia. E você, está preparado pra matar ou morrer pelo seu celular? O bandido está.

Alertam que sabendo que ninguém tem armas os bandidos vão fazer a festa... E o que eles estão fazendo agora? A cidade do Rio é mais violenta que a Bagdá de hoje, a Bogotá de ontem e a Chicago dos anos 30. Juntas. Alguém precisa alertar urgente ao bandidos, então, de que hoje existe gente armada !

Dizem também que é preciso ter arma para estar seguro. Eu nunca tive arma, conheço poucas pessoas que têm, mas ninguém nunca sentiu tanta falta delas pra ficar seguro, até tocarem no assunto. Mas aí chega-se ao cúmulo desta campanha do des-desarmamento: "Você não precisa estar armado, basta que ALGUÉM esteja". Ótimo, vou andar pelas ruas muito mais seguro sabendo que algumas pessoas estão armadas. Vou relaxar na praia. Vou descer do carro pra discutir o prejuízo muito mais tranquilo. Vou jogar uma partida aguerrida de futebol com toda a serenidade. Vou pular o muro e dar uns pegas na filha do vizinho em paz. Vou saber que meu irmão mais novo está num show no Olimpo ou na Apoteose e vou dormir sereno. Vou ao Maracanã tirar sarro do time perdedor, crente no espírito esportivo do adversário.


Por outro lado...

Do alto do meu prédio com portaria 24 h, portão eletrônico, rua patrulhada pela PM, câmeras de segurança, vizinhos por perto, não me sinto bem pensando em quem tem uma pequena propriedade no interior do Mato Grosso, do Amapá, do sertão (ser tão longe). Principalmente quando penso que uma facção criminosa menor, frustrada, expulsa do Comando Vermelho, pode resolver se alojar no interior brasileiro, pra ter uma vida mais tranqüila, longe do corre-corre das capitais.

Não me sinto bem quando penso que na cidadezinha de Conceiçãozinha Caiu do Leste, o prefeito e o delegado são amigos de infância, e donos das maiores propriedades do local. Ai de quem passar no caminho deles.

Não consigo deixar de pensar no exemplo da comunidade carioca (não vou citá-la) que consegue manter o tráfico longe, às custas de muito esforço e coragem. Sem o comércio de armas talvez ela seria mais uma comunidade escravizada pelo poder dos traficantes.

Também não consigo acreditar que as dezenas de fuzis americanos, russos, israelenses, austríacos, os lança-foguetes, as bazucas, etc. que estão nas mãos de nossos traficantes sejam fabricadas no Brasil. Porque se forem, nós poderíamos estar ganhando um bom dinheiro vendendo equipamento pro exército americano.

Não gosto, tampouco, da idéia de fechar toda a atividade relacionada a armas do país (fábricas, lojas, clubes, etc); emprego é emprego, e o povo precisa de cada um deles...


Portanto...

Vou manter minha política e votar em quem sempre voto. Nunca falhou e nunca me arrependi. Tenho certeza que, quando mais pessoas votarem como eu, nossa situação vai melhorar.

Só não posso dizer em quem pois não quero fazer apologia ao voto nulo...



Moral da história:

1) Não me mande e-mails sobre como eu devo votar. Já não me basta o tempo na TV.
2) Não me mande e-mails ameaçadores, eu não sou burro
3) Não me mande e-mails com maiúsculas, eu não sou cego nem surdo
4) Não finja saber do que você não sabe, deixe essa parte comigo....
5) Quer ser um super-herói e salvar sua família? Mantenha os jovens longe das drogas e perto do estudo e das camisinhas.

quinta-feira, 6 de outubro de 2005



A nova guerra dos sexos

Chato de ir ao médico é esperar mais de 1 hora por uma consulta de no máximo 20 minutos. Vai entender. Eles marcam a consulta de 15 em 15 minutos. Às vezes de 10 em 10. Como se nunca fossem ao banheiro ao longo do dia. E como nunca atendem nesse tempo, quem marca pro fim do dia sofre com atrasos enormes.

Mas o pior da espera é assistir a novela das 6. Antes era Kubalançando. O que era aquele cara-sem-camisa interpretando 4 papéis? Agora é Alma Gêma. O que é o sotaque do Edu Moscovita e daquela índia italiana?

Molhação ainda dá pra aturar. São duas dúzias de adolescentes começando sua carreira artística, e trocando beijos de língua 3 vezes por quadro. Os diálogos se resumem basicamente a planos satânicos para retirar a azeitona de todas as empadas da cantina, ou para explicar porque novamente a cantora vai ter que faltar 2 meses de aula, em turnê com o namorado.

Chega a beirar o saudável. Exceto é claro, se o expectador é um adolescente gordinho, ou sem namorada. Aí é um problema que sobra pro psicólogo.

Falta ainda uns casais homossexuais, desses de televisão que são perfeitos: não brigam, não traem, não se desentendem, tudo é felicidade exceto a caretice de quem os cerca.

Isso não falta à novela das 8 (aquela que começa às 9h): tem tudo. Homem, menino, mulher, católico, espírita, americano, brasileiro, mexicano, paraguaio, político, policial, bandido, tarado, clepto, papa-anjo, homossexual, bi, tri, boi, vaca, piranha, jacaré, cobra, salsa, pagode, sertanejo, samba, tem até fantasma. Só falta ET. Os ufólogos estão possessos !!!

Assistir televisão sempre me faz sentir careta. Eu acho a homossexualidade normal, não tenho nenhum preconceito sobre o que dois adultos saudáveis fazem entre 4 paredes. Só que isso já virou ser careta.

A guerra dos sexos deste século deixa qualquer um louco. São os gays contra os bis, as drags contra os trans, os heteros contra os homos, os carecas contra os pittys, os mix contra os fashion, os metro contra os retro... não há local seguro contra os atos terroristas das inúmeras sub-facções armadas.

Como os outros homens, nunca tive problemas, por exemplo, em minha mulher ter amigos gays - isso nunca foi ameaça. Até chegar o século XXI:

Festa da empresa. Todo mundo muito jovem, moderno. Uma das gatas do escritório tá lá, solta na pista, se acabando de dançar. E os guerreiros mirando o alvo, trocando planos e definindo quem poderia atacar e quando.

Quando novamente se olha pra pista, a menina tá lá se acabando, mas dessa vez se esfregando com um viadinho do marketing. "Ah, é só dança, gente, o cara é boiola". Duas músicas depois os dois estão rolando na parede, aos beijos de língua e mãos nas bundas...

- Ué, mas Cycranno (chique ele) não é viado?

- É, ué. E daí, viado não pode pegar mulher?

As mulheres também não podem mais estar seguras, existem exemplos assustadores:

A mulher namora com o cara, sarado, bonito, barba sempre impecável, gentil, compreensivo, inteligente, amante das artes, carinhoso. Sabe tudo de vinho, cozinha, faz as unhas. Sabe dançar muito bem. Aliás, freqüenta festas rave. "Meu namorado é metrosexual" - diz ela.

Alguns dias depois sua amiga resolve fazer uma festa louca numa boate gay. "Não tem homem puxando seu cabelo, todo mundo é muito divertido, é uma maravilha, vamos lá". Então tá. Advinha quem estava lá, na meio da pista, sem camisa? "Menina, metrosexual demais seu namorado...".

Será que eu devia ser moderno? Eu sentia que podia estar perdendo o bonde da modernidade... Talvez eu devesse tentar. Pra ser moderno hoje em dia, no mínimo, no mínimo, você tem que praticar uma troca de casais, um swing, de quando em vez. Mas lembre-se que isso tem conseqüências...

Fulano costumava ir a casas de swing, levando sempre uma acompanhante "profissional". E uma vez lá dentro se deleitava com as acompanhantes dos outros. Fossem amigas, prostitutas, namoradas, esposas, etc, o que importava era fuder com algo que fosse de outra pessoa. Ah, sim, ele era advogado.

O fato é que aquilo ultimamente era a única coisa que o deixava excitado (ameaçar processar pessoas inocentes no trânsito e pequenos comerciantes já não gerava aquela sensação de poder), ao ponto de comparecer religiosamente toda semana.

Até a última vez... No escurinho do salão, começou uns amassos com a mulher que estava de costas. O encaixe era perfeito, o corpo era maravilhoso, quis conferir o beijo, virou lhe a cabeça e... "Fullannah???" (sim, Fullannah era muito chique). "Fulano???".

Encontrar a esposa na Só Suíngue de Jacarepaguá pode ser traumatizante para qualquer um.

Bom, então pra ser moderno eu poderia fazer sexo grupal. Mas o mais perto que cheguei de uma suruba foi um metrô lotado. Tinha um daqueles casais que não se desgrudam um segundo do meu lado, a mulher era bem bonita até, alta, cabelos escuros, e estava completamente pressionada contra mim. Eu estava um pouco tímido, não soube como agir, se abraçava ela por trás, enquanto beijava suavemente sua nuca, ou se agarrava seus cabelos e a puxava para um beijo de língua. O fato é que no instante seguinte, antes que pudesse decidir, fui jogado para a plataforma da estação Central, e não encontrava minhas chaves.

Quem não gostou dessa idéia foi a patroa. Careta. Então estava decidido: eu ia partir pra suruba solo. Peguei minha lata de Guaraná Kwat e fui pro bar mais legal da Gávea. Passou 1 hora e nenhuma mulher me agarrou. 2 horas e nada. Nem mesmo a garçonete. Pensei: tem algo errado, no comercial é imediato ! Mandei e-mail pro SAC mas nunca tive resposta.

Po, quem poderia dizer que é tão difícil ser sexualmente moderno? Com Internet por aí, orkut, os adolescentes se comendo mutuamente após as aulas (e até durante), por que eu não conseguiria? Se bem que internet é perigoso, quem não soube da história do GarotaoCarioca19 que marcou encontro no shopping com a CoroaQuente40, e terminou esbarrando com sua avó, com uma rosa entre os dentes (40 era o ano de nascimento, não a idade)...

Três ou quatro tentativas frustradas depois, desisti e resolvi pedir ajuda pra escrever a coluna. Afinal, a idéia de escrever sobre um macho do século passado querendo se tornar sexualmente moderno sem ter que encostar em outro homem se mostrou vazia.

Aparentemente, a pressão em escrever sobre esse assunto, as tensões do dia a dia, a má situação financeira e o excesso de álcool no sangue fizeram este modesto escritor ter ... Bem... Dificuldades em escrever. Porra, isso nunca me aconteceu antes...

A mesma dificuldade de chegar ao século XXI da revolução sexual. Acho que finalmente me tornei uma minoria. O bonde da era de Aquário passou, e eu fiquei.

É o dilema do homem moderno. Se engorda, é descuidado. Se chega aos 35 sem uma barriguinha de chope já recebe uns olhares de suspeita. Eu sempre disse pra minha esposa que mais vale um gordinho macho que um sarado boiola.

Por enquanto permaneço no século XX, talvez até volte ao XIX.


Diálogo Carioca:

Dois cidadãos pacatos conversam:

- Po, essa cidade tá violenta demais, soube que atropelaram meu irmão ontem? Atravessando o sinal na faixa de pedestres... Não era nem 11 da noite !

- Ué, eu soube que foi você quem atropelou ele...

- Sim, foi. É que eu não sou maluco de parar em sinal depois das 22 h.... Tá violenta demais essa cidade.