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Humor, crítica, crônica, comédia e sátira sobre o Rio de Janeiro, o Brasil e o Mundo |  Defendendo o humor inteligente do Capitalismo e do Aquecimento Global, antes que se torne brinde de pasta de dentes

quinta-feira, 13 de dezembro de 2007



Mensagem de Fim de Ano (2007)

E se Papai Noel existir?

Este ano meu primeiro filho nasceu. E agora se aproxima seu primeiro Natal. Às vezes olhando seu rostinho alegre dá pra imaginar sua fisionomia quando ele for mais velho. A carinha com que ele vai pedir presentes. O sorriso com que ele vai recebe-los.

Penso quais serão minhas preocupações. Devem existir pais por exemplo preocupados em que o filho não descubra se Papai Noel existe ou não pela Internet. E não vai ser num texto meu que alguém vai descobrir isso. Até porque eu mesmo tenho minhas dúvidas.

Acredito que nada de bom surge ao acaso. Nem se mantém a custo de nada. Tudo de bom no mundo depende do esforço e dedicação das pessoas de bem. Assim é o Natal.

Se você acha que no meio de tanto consumismo o Natal perdeu a magia, é porque você entregou os pontos. Muita gente se recusa a faze-lo.

Por exemplo, há décadas os Correios dão tratamento especial às cartinhas endereçadas ao bom velhinho, unindo as crianças carentes cheias de esperança aos papais noeis de bom coração. Assim é a campanha Papai Noel dos Correios. Você vai até uma agência (aqui no Rio, a da Presidente Vargas), lê as cartinhas, escolhe uma ou mais e dá o presente para que eles entreguem.

Quem vai sugerir àquela criança feliz de que Papai Noel não exista?

Bom Natal, Feliz 2008.

sexta-feira, 7 de dezembro de 2007



Esse é pra cassar

E eis que Renan teve êxito onde o Corinthias falhou: escapar da segunda. Numa manobra mais do que esperada Renan renunciou. Mas só à Presidência do Senado. Horas depois, absolvido e aliviado pela segunda vez em um ano, retomou o trabalho de Senador, o qual só teve oportunidade de cumprir por 4 meses esse ano, embora os 20 salários, bônus, jeton, cotas e tudo o que tem direito esteja garantido até o fim do mandato.

Ou vão julgar o cara uma terceira vez? Aí nem eu aguento.

Com este segundo segundo mandato, serão 16 anos a serviço da nação brasileira. O que dá direito a aposentadoria com salário integral. Mais que merecidos.

Falar nisso, a boa notícia é que o povo brasileiro está vivendo mais. E por isso tem a oportunidade de ter mais desgostos, em especial com o trabalho e com o valor de sua pensão, já que graças às regras de previdência pública, quanto mais o povo vive, mais ele trabalha e menos ele recebe.

Já tem gente torcendo pra violência no Rio aumentar e assim a expectativa de vida cair novamente.

Lobão já dizia que é melhor viver 10 anos a mil do que mil a 10. E olha que mil cruzeiros não compravam nada em 86.

segunda-feira, 3 de dezembro de 2007



99 pequenos balões

O post de hoje é musical. Aproveitando o Twitter Music Day, fiz uma versão para 99 Red Balloons do Goldfinger, que é uma versão em inglês do original da Nena, em alemão.


Nós dois numa loja de brinquedos
Compramos balões com pouco dinheiro
Soltamos todos de manhã
Até que todos eles se vão
Num quartel, bugs no software
Mensagens acendem: tem algo lá fora
Soltos num céu de brigadeiro
99 pequenos balões a voar

99 pequenos balões
Voando num céu de brigadeiro
Sinal de alerta, alerta vermelho
Tem algo aqui de outro lugar
A máquina de guerra a acordar
Abre os seus olhos sinistros
Foca os no céu vermelho
São 99 pequenos balões a voar

99 grandes decisões
99 grandes reuniões
O que será no horizonte?
Chamem as tropas nesse instante
Isso é o que nós esperamos
Agora em guerra nós marchamos
É o presidente ao telefone
São 99 pequenos balões a voar

99 generais
Tragam pólvora e gasolina
Dane-se a aristocracia
Chamem os cientistas
Tragam cigarros e máquinas
Tragam ódio para a guerra
Venham todos ao combate
Contra os 99 pequenos balões
Os 99 pequenos balões

99 sonhos que eu tive
Em cada um, um pequeno balão
Agora que nada me importa
Sobre as cinzas de onde nasci
Podia achar alguma coisa
Pra provar o mundo que vi
Pode ser um pequeno balão
Pensando em você, ele se vai

quinta-feira, 22 de novembro de 2007



Jogos Mortais (de Filosofia)

Tenho andado sonolento. Hoje cedo fui esquentar o leite no microondas. Acabei conseguindo ligar o aparelho com a tampa aberta. Liguei correndo para o meu médico:

- Doutor, aconteceu um acidente.
- Quem é?
- É o Marcelo. Aconteceu um acidente.
- O que houve?
- Aconteceu um acidente e não sei o que fazer.
- Mas que tipo de acidente??
- Com o microondas. O que eu faço, rápido,pra proteger meu DNA?
- Proteger o quê?
- Meu DNA! Eu não quero virar um mutante...
- Cara, você consegue ir pro meu consultório? Eu tô a caminho de lá.
- Tá, eu chego lá num instante. Até já.
Deve ser exagero, mas com todos esses filmes de super-herói eu tenho medo de me expor a microondas, inseticida, raios cósmicos, a luz da Lua, sei lá. Porque se eu ganhasse super-poderes, com minha raiva não controlada e minha racionalidade exagerada, eu com certeza me tornaria um super-vilão, sádico e psicopata.

Mas meu médico não compartilha do meu zelo, e me encaminhou para terapia. "Já faço terapia, Doutor". "Cara, tira umas férias e descansa".

Bem que eu gostaria, mas o trabalho tem acumulado no escritório e, aliás, eu já estava bem atrasado.

Corri para o metrô, almocei qualquer coisa, e subi de escada até o primeiro andar (são 10 lances de escada, vai entender porque o primeiro andar fica no quinto piso). Fui ao banheiro, encontrei um amigo ali no mictório. "E aí? Tudo certo?". "Tudo certo...". Ficou aquele clima estranho, aquele silêncio chato como se o papo devesse continuar. Sabe aquela coisa da urina simplesmente não sair? Inventei qualquer coisa, de improviso:

- Já pensou que se não fosse o mictório e as divisórias seríamos simplesmente dois homens lado a lado com o dito-cujo na mão?
- Hein...?
- Deixa pra lá, tô filosofando demais hoje.
Talvez esteja filosofando demais desde há muito tempo.

sexta-feira, 9 de novembro de 2007



Coração Suburbano

Existem coisas que eu simplesmente não entendo. Uma delas é comercial de perfume. Outra é como numa cidade do porte do Rio de Janeiro pode ainda existir tanta demanda reprimida.

Veja bem, nasci, me formei, me casei e me reproduzi na Zona Norte. Morava na região da Leopoldina e agora na Tijuca. Em Olaria, vira e mexe falta água (por mais de 15 dias). A única rede de pizzarias famosa que atende é a Mister Pizza! Todos os cinemas fecharam, e olha que nem foi pra virar igreja. Foi um martírio conseguir, por exemplo, empresa que me fornecesse banda larga (meus amigos da zona sul já surfavam via cabo ou rádio há mais de 5 anos quando finalmente apareceu a primeira conexão a 256kbps por lá).

É chato saber que a maior parte da cidade, com o maior número de habitantes, passa despercebida por quem deveria ter melhor visão. É o que dá uma Dinastia de prefeituras Zona Sul e Barra... Tiram os mendigos de lá, jogam pra cá, e pronto. Gastam tubos pra despoluir as praias de lá, e cá mal tem água. Colocam estátua e fazem a jardinagem nas praças de lá, e cá o asfalto é só buraco, a calçada também.

Conversando com o gerente de marketing de um restaurante famoso sobre essa escassez de serviços, ele me perguntou: "Ué, e o pessoal lá tem dinheiro pra comprar pizza?". "Não, lá a gente come terra e bebe água da chuva".

O fenômeno do celular finalmente mostrou a todos (que queriam ver) que suburbano consome, claro. Alguém já passeou em Madureira perto do Natal? Existe lugar no mundo mais dedicado ao comércio? Nenhum shopping de Miami se compara. Eu chutaria que o PIB verdadeiro da cidade do Rio (contando o mercado informal) tem a sua maior fonte num raio de cinco quarteirões da estação Madureira.

Estive por lá no fim do ano passado. Era uma bela manhã de sábado. O mês de dezembro acabara de chegar prometendo um grande verão para a cidade. Os pássaros cantavam, os motores roncavam, os carros buzinavam, o calor aumentava, os guardas apitavam, os camelôs gritavam, nenhum vento soprava, as lojas lotavam, as pessoas empurravam e compravam, como compravam!

Comprei boa parte das coisas do bebê por aquelas bandas. Tudo bonito e de qualidade. Lembrei de quando ia à Madureira para estudar (fiz o pré-vestibular e o curso de inglês ali) e namorar (foi onde conheci minha esposa). Nessas memórias a calçada da Carolina Machado nem era tão infernal assim...

quarta-feira, 31 de outubro de 2007



Capitão Brasil

E tantos anos depois de Macunaíma e João Grilo, o Brasil tem um novo herói nacional. Capitão Nascimento mostra aquilo que o mundo já sabe: não se faz uma omelete sem quebrar ovos. Não se faz um bolo sem quebrar ovos. Aliás, antes de mais nada é sempre bom quebrar uns ovos.

Se para combater a recessão nos EUA surgiu o Super-homem, pra chutar o traseiro do Hitler e saudar os Marines surgiu o Pato Donalds, e pra dar voz aos liberais e cutucar os Republicanos surgiram Os Simpsons, nosso Capitão surge pra finalmente homenagear os policiais cariocas, que diariamente colocam o peito na linha de tiro pra defender a segurança de nosso estado, além é claro de liberar a gente daquela multa mediante a cervejinha.

Contradições à parte, há muito tal Corporação merecia algo mais que um tapinha nas costas. Quando um traficante morre ou é preso ele fica famoso, vira até mártir pros funkeiros, pra OAB e pros Direitos dos Humanos. Quando um policial morre ele é nota de pé de página. E pra galera do status-quo, não fez mais que seu dever de garantir a segurança para que os advogados e juízes possam viver suas vidas tranquilos - e longe de tiroteio.

Nessa terra de muitos contrastes e pouco brilho, tem marginal querendo ser preso só pra realizar o sonho de andar de avião sem enfrentar fila de guichê. E tem classe média consumindo drogas pra aliviar a pressão: "Ah, nada a ver, as drogas sempre existiram". Ué, e quando a violência foi inventada??

É uma coisa que eu sempre digo: enquanto for difícil diferenciar castigo de recompensa, vai ser difícil escolher entre boas e más ações.

sábado, 20 de outubro de 2007



Fim de semana no shopping

Fui no fim de semana passado a um shopping da zona norte no Rio. Não posso dizer o nome, mas é aquele shopping que vira e mexe é metralhado de madrugada. Pois bem, lá fui com minha esposa, meu filho, meus irmãos, minha cunhada e meu sobrinho.

Almoçamos num botequim por lá. Não posso dizer o nome tampouco. Quer dizer, não posso é maneira de dizer, não quero. Não recebo pra isso. Se recebesse falaria em bom som: "Fui almoçar no Botequim Informal, nossa, que delícia o filé à milanesa". Mas se falasse isso de graça, porque haveria de ser pago um dia?

Dessa maneira, almocei num botequim qualquer, comi um file à milanesa normal. Bebi dois chopes regulares.

Ao fim do banquete, claro, café na mão (de uma determinada rede de lojas de café), meu sobrinho pediu para ir ao fliperama (eu sei, ninguém mais usa essa palavra) e nós é claro, atendemos.

O nível de estresse que já estava baixo, beirou -40° (tanto faz F ou C) enquanto disputava uma partida de Barcelona x Brasil, com direito a dois Ronaldinhos em campo.

Mas tudo que é bom, acaba. Resolvemos dar uma voltinha, quer dizer, uma volta (voltinha é o que a mulher faz pra gente analisar se aquela roupa deixou a bunda empinada) no shopping.

Pra resumir, a tarde de domingo num shopping do Rio, em três cenas.

O desastre começa durante a semana mesmo:

- Vai fazer o que Domingo?
- Ah, tava pensando em comprar uma casquinha no Mac e dar uma sentada no shopping...
- Ih, tem que chegar cedo lá então.

O terror não se limita aos jovens:
- Ih, deixa eu pegar o ônibus correndo, porque fulaninho já tá com a fralda toda cagada e eu vou lá no shopping trocar ele no fraldário.
- Aproveita e trás hipoglós num lencinho que o daqui já tá acabando.

Pra desestressar, minha mulher resolve fazer compras:
- Oi, gostei daquele jogo verde ali, quanto tá?
- Deixa eu confirmar... Trinta e nove e noventa.
- Beleza, vou levar.
- Só um instante... Humm, não tenho mais dele não.
- Bom, eu levo o que tá exposto mesmo. Faz um desconto.
- Ah, mas eu não posso vender... Regra da loja, não posso deixar de expor.
- Ué, a regra é não deixar de expor o produto que não tem pra vender??

Ufa, ainda bem que falta pouco pra segunda-feira agora.

quinta-feira, 11 de outubro de 2007



Gentileza não morreu em vão

Eram 9:30 da manhã de quarta na Tijuca. Parei ao sinal e organizava os pensamentos sobre o dia quando um carro passa com velocidade pela direita, cortando novamente para a esquerda e fechando a rua à minha frente. Me preparei pra ser assaltado, sina de brasileiro da paz que sou. Então percebi que o tiozinho no Corsa era só um carioca moderno, importante e dono da razão, como muitos se sentem nestes dias de guerra. Avançou o sinal, trancou a rua, bloqueou a faixa de pedestres e ficou lá, até que o sinal abriu; ainda empacou o trânsito de quem havia respeitado a sinalização. Dobrou à esquerda e seguiu devagar, mostrando que a pressa era só balela, porque ficou pra trás ao longo de um trecho de 100 metros...

Mais um cidadão de bem, abandonando suas crenças e caminhando em direção à Violência. Não só desrespeitou à lei, como também aos pedestres e aos outros motoristas. Era uma manhã de quarta, senhoras faziam suas caminhadas matinais, donas de casas iam às compras, adolescentes corriam atrasados à escola. Pontos de ônibus estavam cheios, trânsito complicado. Mas o tiozinho daquele Corsa era mais importante que os outros oito ou dez carros que estavam parados no sinal. Ele não podia parar. Não podia ficar pra trás.

Mais uma pequena tragédia para nosso cotidiano. A repetição que transforma o erro primeiro em banalidade, depois em comportamento padrão. Talvez uma ultrapassagem pela direita seguida de avanço de sinal e bloqueio de faixa de pedestres não seja como aquele pequeno assalto a carro que culmina em morte, mas não deixa de ser uma derrota na nossa eterna luta por um mundo mais amistoso.

Foi uma tragédia que indicou o caminho a José Datrino, que a partir daí adotou o nome de Profeta Gentileza, como é mais conhecido:

http://pt.wikipedia.org/wiki/José_Datrino

Em algum momento esquecemos de suas palavras simples e justas. É duro enfrentar a situação atual da cidade sem contar com a sua sabedoria.

segunda-feira, 24 de setembro de 2007



Uni-duni-tê

Coisa boa de se tornar um ser imerso na Internet é rir de tudo que se diz absoluto, correto. Você vê a tal campanha do Estadaço. A World Weird Web brasileira tem 15 milhões de ruivos de aparelhos contando mentiras pra pegar mulher gostosa. Já os jornais de "respeito" do país têm seus 15 editores-chefes, totalmente éticos, livres de comprometimento com picuinhas político-sócio-econômico-pessoais.

Quando eles publicam que os bancos financiaram a campanha do presidente eleito e esquecem de mencionar que os mesmos bancos também financiaram a campanha do segundo colocado, eles simplesmente estão otimizando o espaço jornalístico. Tal omissão não tem nenhum viés de associar lucros recordes dos bancos com a atual gestão do país.

Quando eles publicam que não se pode confiar em qualquer coisa que você lê, eles não estão dizendo que você também não pode confiar só no que alguém escreve. No fundo, você pode mentir omitindo a verdade ou contando apenas uma parte dela. Esse é o perigo de usar apenas uma fonte para se manter informado.

Pense bem, em que é melhor confiar: (a) num infinito de pequenas vozes semicaóticas e independentes ou (b) num seleto grupo de mega-corporações de mídia voltadas ao lucro e a sustentação de seus donos, acionistas e empresas afiliadas?

Acho que você já entendeu que a resposta não é imediata.

Vivo num embate com colegas sobre o poder de processos & métodos e o poder do talento. O que eu nunca entendi foi como a discussão ao longo da história colocou cada coisa em lados opostos da mesa: processos vs. pessoas.

O que é mais importante num carro? O volante, o acelerador ou o freio? Se você escolher um dos três, nem me ofereça carona!


PS: O Mamendex de hoje foi assim, pá e bola, rapidinho. Estamos testando um novo formato mais post, fast, mix, fashion, prime, ...

Gostou? Não gostou? Tanto faz? Comente, ligue, mande um e-mail, poste um vídeo-resposta, comunique-se!



Cutucada rapidinha

Apesar do esforço da Veja, não é que mais uma crise econômica mundial passou pelo Brasil que nem marola?

segunda-feira, 17 de setembro de 2007



Vergonha Nacional: Vamos dançar, Quadrilha!

O Brasil encena sua expressão de indignação enquanto descarrega toda sua frustração fazendo comentários bem batidos. "isso é uma vergonha (em maiúsculas, seguida de 231 exclamações, o que me recuso a escrever)". Ou "tudo isso é culpa do PT e do Lula (idem)". Se bem que nesse caso, nem dá pra discordar.

A absolvição de Renan foi muito articulada (eu não disse "muito bem", disse "muito") pelo governo, especialmente o Merdadante, que joga no ventilador o último resquício de chance de ser eleito presidente, governador ou mesmo síndico do prédio. Muitos estranharam que ele, depois de tanta luta para convencer os colegas a absolver o Canalheiros, afirme ter votado em branco (o que, diga-se de passagem, é racismo).

Ora, quê há de se estranhar nisso? Quem nunca colocou pilha fraca pra cima dos outros e depois se escondeu pra ver a mercadante que dava?

Surpresa também 40 senadores "confessarem" que votaram pela cassação, enquanto apenas 35 votos foram realmente computados. Devem se confessar na mesma igreja que o Renan agradece as graças recebidas. Ou será que foi algum problema com a urna eletrônica? Bug no sistema de contagem de votos? Ná, de que importa? Ninguém ficou chateado. Nem ninguém questionou se a votação secreta ainda faz algum sentido.

Mas porque afinal a O.P. (opinião pública) resolveu pegar no pé do Renan? Só porque, digamos, a Souza Cruz sustenta uma das suas famílias bastardas não quer dizer que você não possa por exemplo, votar a favor de uma lei que proíba o fumo. Tampouco quer dizer que você não possa ir à missa aos Domingos e ser um bom Católico.

Ora, Renan é gente como a gente. É mais um relator-de-conselho-de-ética-dos-outros-mas-que-segue-a-sua-própria-ética-duvidosa, como todo o brasileiro faz. Reclama da vergonha do imposto e sonega, reclama da vergonha da violência e consome drogas, reclama da vergonha do caos urbano e avança sinal, suja as ruas, estaciona em qualquer lugar.

Falando em imposto, além do pé do Renan, a OP resolveu pegar no pé da CPMF. Qualquer trabalhador paga por mês mais IPI e ICMS do que paga de CPMF por ano. Se bebe e fuma, pior ainda! É só pegar sua conta de luz, gás, telefone, verificar a carga tributária das suas compras no supermercado, nas suas bebidas e cigarros, e você vai ficar surpreso. Sem falar em IR de 27,5% !

Mas a CPMF é o imposto que mais incomoda, justamente por seus maiores benefícios: é transparente, direta, você sabe quando, quanto e porque está pagando. E o pior: afeta a todos sem exceção, o pobre e o rico. Querem acabar com o imposto mais moderno, ao invés de acabarem com os mais caducos, caros, burocratas, injustos.

Por que afinal a campanha contra CPMF é tão bem veiculada em jornais e revistas, com direito até a horário no Fantáartico? Com o absurdo da taxa adicional de IR (que também qualquer dia vira "provisória", já que é "adicional" há milênios) ninguém se preocupa em acabar, já que é patrioticamente sonegado pela elite do país.

Mas esqueça os problemas e vamos falar de coisas boas: qual será nossa cara de surpresa quando Cacciola chegar ao Brasil já de habeas-corpus na mão? (Como assim, só porque fugiu da última vez não pode sair em liberdade provisória novamente?)




PS: O quê? Você é contra impostos? Manda e-mail pro Garotinho, ele é contra os juros... Quem sabe vocês não criam uma comunidade no Orkut.






Mais Opinião Pública

Qual será nossa próxima grande Vergonha Nacional:

( ) Uma colisão entre o Trem Bala Rio-SP com um avião da Webjet
( ) Tapetão com direito a CPI no Campeonato Brasileiro e Clube dos 13
( ) Uma CPI sobre as últimas CPIs
( ) Cacciola senador e líder do conselho de ética
( ) Rubinho dando passagem ao campeão da temporada de F1

Tá, essa última é pegadinha...

quinta-feira, 6 de setembro de 2007



King Kong na terra dos Simpsons

Dizem que quem não conhece o passado está condenado a cometer os mesmos erros repetidas vezes.

Mais estranho é que, mesmo conhecendo bem o passado, existe gente com essa tendência masoquista de errar tudo de novo e outra vez. Eu mesmo, de tempos em tempos, cismo que posso fazer determinadas coisas que só me causam estresse e dor de cabeça, não necessariamente nessa ordem.

E quem foge de cometer os mesmos erros, acaba por conhecer erros novos. O que, convenhamos, é o que faz a vida valer a pena.

Todo mundo deve ter visto pelo menos uma das versões do filme King Kong (este, ou este, ou este). De como ele é retirado de sua vida de rei na sua pequena e remota ilha para ser atirado aos lobos e tubarões da grande e movimentada Nova Iorque.

O que poucos sabem é que, na verdade, King Kong não foi capturado, por assim dizer. Conste para o bem da verdade que o gorilão-rei foi convencido a tentar carreira na Broadway, graças à lábia do capitão do navio e a sua ambição de ver o mundo e influenciar toda uma geração. O resto da história é uma catástrofe, seguida de uma tragédia.

Após o hype e seus 15 minutos de fama, o macacão logo caiu no esquecimento - em parte graças à estréia de O Fantasma da Ópera. Num turbilhão de depressão, drogas e alcoolismo, Kong seqüestra sua ex-mulher enquanto é perseguido por metade da NYPD.

Todos choram ao ver o simpático gorila de 10 metros de altura ser alvejado pelos modernos aviões da US Air Force, mas a parte mais triste pra mim ocorre pouco antes: o início da subida ao Empire States. Esse é o momento decisivo. Enquanto estava nas ruas, Kong podia ser imobilizado, acertado com tranqüilizantes, sei lá. Mas após o 15º andar, não tem mais volta. Ele sabe que vai morrer.

Muitos se perguntam se ele fez isso para ver um último pôr do sol. Por que ele não decidiu simplesmente fazer as malas e voltar pra seu pequeno reino distante, fazer o milésimo gol e encerrar a carreira num time de várzea qualquer?

O fato é que Kong sabia que estava condenado a cometer os mesmos erros. E a morte não é opcional.

Lembrei do Big Ape em Big Apple porque lembrei de mim numa terra distante, perdido numa noite fria.

Era o primeiro dia de neve do inverno, acompanhado da minha primeira noite de neve na vida. Estava ansioso pra voltar ao apartamento - seria a segunda vez que cumpriria tal trajeto - mas a cidade era bem sinalizada, então não tinha erro.

Saí do estacionamento, peguei a esquerda e segui até a rua principal. No sinal, entrei à direita. "Beleza, é só esperar passar a 18 mile e manter a esquerda, contornar na primeira que aparecer".

Quando finalmente avistei uma placa, eu congelei. Coberta de neve, o nome da rua era impossível de enxergar. Todas as placas de trânsito estavam assim, digamos, em branco.

Lutei muito até me considerar perdido. No primeiro posto de gasolina que avistei, parei e corri ao telefone.

Ah, meu primeiro contato com uma noite a -11° C...

Fui procurar o telefone do Paul para pedir ajuda. Mas era difícil tirar o papel do bolso com as luvas cobrindo os dedos e tremendo como uma máquina de lavar velha. Como as luvas de longe não eram apropriadas praquele frio, resolvi arrancá-las.

Pronto, telefone na mão, seguiu-se a tarefa de discar os números. Lambia os dedos entre uma tecla e outra. Errei só duas vezes até finalmente acertar toda a sequência.

Pontas dos dedos doloridas, é hora de colocar as moedas. "Minha nossa, se uma cair no chão coberto de neve eu não acho mais e não consigo ligar pra ninguém". Pensei pela segunda vez que talvez fosse morrer ali... Ensaiei uma posição mais digna para ser encontrado.

A última moeda encaixa perfeitamente, o telefone chama, ele atende. "Paul, sou eu. Acho que tô perdido". Um instante doloroso de silêncio, ele responde: "Humm, já tô em casa, do outro lado da cidade... Faz o seguinte, tenta se informar por aí, se você continuar perdido me liga de novo".

Pra quê mencionar que minhas moedas tinham acabado, ou que minhas unhas estavam roxas, ou que minha cabeça já doía (novidade...) de frio?

Entrei na lojinha do posto. Até já tinha esquecido como era bom se sentir aquecido... O rapaz (com cara de paquistanês), com a ajuda de uma menina (com cara de americana) começa a me explicar. Dada minha expressão (com cara de "entendi xongas"), começam a desenhar um mapinha, perguntam se eu era mexicano - "Não, brasileiro" - me entregam o papel e desejam boa sorte. "Qualquer problema, volta aqui". Eu não sabia nem se conseguiria voltar.

A noite cinza e branca avançava enquanto eu entrava no carro.

Eu ainda não sabia, mas a bonita ruela, típica dos subúrbios americanos, com suas caixas de correio e enfeites de Natal, iria aparecer logo em seguida e me guiar para o apartamento.

Pensando bem, alguns erros a gente se arrepende é de não poder cometer mais vezes.

quinta-feira, 30 de agosto de 2007



Humor, emprego, ócio e gêmeos maus

Falar de si mesmo nunca é fácil.

Piora um pouco quando o você ao qual você se refere é na verdade um pseudônimo de seu alter-ego. Um personagem para o qual você dedica seu potencial e canaliza assim a energia que era desperdiçada no seu dia-a-dia como você mesmo (quem come quem??).

Essa dedicação ocupa seu tempo, claro, e muitas vezes atrapalha sua identidade original. Assim, o que era pra ser um hobby acaba estressando mais do que deveria.

E assim resolvi fazer terapia com uma profissional de verdade.

Eu não soube definir se seria uma terapia ocupacional, grupal, coletiva, já que éramos dois os envolvidos (eu e eu mesmo). Quando eu soube que só eu mesmo já era 3: id, ego e superego; fiquei boquiaberto. Cacete, somos 6 sentados aqui nessa cadeira então, doutora?

Comentei com minha terapeuta, ao reclamar do trabalho, que eu não me sinto realizado com isso.

- O que te deixa realizado então? Com o que você gosta de trabalhar?
- Eu não gosto de trabalhar. Acho que nasci pra outra coisa.
Ela riu. Minha terapeuta riu de mim. Até hoje não sei se uso essa minha capacidade - de fazer as pessoas rirem de mim - de forma construtiva.

- Tia Terapeuta, e se eu for na verdade meu gêmeo mau?
- Nosso tempo acabou. Que tal terça às 10h?
Resolvi pesquisar a fundo essa história de gêmeo mau pra poder explicar melhor.

Segundo consta (na Wikipedia), o gêmeo mau (ou maligno) reflete a dicotomia entre o bem e o mal que existe dentro de nós. Seu gêmeo mau é a cópia exata de você, exceto por ser moralmente antagônico e possuir cavanhaque. Ou seja, ele é na verdade o que você gostaria de ser: uma pessoa livre dos tabus e regras sociais, disposto a fazer de tudo pra conseguir seus objetivos, e que ainda por cima tem menos trabalho pra fazer a barba.

A origem do gêmeo mau está na própria origem do conceito bem x mal: a religião. Consta que o primeiro gêmeo mau foi Cain. Embora não fosse exatamente gêmeo de Abel, era mau o suficiente pra se encaixar na definição...

Vida de gêmeo mau é difícil, pois tudo que ele faz perturbar o gêmeo bom. E o destino do gêmeo mau é ser destruído, ou receber prisão perpétua. O final alternativo é quando o gêmeo mau tira o cavanhaque e faz com que o gêmeo bom seja morto em seu lugar. A moral é que no mundo da ficção não há lugar para gêmeos...

Na literatura, Beowulf é considerado como abordagem do tema, pois apesar de o monstro não ter nenhuma aparência física com o herói, é na verdade a inversão das ações dele.

Em Jornada nas Estrelas, outro exemplo intrigante, enquanto o gêmeo mau de Spock usava adequadamente o cavanhaque, o gêmeo mau de Kirk tinha a cara limpa...

Vários exemplos de gêmeos maus: O Homem da Máscara de Ferro, High School Musical, Futurama, Os Simpsons (nos dois últimos, assim como em South Park, o personagem principal é que era no final das contas, o gêmeo mau). Até em jogos, como Metroid Prime e Zelda. A influência é tamanha que em Lost chegaram a dizer (numa cena deletada) que "só é novela quando o gêmeo mau aparece". Uma pista sobre futuras temporadas?

Com o tempo, o conceito de gemeo-malignidade foi se expandindo, menos preso aos clichês. Surgiu a idéia de universo espelho, composto de gêmeos maus dos habitantes do universo original. Num episódio de South Park que aborda o tema, o gêmeo mau de Cartman (devidamente cavanhaquezado) era, na verdade, muito gentil.

O Bizarro por exemplo, gêmeo mau do Super-homem, casou com uma gêmea má da Lois Lane e gerou todo um Mundo Bizarro, onde a chuva cai pra cima, as zebras caçam as leoas e o Governo paga imposto aos habitantes.

A gêmea má da Lois Lane não tem cavanhaque. A bem da verdade, as gêmeas más não costumam se diferenciar no pelo facial, mas sim pela cor ou tamanho dos cabelos, ou mais recentemente, pelo sotaque. Truque oriundo das novelas de rádio, onde obviamente, as diferenças entre os gêmeos não são físicas, mas sim no timbre da voz.

Ainda no caso do Super-Homem, ele tem um gêmeo mau - Bizarro - um alter-ego - Clark Kent. A diferença entre os dois últimos, bizarrices à parte, estaria em ter a mesma índole (alter-ego) ou a índole inversa (gêmeo mau) do personagem.

Então não sou meu gêmeo mau. Sou só um simples alter-ego mesmo. Menos mal :)

Confesso, tem sido cansativo administrar essa micro-empresa. Domínio, DNS, Blogger, Google Apps, Adsense... Mas nada disso se compara a outra opção: me dedicar ao meu emprego!

Brincadeiras a parte, meu emprego tem exigido muito de mim e me sinto frustrado em não conseguir responder à altura. Mais frustrado do que quando tenho que ouvir quieto as piadas do tipo "é isso aí, funcionário público tem muito tempo livre pra ficar escrevendo blog...".

Palavras fortes, venenosas... doem bastante.

Mas se uma geração de grandes escritores brasileiros surgiu dos servidores do Governo, então eu sou só a continuação dessa história. Afinal, quem foi que disse que Machado de Assis e Carlos Drummond de Andrade não eram servidores altamente dedicados?

Na segunda-feira, observando a lua (que por sinal estava um cartão postal), eu pensei que talvez minha vocação fosse exatamente essa: não fazer nada e contemplar tudo. Talvez eu seja um Vinicius de Moraes, ou um Tom Jobim, ou um Pablo Neruda, só que sem nenhum talento.

Se pra ser um grande poeta ou um grande brasileiro é necessário algum talento, então eu precisava de uma segunda opção. Talvez eu pudesse ser um monge budista.

Consegui alguns livros, estudei bastante. Mas acho que não levo jeito. Eu não poderia mais fazer churrasco, andar a cavalo, fazer sexo, roubar, etc. E ainda ia querer rediscutir várias das regras milenares. Como é que é essa história da Flor de Lótus aí?

Não gosto de reconhecer, já que admiro tanto o trabalho árduo, mas minha vontade mesmo é a de ser vagabundo. Pensando bem, talvez isso seja por si só um talento.

Um ponto positivo foi ter nascido no Brasil. Nosso país é o único no mundo que garante o direito universal à vagabundagem. Em especial no Rio de Janeiro, terra da praia às segundas-feiras.

Por exemplo, em que outro país você poderia colocar uma cadeira e ficar sentado na porta de um banco o dia inteiro, simplesmente observando o vai e vêm do gerente, funcionários e clientes? Enquanto você não sacar a arma e anunciar o assalto, ninguém pode te tirar dali.

Muito calor dentro de casa? Pegue o colchão e durma na rua, na marquise de qualquer prédio. Ou fique só deitado ali, com sua cervejinha, observando o cair da tarde de domingo. Ou de terça. Mais uma vez, ninguém pode te obrigar a sair dali. E se a marquise cair, você ainda ganha uma boa indenização...

Dizem que é proibido tomar banho no chafariz, mas eu nunca vi ninguém ser reprimido por isso... nem por lavar a roupa. Na dúvida, não passe xampú, pra caso tenha que sair correndo não ficar com o cabelo todo seboso.

E a grande dica: mantenha uma caixinha no chão por perto porque sempre tem uma velhinha distribuindo trocados para quem mantém viva a autêntica malandragem carioca...


Serviço

Mais sobre gêmeos maus na Wikipedia em inglês ou português.

Onde comprar os livros, filmes, séries, quadrinhos e jogos citados: Vinicius, Jobim, Superman, Jornada nas Estrelas, South Park, Futurama, Os Simpsons, Machado de Assis, Carlos Drummond de Andrade, Pablo Neruda.

quinta-feira, 23 de agosto de 2007



Causas e conseqüências

Continuando o papo sobre causas, vamos falar hoje sobre o movimento em defesa dos direitos humanos, da criança e do adolescente, dos animais, o movimento liberal e o movimento do software livre. É, estou tão animado quanto você.

Fiz o dever de casa e fui buscar informações sobre estas instituições. O movimento dos direitos humanos, por exemplo, defende garantias mínimas de vida, saúde e acesso a mecanismos legais e governamentais a todas as pessoas do mundo. Geralmente ele entra em conflito com a galera do movimento liberal, que pede que o governo interfira menos no dia a dia da população, e deixe os mecanismos de mercado (trabalho, remuneração e lucro) regularem as engrenagens sociais. O que geralmente é mal visto pela população brasileira, já que o brasileiro médio acha que trabalho é castigo, dinheiro cai do céu, as empresas são o Diabo, e o governo é Deus na Terra para os homens de bem. Vinde a nós.

Bem lembrado. Geralmente a defesa de uma causa se mistura com a Religião. O movimento pelos direitos dos animais, por exemplo, defende que tudo que se move e não faz fotossíntese têm quase os mesmos direitos que os seres humanos. Ainda não existe um movimento pelos direitos dos vegetais, ou dos minerais, ou dos fungos, ou do reino protista, ou monera. Mas imagino que algum direito eles tenham, pô!

Afinal você gostaria de ser arrancado de seu habitat natural e enfeitado com mil luzes pra servir de adorno na ceia de Natal? Ou ficar preso a um vaso minúsculo inibindo seu crescimento e ser constantemente mutilado para o exercício de paciência de um japa? Ou ser afogado no seu próprio excremento até morrer intoxicado de álcool ou oxigênio?

Todos os seres vivos estão sujeitos ao abate para alimentação ou vestimentas, ao uso para carga, e ainda, à exploração para simples adorno. Afinal de contas, existe realização maior para um cachorro descendente dos grandes lobos, ou um gato herdeiro legítimo dos tigres, do que andar pelo Rio Design no colo das madames? É ou não é a vida que eles pediram à Fauna?

Inclusive, é mais ou menos esse o objetivo da OAB para com os advogados (e seus melhores clientes).

Pra mim crueldade mesmo é eliminar a capacidade analítica e o caráter de um ser vivo. Transformá-los em zumbis passivos e consumistas. No momento que alguém convence uma pessoa inteligente que é engraçado ver um rapaz de dentadura falsa fazendo uma imitação barata de mais de 20 anos de antiguidade, ou uma mulher de peruca com voz estridente gritando histérica e desafinada, pode-se dizer que você roubou parte da essência dessa pessoa.

Mais ou menos aquilo que os índios temiam quando alegavam que a fotografia lhes roubaria a alma.

Não é a toa que os blogs e sites diversos se multiplicam, na tentativa de resgatar um pouco da autenticidade que se perdeu com a comunicação em massa. Talvez a situação hoje seja parecida com um novo Renascentismo, onde ver as mesmas notícias, ler as mesmas coisas, ter os mesmos interesses que todo o mundo não faz mais o menor sentido. Estamos todos antenados, mas cada um na sua :)

Saímos da Idade Média dos mega-portais e do jornalismo de viés político, dos infomerciais religiosos, das piadas enlatadas prontas pra aquecer no microondas, das pegadinhas e cassetadas orientais, e caímos de frente na multiplicação explosiva de pílulas de informação, próximas e afastadas da origem, ilhas de opinião, discussão e comentários, e especialmente, num vasto material humorístico espalhado pelos 4 cantos.

Óbvio que a maioria absoluta desse material está abaixo da linha de consumo. Fora que temos mais spammers, todo dia alguém posta uma mensagenzinha ridícula no seu scrapbook, blogueiros travam batalhas e atropelam o bom-senso por um punhado de audiência... Mas o mecanismo de acesso democrático da Internet mostra sua força; da quantidade podemos tirar a qualidade, e por que não o dizer: tem gosto pra tudo!

Mais que blogers e video-makers, muitos vêm se erguendo na defesa da inteligência do humor, e lutam para trazer de volta a dignidade para a Comédia. É o caso dos movimentos como o Comédia em Pé, o Sindicato da Comédia e o Clube da Comédia. Não se engane com a pouca criatividade na hora de batizar os grupos, esse pessoal tem muito a oferecer. Não se deixe levar pelas caras feias tampouco, pois esse pessoal seria engraçado mesmo se houvesse a remota possibilidade de serem bonitos.

Você, amigo, faça sua parte, junte-se a nós, produzindo e consumindo o humor refinado, a comédia sagrada e sátira inteligente, que tanto fazia falta em nossa geração.

Deixe de ficar assistindo a filmes ridículos com humor de banheiro. Esqueça os programas que apresentam semana atrás de semana as mesmas piadas sem graça. Tape os ouvidos para os bordões repetidos infinitamente na tentativa desesperada de fazer alguém rir.

Ajude a preservar o humor inteligente da extinção para que as próximas gerações possam conhecê-lo.



Comédia em Pé

Apresentação do Henrique 'Ai cacete' da semana passada:

http://br.youtube.com/watch?v=JKMnArzmq9g

quinta-feira, 16 de agosto de 2007



Mantenha o céu escuro

Vocês já devem ter percebido que há por aí uma grande campanha sendo montada, tendo como objetivo acabar com a Internet como conhecemos. Tal campanha é patrocinada especialmente por aqueles que não aprenderam ainda como lucrar e expandir seus monopólios para o cyber-território democrático que conseguimos defender até hoje.

Esses dias Elton John afirmou que a Internet é prejudicial a ele, ou melhor, à Música, e sugeriu o fechamento da mesma por cinco anos. Mas não foi nada de mais, seu geriatra já receitou nova medicação.

O que ninguém sabia, e eu revelo agora em primeira mão, é que foi detectado nos servidores da Cia que a declaração de Elton John pode (deve) ter relação com uma campanha da AGMC (Associação das Gravadoras Musicais Caducas) de utilizar artistas atuais (Elton John, Bob Dylan, Nat Cole, Bruce Springsteen, Michael Jackson) para minar a opinião pública sobre a Internet. O próximo alvo: a máquina de xerox.

Afinal de contas, a humanidade era muito mais feliz quando não se podia saber o que acontece do outro lado do mundo em instantes. Quando não se tinha webcams para conversar com pessoas ou simplesmente ver as ruas de Times Square, ou o pôr-do-sol em Tóquio.

Como era bom escrever uma carta e esperar 2 meses pela resposta daquele familiar em outro continente. Esperar chegar em casa para saber as notícias do dia. Ter que procurar jornal para saber a previsão do tempo.

Quer infelicidade que sentimos, não só de saber, mas de "sentir" que a Terra é redonda, e ver fotos via satélite de Foz do Iguaçú, os vulcões do Chile e os cassinos de Las Vegas...

Como é triste popularizar os blogs e a linguagem escrita. Unir pessoas que não se viam há tanto tempo. Compartilhar interesses. Assistir um vídeo do último congresso mundial de fãs de Star Wars.

Não me surpreenderia se um grupo desses resolvesse lutar contra a Lei da Gravidade, tão maléfica e responsável por tantas quedas mundo afora (que adiantaria alguém tentar explicar que sem a gravidade seríamos arremessados ao Espaço)...

Sinceramente, se essas pessoas querem abraçar uma causa, eu tenho várias sugestões.

Passando rapidamente pelas mais simples, que tal defender a natureza, o meio-ambiente, o desenvolvimento sustentável, a ciência e cultura, as crianças, combater o aquecimento global, a poluição sonora (sabiam que não existe uma ONG sequer dedicada a isso??) ou tantas outras iniciativas, maiores ou menores, mais globais ou mais locais, que seriam praticamente inviáveis se não fosse a comunicação rápida, barata e independente que a Internet oferece?

Pretendo passar nas próximas semanas por algumas das iniciativas que me interessam em particular. Começamos hoje por uma bem singela.

Quantas vezes neste ano que passa você se sentou para olhar o céu noturno? Mesmo quem tem a vida noturna agitada, gasta suas horas dentro de shoppings, carros, boates, restaurantes... nunca tem o ceú como teto e objeto de contemplação.

Lembro de, alguns meses atrás, ter acordado de madrugada e ido à cozinha beber água. Olhando para área de serviço vi um clarão azulado. Corri até a janela para ver o que era e, para minha surpresa, era "apenas" a Lua cheia de uma noite quente, jorrando luminosidade sobre os tetos e ruas da Tijuca. (Alguém assistiu ao Feitiço da Lua [Moonstruck, 87]? Pois bem, era aquela Lua do Cosmo, me despertando à noite). Acordei minha esposa pra ver também, ela ficou meio enjuriada no início mas entendeu perfeitamente quando deu de cara com aquela cascata azulada brotando do céu.

O problema é que nas cidades, mesmo a maioria não tendo percebido, nosso céu noturno está desaparecendo. As estrelas, planetas, a própria Lua. Graças à "poluição luminosa" gerada pelos hábitos modernos e pela violência, as cidades cada vez mais avançam sua iluminação. Ruas, praças, praias, aeroportos. Por economia, grandes prédios são mantidos acesos por toda a noite, inclusive nos fins de semana. Inventaram até aqueles holofotes ridículos, apontados pras nuvens, que qualquer baile funk tem.

Obviamente, um dia (ou uma noite!) vamos sentir falta de ver as estrelas. Elas nos inspiraram a todos, de poetas a cientistas. Foi olhando para o céu que surgiram as religiões. Graças à observação dos astros, a navegação foi possível. Olhando para fora da Terra, descobrimos que toda nossa beleza e complexidade é apenas um grão de areia no céu infinito. Nos tornamos melhores, com certeza, ao descobrir que não somos o centro do Universo -- afinal, era muita responsabilidade (e que esperança teria o universo?).

E é na esperança de conciliar o desenvolvimento urbano com a manutenção da beleza do céu escuro que surgiu a organização International Dark-Sky Association. Se você procura uma causa pra abraçar, ou simplesmente é um romântico apreciador das estrelas, não deixe de se manter informado.

Keep watching the skies...



Comédia em Pé

Apresentação do Henrique da semana passada, com legendas, disponível em:
http://video.google.com/videoplay?docid=8850793527841613888

quinta-feira, 9 de agosto de 2007



Os sem mais

Esses dias no metrô, um estudante na faixa dos 16 anos, levantou para um senhor sentar. Antes que alguém pudesse elogiar ou aplaudir o gesto, seus colegas ensaiaram uma zoação, do tipo, "perdeu o lugar, mané". Ele prontamente se defendeu:

Levantei porque quis. Outro dia um senhor reclamou pra eu dar o lugar. Ele ficou reclamando e eu fiquei pensando "é, legal, fica aí em pé mermo, é...". O assento é preferencial, eu levanto se eu quiser.

Rapaz, várias coisas vieram à cabeça ao mesmo tempo, demorei a separá-las:

  • um estudante de ginásio, saudável e dedicado exclusivamente aos estudos não consegue interpretar uma regra escrita simples,

  • um adolescente sociável não acha que tem obrigação de respeitar e ser gentil com os demais, idosos ou não (e ainda acha normal que as regras não o obriguem a isso),

  • um jovem racional, usuário de transporte público, acha que os assentos preferenciais são para ser cedidos somente se a pessoa optar por isso (e nos demais? o ocupante é terminantemente proibido de levantar seja para quem for??).

Imagina que tipo de cidadãos estamos formando. Se juízes e políticos já têm dificuldade em interpretar as leis, imagine o caos que uma distribuição gratuita da Constituição brasileira a todos os cidadãos pode causar, graças às mais esdrúxulas interpretações possíveis.

Lembrei de uma reportagem com uma mulher que colava anúncios em orelhões e respondeu, quando interpelada pela repórter:

Ué, a rua não é pública? Posso colar o que eu quiser aqui...

De onde está surgindo todo esse utilitarismo e esse individualismo? Quando foi que de repente nós tornamos, cada um de nós, as pessoas mais importantes do mundo? Se eu não conheço, não é importante. Se não serve pra mim, é inútil. Se posso usar, posso abusar e nem preciso agradecer!

Será que sempre fomos assim? Dentro de nós, no cerne de nossos desejos, sempre quisemos ser o alvo de todas as atenções e favores, donos de todos os recursos ao nosso redor? Ou será que algo tem nos guiado nessa direção? Talvez livros com títulos como "Você é a pessoa mais importante do mundo", ou programas de televisão onde quem passa todo mundo pra trás ganha o prêmio? Ou partidas esportivas com resultados manipulados em prol do mais forte?

Fui ao shopping no intuito de investigar essas possibilidades. As capas de revista, os filmes em cartaz, os anúncios de liqüidação, as estampas de camisa, talvez os materiais dos sapatos e bolsas da moda, os novos sabores de sorvete -- algo tinha que servir de base para qualquer afirmação. E no pior dos casos eu procuraria a Constituição na livraria para colar alguns trechos legais.

Mas passeando pela livraria tive uma boa surpresa em ver o novo As 100 melhores crônicas brasileiras. Comprei na hora e fui correndo pra casa, ansioso pra ler, e esqueci completamente do objetivo do post de hoje. Foi então que tive uma decepção: nenhuma das minhas crônicas havia sido selecionada !

Alguém poderia dizer que eu já devia esperar por isso, pois se esse fosse o caso eu haveria de ter sido contatado antes da publicação, a respeito dos direitos autorais. Mas, honestamente, tinha esperança que houvesse talvez uma homenagem secreta a minha pessoa ali pelas últimas páginas do livro...

Estranho também que, dado o elevado número de crônicas (cem) e a baixa idade de nosso país (arredondemos para 500 anos), conclui-se que a cada cinco anos surge no Brasil uma obra melhor que qualquer crônica minha.

É dureza ter que me conformar, mas faço isso aproveitando ótimos textos dos grandes nomes selecionados. Afinal, não há vergonha nenhuma em perder uma competição de crônicas para Machado de Assis, Rubem Braga, Veríssimo, Sabino ou Tutty Vasquez...

Nesse clima de conformismo, lanço o projeto de uma nova compilação. Após Os cem melhores poemas brasileiros do século(Objetiva, 2001), Os cem melhores contos brasileiros do século(Objetiva, 2001), do Blog de Papel(Gênese, 2005), e As cem melhores crônicas brasileiras(Objetiva, 2007), estou selecionando candidatos para Os 100 melhores posts e e-mails brasileiros !

A primeira coisa a fazer é conseguir algum do Governo pra financiar o projeto. Afinal, a iniciativa privada de nosso país não faz nada sem antes garantir um incentivo qualquer. E de mais a mais, se a gravação de um DVD de remix-ao-vivo (!) de O melhor de Vanessa da Mata (sic) merece quase um milhão em incentivos fiscais, será que meu livrinho não ganha uma esmola?

Na tentativa desesperada de atingir um público maior (como o adolescente e a moça dos primeiros parágrafos), vamos manter o livro sempre em bullets, com parágrafos pequenos, fontes grandes e ícones. O chamado formato Powerpoint, o único ainda aceito pêlo púbico, digo, pelo público jovem. Para conquistar o público norte-americano, cada texto deverá começar com o diálogo entre um suposto grupo de executivos e um monge de renome, num templo em algum lugar ermo, que soaria mais ou menos assim:


    Monge: - Esse próximo e-mail ensinou muita gente a aceitar a vida e ser feliz com o que se tem.

    Executivo 1: - Ah, eu lembro que um amigo comentou sobre esse e-mail, e disse ter mudado sua vida

    Executivo 2: - É verdade, minha irmã leu esse e-mail e passou a ser mais feliz

    Executiva: - Que ótimo, vamos ler tal e-mail e ser felizes também.

Por último, precisamos de exatamente cem posts/e-mails, para não comprometer o título. Afinal, quem compraria um livro cujo título não reflete seu conteúdo? Provavelmente daria em processo do Procon, ou Inmetro. E não adianta mudar o título, pois qual o apelo de venda de um título com números quebrados, tipo Os 73 melhores ? Pior ainda os números ímpares, primos... vai ter gente queimando um livro desses! Finalmente, quem compraria um livro com os 50 melhores, se do lado há um com os 100 melhores e pelo mesmo preço?

Infelizmente, apesar da blogosfera brazuca ter ganho muito em maturidade e personalidade ultimamente, a maioria dos blogs brasileiros (inclusive alguns dos grandes) ainda se resumem a clipping de notícias. Nenhum post deste tipo entrará nesta lista de 100 melhores, mas do resto vale tudo. O fato é que essa pode ser uma grande oportunidade para muitos.

Bom, vamos aos candidatos:

1° - aquele e-mail sobre o cara assaltado e estuprado por duas mulheres maravilhosas nos últimos 4 dias da semana, perguntando se alguém sabe por onde elas andam.

2° - e-mail que cita a pessoa que, após uma noite de bebedeira, acorda numa banheira de gelo com um bilhete avisando que teve seu órgão retirado por uma quadrilha internacional de venda de ânus zerados.

3° - Wellington Grey . net - post: A Tabela Periódica da Internet (Periodic Table Of the Internet). (como assim não pode participar porque não é brasileiro?)

4° - Dahmer / Malvados - post: Grande Mapa Dahmer da Blogosfera Brasileira

5° - bic azul / Absurdos & Abstratos - post: O Atraso

6° - Kemp / Lactobacilo Morto - post: (diversos sem título)

7° - biz azul / Absurdos & Abstratos - post(s): No Metro I e II

8° - Ricky / blog0news - post: Semântica

9° - Dahmer / Malvados - post: ano 3 número 597

10° - Alexandre Inagaki / paralelos - post: Literatura na rede: a transição dos bytes para as bibliotecas

11° - Dahmer / Malvados - post: ano 2 número 493

12° - Alexandre Inagaki / pensar enlouquece, pense nisso - post: Bons Amigos

13° - e-mail com aquele Powerpoint das fotos do século (aquele do fogo com rosto de gente é maneiríssimo!)

14° ao 82° - (vagas dedicadas ao júri popular)

83° - Mamendex - post: O poder do pensamento positivo

84° - Mamendex - post: Faz um barulho aí

85° - Mamendex - post: Retrospectiva 2006

86° - Mamendex - post: Ligaram o foda-se

87° - Mamendex - post: Haja paciência!

88° - Mamendex - post: Hay que endurecer

89° - Mamendex - post: Você chama isso de m.?!?!

90° - Mamendex - post: E a gripe veio do espaço

91° - Mamendex - post: Responsum Quae Sera Tamen

92° - Mamendex - post: Tolerância ampla, geral e irrestrita

93° - Mamendex - post: O contador de ilusões

94° - Mamendex - post: A Teoria do Humor

95° - Mamendex - post: Paradoxalmente correto

96° - Mamendex - post: Vote, talvez

97° - Mamendex - post: A nova guerra dos sexos

98° - Mamendex - post: Ordem, Progresso y otras cositas más

99° - Mamendex - post: Um grande pequeno golpe

100° - Mamendex - post: Tem 1 real ?

Mandem seus candidatos. Vale votar em sí mesmo. Daqui a um mês ou dois posts (o que vier por último!) eu publico a lista dos vencedores. Desde já aceitamos reservas também para os interessados em comprar o fabuloso Os 100 melhores posts e e-mails brasileiros*.



* Pagamento adiantado e frete por conta do comprador. Para valores de frete entrar em contato. A reserva não garante o recebimento do produto. Entregas para o exterior sujeitas à tributação exclusiva.




Ah, e se você ficou interessado no
As Cem Melhores Crônicas Brasileiras (Joaquim Ferreira dos Santos, Objetiva), basta procurar nas melhores livrarias, virtuais ou de tijolo. Ou aguardar até que alguém resolva anunciar por aqui...

sexta-feira, 3 de agosto de 2007



O poder do pensamento positivo

Nesse momento em que passo por um período melancólico, como disse anteriormente, observo do alto a crise aérea que nosso país vem enfrentando e lembro com saudade da época que a pista de Congonhas era duas vezes maior, em São Paulo quase não chovia, e nenhum vôo atrasava.

Lembro também da época que só Galvão Bueno e o povo brasileiro -- mas não os políticos -- eram especialistas em qualquer assunto imaginável.

Falando em políticos, havia alguns com boa oratória, personalidade e sangue quente, que dava até gosto ouvir, mesmo que discordasse de sua opinião. Estes, ao contrário de pai-adolescente, sumiram após assumir.

A única coisa que não mudou nestas últimas décadas, é FHC dando pitacos de algum lugar longe do Brasil.

Habituado que sou a freqüentar a nata brasileira, e de participar de memoráveis saraus com as melhores personalidades e maiores intelectos de nossa nação, olho ao redor e me vejo sozinho. Será que foram todos embora? Ou finalmente me tornei o maior intelecto vivo em terra brasillis?

Na falta de coisa melhor, venho passando o tempo lendo os comentários nos sites de notícia. É interessante tentar enxergar o ponto de vista de determinadas pessoas. O primeiro ponto que chama a atenção está na editoria de Ciência. Toda vez que um estudo é divulgado, por exemplo, Sonda descobre sinais de vapor de água em lua de Saturno, os comentários se resumem a sugerir que o dinheiro gasto nestas pesquisas seja usado pra acabar com a fome no mundo, ou o quanto é ridículo procurar sinais de vida se a Bíblia diz claramente (!) que só existe vida na Terra. Imagino que essas pessoas são contra vacinas e microondas também, ou pensam que esse tipo de coisa dá em árvore, sei lá.

Olhando uma notícia na editoria correlata, Astrologia e Celebridades, vejo que Astrólogos prevêem que Sol em Áries favorece nova ida de Paris Hilton à prisão. Ora, alguém por favor sugira o que fazer então com o tempo e dinheiro do pessoal envolvido nesta notícia.

Na editoria de Livros de Auto-Ajuda Coletiva da Moda, vejo uma matéria de 15 páginas sobre o livro O Segredo, uma entrevista de 22 páginas com a autora do mesmo, e o link pra matérias de revista sobre Os Segredos de O Segredo. Lendo os dois primeiros parágrafos de um destes links descubro que o livro faz parte do Clube de Oprah e revela "dentre outras coisas" como o pensamento positivo pode atrair coisas positivas para sua vida.

Mentalizei desejando não perder tempo nem gastar 30 reais num livro vazio e sem sentido, e meu desejo se realizou na hora!

Lembrei da minha crítica a 'Damn' Brown, o autor (?) de O Código da Vinci, quando ele diz no prefácio que muitos dos rituais secretos que ele descreve são verídicos. Ora, se um ritual secreto é de conhecimento público, ele não deveria deixar de ser secreto? E qual o sentido de manter um ritual secreto, uma vez que ele não é mais segredo pra ninguém?

Estendo a pergunta a autora deste novo livro: compartilhar um segredo com 15 milhões de pessoas não o faz, no mínimo, menos secreto? "Venha ler o Segredo que todo mundo já sabe!". "Leia o livro antes que mude de nome". Imperdível.

O prezado leitor deve se perguntar porque eu critico tanto esta categoria de livros, Auto-Ajuda Coletiva, e aquela editoria de notícias, Astrologia das Celebridades. Antes de mais nada, são duas implicâncias completamente diferentes.

No primeiro caso, critico aqueles que procuram respostas, sem nem saber a pergunta. Essas pessoas que começam o filme perguntando: "ele morre no final?". Para estas pessoas, sugiro pensar a respeito do porquê se saber o sentido da vida antes do fim dela. Após descobrir o sentido da vida, faria sentido continuar vivo? Recomendo o ótimo Guia do Mochileiro das Galáxias para refletir a respeito do quão prejudicial pode ser saber a resposta antes de descobrir a pergunta.

No segundo caso, lamento pelas pessoas que se interessam mais em saber sobre os outros antes de saber sobre si mesmo. Todos nós precisamos compartilhar cultura, notícias, comportamento entre membros da família, sociedade e cada vez mais, toda a comunidade global. É saudável ter heróis e crenças. O que um escritor é, por exemplo, senão os livros que lê? Mas nunca se engane, você é bombardeado o tempo todo para tirar o foco de sua vida e colocá-lo na vida dos outros. Afinal de contas, cuidar de sua própria vida não dá dinheiro pra quem vive de coluna de fofocas...

Como por exemplo uma empresa convence alguém a comprar seus produtos? Exaltando suas qualidades? Ha! Não, não. É preciso alguém famoso pra criar o "canal" de comunicação com o consumidor final, o cidadão comum, ou, como o Bonner diz, o Homer Simpson, que assinará o cheque. E ter alguém famoso anunciando seus produtos custa caro, portanto é necessário fazer alguém ficar famoso, de forma prática e indolor, pra poder ser utilizado para aquela campanha publicitária (e descartado em seguida).

Agora você entende como o poder do pensamento positivo (PPP para os íntimos) pode influenciar a vida de muitos? Por exemplo, você deseja ser famosa pra ser igual aquela menina-que-esqueci-o-nome que vai casar com o ex-BBB. Você deseja e bang! consegue ingresso praquela festa. Uma mini-saia e duas doses de uísque depois e bang! você aparece na revista do lado daquele ator de Malhação. Uma reportagem insinuando algo e bang! você é a nova possível ex-namorada dele, que está com o coração em pedaços. Uma ponta na televisão, uma nova festa e quem sabe, bang!, você não está anunciando o DDD mais barato do Brasil? Mais PPP e mais bang e você é capa de revista (de fofoca), convidada em programa (de fofoca), o céu é o limite! Vai até escrever livro de Auto-Ajuda Coletiva, quem sabe...



É o Pan aí ó!

Se contar ninguém acredita, mas não é que o Pan do Rio foi um sucesso? A cerimônia de abertura foi um espetáculo, os locais de competição estavam bonitos, o trânsito tranqüilo, o Brasil trouxe ouro pra casa (quer dizer, manteve o ouro em casa)... Nem a inveja da tucanada conseguiu atrapalhar o evento.

A classe média carioca se vestiu de branco (sua roupa típica de protesto) e após tomar chopp no calçadão, pegou o ingresso de 250 reais e vaiou o presidente da República, mostrando até onde vai sua capacidade político-reacionária. O que ninguém soube explicar é: quem aplaudiu o Caesar Maia?? As fitas de segurança do estádio não deixam claro, pesquisadores atribuem o feito ao Fantasma do Maracanã, famoso na época do maqueiro Sombra.

Mas voltando a falar de esporte, os destaques da competição foram muitos: o Tiago do Judô - que tem pressa de ganhar, o Thiago da Natação - pra quem qualquer estilo é nado livre, a Fabiana do salto com vara - que mais um pouco bate recorde, e o Bernardinho do vôlei - o careca estourado, que cortou o titular e convocou o filho. O técnico perdeu finalmente sua blindagem (sem perder o apoio da TV), mas por uma boa causa: levantar o cachê da família...

Mais uma sacanagem do Pan das Surubas.

quinta-feira, 31 de maio de 2007



Faz um barulho aí

O tempo passou e atendendo a pedidos a coluna está de volta !

Fui orientado pelo meu gurú espiritual a afastar-me das tarefas "blogais" por conta de um furacão que se formava no sudoeste do meu mapa astral, perto da região que ele apelidou de "Triângulo das Bermudas", em homenagem a uma antiga confecção de moda surfe. Nessa tal região do mapa havia um desequilíbrio no continuum espaço-tempo, causado em parte pelo desaparecimento de Plutão, que fazia com que toda energia que ali passava se convertesse em matéria. Você pode imaginar o problema que é passar matéria por onde só deve passar energia? Dói muito!

Mandei meu mapa para o Stephen Hawking, pouco antes dele ir pro vôo de gravidade zero. Ele me retornou agradecendo pela contribuição à Física com esse fênomeno inverso aos Buracos Negros (ou afro-descendentes), chamado temporariamente e de forma não-criativa e sem alguma graça, de "Calombo Branco (ou euro-descendente)".

Pois bem, graças ao Calombo Branco minha vida chegou a uma encruzilhada. Logo em seguida, a encruzilhada tornou-se um abismo. Foi quando o chão começou a ceder, e tudo começou a girar em direção ao fundo, como a descarga de uma privada. Ainda estou passando pelos encanamentos em direção a sabe-se lá onde, mas cheguei num ponto em que já consigo enconstar e apreciar a viagem...

Mas chega de fatos e vamos às metáforas.

Ano novo, vida nova. Quando finalmente consegui o apartamento que tanto queria, perdi o emprego (que não queria muito mesmo). Foi nesse momento que fiquei sabendo que ia ser pai. Quanta felicidade eu senti. Embora também tenha me sentido um pouco ansioso, um pouco tenso, um pouco confuso, feliz novamente, alegre e ansioso mais um pouco, tive medo duas ou três vezes, e finalmente fiquei ansioso, tenso, feliz e medroso. Foi quando entrei em pânico. Depois me acalmei, e fiquei feliz novamente. E tenso e ansioso.

Fui correndo avisar a meus amigos. Descobri que muitos haviam subitamente se mudado. Resolvi pegar um filme na locadora, pra relaxar. A locadora havia mudado. Achei que fosse pirar.

Ou quase. Quanta melancolia, quanto apego ao passado. Acho que tenho vivido de forma leviana, contrária a minhas crenças. Ou não. Precisava pensar em como controlar meus pensamentos. Tive medo de perder o controle.

Mas então meu filho nasceu. E tudo ficou bem. Ou quase.

Já não me reconheço mais. Não sei mais quem eu sou. Não tenho mais nada ver com o que eu era 3 meses atrás; por não achar esse vínculo, não consigo me situar. Um paulista me falou no Ceará, com um inacreditável sotaque interiorano (pra quem estava longe de casa há 20 anos): "árvore que perde a raiz, seca e morre".

Precisava portanto me reencontrar comigo mesmo, com meus vários eus anteriores, colocar todo mundo numa sala pra conversar abertamente, restabelecer os vínculos, colocar o papo em dia, etc, para então poder continuar com meu presente.

Mas perder minha casa foi algo difícil de lidar.

Sempre fui muito caseiro, sempre gostei muito de ficar em casa, apesar de qualquer problema ou reclamação que tivesse. Ao me mudar, não consegui fazer a transferência, me perdi por não ter mais um lugar para me sentir em paz, calmo.

Contei na manhã de quinta-feira, 8 horas. Eu não consegui passar de 45 segundos sem que uma sinaleta de garagem tocasse. Cada sinaleta toca por entre 30 e 60 segundos. Fazendo uma aproximação esdrúxula, podemos dizer que das 7:30 às 9:30, as sinaletas tocam 50% do tempo, ou seja, o silêncio é quase uma exceção.

Sem contar o barulho do trânsito. Sem contar o barulho da academia e da casa de festas. Sem contar o barulho do restaurante argentino. Este é tão argentino que quando fecha ainda programa o alarme pra despertar 3 vezes por madrugada...

A vontade que tive na primeira noite que passei no novo apartamento foi ligar urgentemente pra imobiliária e o antigo proprietário e desfazer o negócio. A primeira semana foi um sofrimento inacabável. Não conseguia ficar parado em nenhum cômodo, passei noites em claro, evitava estar em casa, pegava o carro só pra sair dali.

Sempre tive medo de morar num lugar barulhento. Preciso agora aprender a conviver com isso. Sempre tive raiva quando via alguém jogar lixo no chão, preciso aprender a conviver com isso também. Motoristas avançando sinal, motos buzinando, cachorros sujando a rua... nada disso vai acabar. Nunca.

Eu lembro de uns anúncios de empresas de segurança e armamento que vi nos EUA, algo tipo "as guerras não estão indo a lugar nenhum e portanto nós também não". Acho que a idéia é mais ou menos essa. As pessoas irritantes deste mundo não estão com os dias contados. A violência não está prestes a acabar. Nem a injustiça. Nem a corrupção no Brasil. O Mundo não vai ser um dia, um lugar perfeito, sem medos, sem raivas, utópico. E eu, nos meus 30 anos, já devia ter aprendido isso.

Vivendo e aprendendo.


Eta nóis!

O Brasil não descobriu o Etanol, mas dominou o assunto, agora o mundo descobre o etanol brasileiro. Contudo, muitas dúvidas surgem ao longo desse caminho.

Como evitar que o plantio de cana acabe com a Amazônia?
Muito fácil, a própria incompetência brasileira. Afinal, nós mal conseguimos escoar a produção do litoral, que dirá a produção no meio da selva. A não ser que alguém nos venda um "canaoduto".

Como acabar com o trabalho escravo nas lavouras?
Com mais empresas plantando, com a melhora das vendas, a tendência é uma maior concorrência pela mão de obra. Alguns sugerem a substituição dos bóia-frias pelo trabalho forçado dos detentos, especialmente os presos por corrupção. Há quem sugira ainda que qualquer político que renuncie deva terminar seu mandato cortando cana.

Como evitar que o Brasil seja ameaçado por conta do "novo petróleo"?
É fácil, olhe nossa imensidão territorial e nossa população. Basta ninguém oferecer melhor futebol, melhor bebida e melhores mulheres. Pensando bem, um consórcio entre Itália, Escócia e Suécia poderia desestabilizar nossa nação!!