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Humor, crítica, crônica, comédia e sátira sobre o Rio de Janeiro, o Brasil e o Mundo |  Defendendo o humor inteligente do Capitalismo e do Aquecimento Global, antes que se torne brinde de pasta de dentes

quarta-feira, 31 de outubro de 2007



Capitão Brasil

E tantos anos depois de Macunaíma e João Grilo, o Brasil tem um novo herói nacional. Capitão Nascimento mostra aquilo que o mundo já sabe: não se faz uma omelete sem quebrar ovos. Não se faz um bolo sem quebrar ovos. Aliás, antes de mais nada é sempre bom quebrar uns ovos.

Se para combater a recessão nos EUA surgiu o Super-homem, pra chutar o traseiro do Hitler e saudar os Marines surgiu o Pato Donalds, e pra dar voz aos liberais e cutucar os Republicanos surgiram Os Simpsons, nosso Capitão surge pra finalmente homenagear os policiais cariocas, que diariamente colocam o peito na linha de tiro pra defender a segurança de nosso estado, além é claro de liberar a gente daquela multa mediante a cervejinha.

Contradições à parte, há muito tal Corporação merecia algo mais que um tapinha nas costas. Quando um traficante morre ou é preso ele fica famoso, vira até mártir pros funkeiros, pra OAB e pros Direitos dos Humanos. Quando um policial morre ele é nota de pé de página. E pra galera do status-quo, não fez mais que seu dever de garantir a segurança para que os advogados e juízes possam viver suas vidas tranquilos - e longe de tiroteio.

Nessa terra de muitos contrastes e pouco brilho, tem marginal querendo ser preso só pra realizar o sonho de andar de avião sem enfrentar fila de guichê. E tem classe média consumindo drogas pra aliviar a pressão: "Ah, nada a ver, as drogas sempre existiram". Ué, e quando a violência foi inventada??

É uma coisa que eu sempre digo: enquanto for difícil diferenciar castigo de recompensa, vai ser difícil escolher entre boas e más ações.

sábado, 20 de outubro de 2007



Fim de semana no shopping

Fui no fim de semana passado a um shopping da zona norte no Rio. Não posso dizer o nome, mas é aquele shopping que vira e mexe é metralhado de madrugada. Pois bem, lá fui com minha esposa, meu filho, meus irmãos, minha cunhada e meu sobrinho.

Almoçamos num botequim por lá. Não posso dizer o nome tampouco. Quer dizer, não posso é maneira de dizer, não quero. Não recebo pra isso. Se recebesse falaria em bom som: "Fui almoçar no Botequim Informal, nossa, que delícia o filé à milanesa". Mas se falasse isso de graça, porque haveria de ser pago um dia?

Dessa maneira, almocei num botequim qualquer, comi um file à milanesa normal. Bebi dois chopes regulares.

Ao fim do banquete, claro, café na mão (de uma determinada rede de lojas de café), meu sobrinho pediu para ir ao fliperama (eu sei, ninguém mais usa essa palavra) e nós é claro, atendemos.

O nível de estresse que já estava baixo, beirou -40° (tanto faz F ou C) enquanto disputava uma partida de Barcelona x Brasil, com direito a dois Ronaldinhos em campo.

Mas tudo que é bom, acaba. Resolvemos dar uma voltinha, quer dizer, uma volta (voltinha é o que a mulher faz pra gente analisar se aquela roupa deixou a bunda empinada) no shopping.

Pra resumir, a tarde de domingo num shopping do Rio, em três cenas.

O desastre começa durante a semana mesmo:

- Vai fazer o que Domingo?
- Ah, tava pensando em comprar uma casquinha no Mac e dar uma sentada no shopping...
- Ih, tem que chegar cedo lá então.

O terror não se limita aos jovens:
- Ih, deixa eu pegar o ônibus correndo, porque fulaninho já tá com a fralda toda cagada e eu vou lá no shopping trocar ele no fraldário.
- Aproveita e trás hipoglós num lencinho que o daqui já tá acabando.

Pra desestressar, minha mulher resolve fazer compras:
- Oi, gostei daquele jogo verde ali, quanto tá?
- Deixa eu confirmar... Trinta e nove e noventa.
- Beleza, vou levar.
- Só um instante... Humm, não tenho mais dele não.
- Bom, eu levo o que tá exposto mesmo. Faz um desconto.
- Ah, mas eu não posso vender... Regra da loja, não posso deixar de expor.
- Ué, a regra é não deixar de expor o produto que não tem pra vender??

Ufa, ainda bem que falta pouco pra segunda-feira agora.

quinta-feira, 11 de outubro de 2007



Gentileza não morreu em vão

Eram 9:30 da manhã de quarta na Tijuca. Parei ao sinal e organizava os pensamentos sobre o dia quando um carro passa com velocidade pela direita, cortando novamente para a esquerda e fechando a rua à minha frente. Me preparei pra ser assaltado, sina de brasileiro da paz que sou. Então percebi que o tiozinho no Corsa era só um carioca moderno, importante e dono da razão, como muitos se sentem nestes dias de guerra. Avançou o sinal, trancou a rua, bloqueou a faixa de pedestres e ficou lá, até que o sinal abriu; ainda empacou o trânsito de quem havia respeitado a sinalização. Dobrou à esquerda e seguiu devagar, mostrando que a pressa era só balela, porque ficou pra trás ao longo de um trecho de 100 metros...

Mais um cidadão de bem, abandonando suas crenças e caminhando em direção à Violência. Não só desrespeitou à lei, como também aos pedestres e aos outros motoristas. Era uma manhã de quarta, senhoras faziam suas caminhadas matinais, donas de casas iam às compras, adolescentes corriam atrasados à escola. Pontos de ônibus estavam cheios, trânsito complicado. Mas o tiozinho daquele Corsa era mais importante que os outros oito ou dez carros que estavam parados no sinal. Ele não podia parar. Não podia ficar pra trás.

Mais uma pequena tragédia para nosso cotidiano. A repetição que transforma o erro primeiro em banalidade, depois em comportamento padrão. Talvez uma ultrapassagem pela direita seguida de avanço de sinal e bloqueio de faixa de pedestres não seja como aquele pequeno assalto a carro que culmina em morte, mas não deixa de ser uma derrota na nossa eterna luta por um mundo mais amistoso.

Foi uma tragédia que indicou o caminho a José Datrino, que a partir daí adotou o nome de Profeta Gentileza, como é mais conhecido:

http://pt.wikipedia.org/wiki/José_Datrino

Em algum momento esquecemos de suas palavras simples e justas. É duro enfrentar a situação atual da cidade sem contar com a sua sabedoria.